Boa tarde pessoal,
Até agora conversamos sobre a Farmacocinética, que de uma forma simples nos conta o que nosso organismo faz com o fármaco. Agora, vamos começar a entender o que o fármaco faz no nosso organismo (sua atividade farmacológica) e como ele faz (mecanismo de ação).
A Farmacodinâmica estuda os efeitos fisiológicos e bioquímicos dos fármacos e os mecanismos de ação dos fármacos em nosso organismo.
Colocando de uma forma bem simples, a Farmacodinâmica estuda o que um determinado fármaco causa em nosso organismo (atividade) e como ele faz isso (mecanismo de ação).
O primeiro conceito que precisamos entender para começar a jornada da Farmacodinâmica é o conceito de Receptor. Para não esquecer mais: sem receptor não existe ação!
Ou seja, assim como algumas moléculas endógenas (como hormônios e neurotransmissores), os fármacos só conseguem gerar uma resposta na célula se existir um receptor para intermediar a comunicação. Costumo brincar com meus alunos que o fármaco fala uma língua que a célula não entende, então o receptor atua como um tradutor.
Nós vamos falar mais sobre receptores na segunda parte da Farmacodinâmica. Agora, precisamos entender que a ação do fármaco começa a acontecer quando o mesmo se liga ao receptor, o que resulta no famoso Complexo Fármaco-Receptor.
Essa ligação é bem específica, e por isso é conhecida como chave-fechadura, porque da mesma forma que só a chave correta destranca a porta da sua casa, só a molécula correta consegue ativar o receptor e transmitir sua mensagem:
Essa figura simples expressa bem essa ideia. Outra figura que acho bem didática para visualizarmos esse conceito é:
Após apresentar esse conceito inicial para tentarmos visualizar a formação do complexo fármaco-receptor, alguns alunos me perguntam se o receptor existe para o fármaco, e a resposta é não. As células possuem receptores pois precisam entender a mensagem que as moléculas endógenas passam na sinalização e comunicação celular.
Até agora tudo tranquilo, e as funções dos receptores?
Se ligar ao fármaco (acoplamento) e transmitir (traduzir) seu sinal regulador (sua mensagem) para a célula.
Essas duas funções implicam que o receptor tenha pelo menos dois domínios estruturais, um de ligação e um de sinalização.
Observe a figura abaixo, que mostra de uma forma simplifica o conceito de formação do complexo fármaco-receptor:
Quanto mais conhecemos sobre a estrutura de um receptor, maior o nosso poder sobre o desenvolvimento de fármacos cada vez mais seletivos a um determinado receptor, garantindo que em algum momento futuro consigamos utilizar fármacos em pequenas doses, obter uma resposta farmacológica adequada e ainda com um menor risco de efeitos tóxicos (lembrem-se, "a dose faz o veneno").
Então, o conhecimento e o estudo dos receptores tem consequências práticas importantes para o desenvolvimento de novos fármacos e para a tomada de decisões clínicas. Podemos dividir essas consequências em três tópicos principais (diretamente relacionados entre si):
1. Os receptores determinam largamente as relações quantitativas entre dose/concentração do fármaco e efeitos farmacológicos - ou seja, a afinidade entre o fármaco e o receptor define a concentração do fármaco que será necessária para formar um número suficiente de complexos fármaco-receptor para gerar uma resposta farmacológica adequada.
Aqui podemos utilizar a Curva de Dose e Resposta para entender essa relação. A curva dose resposta é um gráfico simples que leva no eixo X a dose do fármaco e no eixo Y a porcentagem de efeito do mesmo. Como podemos ver na figura, ela é utilizada normalmente para comparar a potência de dois fármaco:
No exemplo acima, qual dos dois fármacos é mais potente?
O fármaco A, representado pela linha azul. Porque ele apresenta uma resposta maior em uma dose menor. O que é ótimo se considerarmos que quanto maiores as doses administradas e consequentemente a concentração de um fármaco em nosso organismo, maiores as chances de aparecer os efeitos adversos.
Para fechar esse tópico 1, a clássica figura mostrando a curva dose-resposta de um fármaco em sua concentração e na sua concentração em uma função logarítmica:
2. Os receptores são responsáveis pela seletividade da ação do fármaco - ou seja, o tamanho, o formato e a carga elétrica da molécula do fármaco determinam se ele vai se ligar a um receptor em particular e com que afinidade isso acontece.
Esse ponto é muito importante pois devemos lembrar da Fisiologia que existem receptores e sítios de ligação em todas as nossas células, em todos os nossos tecidos e órgãos. Tem receptor para todo lado em nosso corpo. Assim, quanto mais seletiva for a molécula do fármaco a um receptor específico, maiores as chances dele não sair se ligando e causando efeitos colaterais nos mais diversos sistemas do nosso organismo.
O conceito de afinidade entre o fármaco e o receptor pode ser visualizado na figura abaixo:
3. Os receptores medeiam as ações de agonistas e antagonistas farmacológicos - aqui entram dois conceitos que costumam confundir a cabeça dos estudantes: Agonista e Antagonista.
Vamos, antes de começar a discutir os termos, analisar a figura a seguir:
As duas figuras são muito didáticas e nos mostram que os fármacos que se ligam ao receptor e o ativa, da mesma forma que o ligante endógeno, é chamado de Agonista. Então, o Agonista é aquele que ativa o receptor, gerando uma resposta (que, como mostra a figura, tende a ser maior que a resposta do ligante endógeno na célula).
Já o Antagonista, por sua vez, é o fármaco que se liga ao receptor mas não o ativa. E, além disso, ele não permite que o composto endógeno se liga e ative, funcionando como uma tampa (muito bem representado na última porção da figura).
Acredito que tenham conseguido entender o conceito de Agonista e Antagonista, mas podemos utilizar mais uma figura para reforçar:
Ainda falando dos Agonistas, eles podem ser divididos em Agonistas Totais (ou Plenos) e Agonistas Parciais. Os Agonistas Totais possuem maior afinidade pelo receptor, formando um maior número de complexos fármaco-receptor e, consequentemente, apresentando um efeito farmacológico maior. Enquanto os Agonistas Parciais possuem uma menor afinidade, formando um menor número de complexos fármaco-receptor, não conseguindo atingir 100% de efeito farmacológico.
Quando existe competição entre o Antagonista e o Agonista, se aumentarmos a concentração do Agonista, existe a possibilidade dele atingir seu efeito máximo. Pensem comigo, se aumenta o número de moléculas do agonista e do antagonista não, em algum momentos os Agonistas vão dominar o maior número de receptores e conseguir atingir sua atividade máxima. Isso é mostrado na curva do meio no gráfico acima.
É o que mostra esta última figura da nossa matéria ao comparar um inibidor (que chamamos de Antagonista) competitivo a um Alostérico não competitivo.
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