domingo, 7 de abril de 2019

O cérebro social e os neurônios-espelho.

Boa noite pessoal, 
essa matéria é continuação da matéria onde apresentei uma das obras do neurocientista Daniel Goleman, sobre o cérebro criativo:


Hoje vou falar um pouco sobre o cérebro social, baseado no capítulo de mesmo nome do livro O cérebro e a inteligência emocional - novas perspectivas.

O doutor Daniel Siegel, da Universidade da Califórnia, chamou de Mindsight ou "Visão da Mente" a capacidade que nossa mente tem de ver a si mesma. Suas pesquisas na área mostraram que o circuito cerebral que utilizamos para o autodomínio e para conhecermos a nós próprios é idêntico ao que utilizamos para conhecer outras pessoas.


Ou seja, nossa consciência da realidade interna de outra pessoa e da nossa são ambos atos de empatia!

O cérebro social é uma descoberta recente da neurociência e inclui grande número de circuitos, todos projetados para nos harmonizarmos e interagirmos com o cérebro de outra pessoa. 

A grande diferença a nível de estudo do cérebro, aqui, é que antes da descoberta do cérebro social os cientistas sempre estudaram o cérebro de uma pessoa sozinha. Com técnicas mais recentes, os cientistas passaram a estudar o cérebro de duas pessoas ao mesmo tempo, enquanto interagiam (enquanto conversam, por exemplo). Isso gerou um enorme número de novas descobertas.

Uma descoberta essencial dessas novas técnicas foram os neurônios-espelho, que, segundo Daniel Goleman, atuam como um "wi-fi" neural para se conectarem com outro cérebro.

Mas Bruno, o que são neurônios espelhos?

Para entendermos o que são, vou contar uma história para vocês: alguns neurocientistas estudavam o córtex motor de macacos na Itália (córtex motor é a região do cérebro responsável por nossos movimentos). Eles estavam analisando os neurônios um a um, e notaram que alguns só se iluminavam (eram ativados) em funções específicas. Em um exemplo mais fácil, descobriram um neurônio que só era ativado quando o macaco levantava o braço. Um dia, enquanto estudavam o cérebro do macaco em questão, notaram que esse neurônio estava ativo, mesmo sem o macaco levantar o braço. Aqui veio a primeira grande revelação dos neurônios espelho:
Os cientistas notaram que um dos assistentes do laboratório estava chupando um sorvete e toda vez que ele levantava o braço para levar o sorvete à boca o neurônio do macaco, responsável por levantar seu braço, também ficava ativo, mesmo sem o macaco fazer o movimento.

A partir dessa descoberta e de inúmeras outras pesquisas, os cientistas descobriram que o cérebro humano é recheado de neurônios-espelho, e que eles ativam em nós exatamente o que vemos na outra pessoa: suas emoções, seus movimentos e até suas intenções. 

Olhem com atenção a figura a baixo para entender a importância desses neurônios-espelho no aprendizado e em diversas situações em nossa vida.


Ao observar a imagem, temos claro uma coisa que muitos pais ainda não perceberam: as crianças aprendem principalmente com nossos gestos e atitudes, o que mai ensina é o Exemplo! 

Para exemplificar, vou contar uma história que presenciei: ao visitar a casa de grandes amigos da minha família na cidade de Ribeirão Preto, estávamos brincando com o filho desses amigos (na época, uma criança de 1 ano e alguns meses). Durante a brincadeira, a bola da criança caiu em baixo de um móvel. Meu pai pegou a vassoura de brinquedo e puxou a bola de volta para perto da criança. No mesmo instante, a criança jogou a bola em baixo do móvel novamente e utilizou a vassoura para pegá-la. Pronto, aprendeu uma técnica só de observar um adulto fazê-la. Quem são os grandes responsáveis? Sim, os neurônios-espelho.

Como muitos dizem por ai, as crianças aprendem como se fossem uma esponja, observando e absorvendo tudo que fazemos próximo delas.


Essa descoberta também pode explicar o porque das emoções serem contagiosas. A psicologia já sabe disso a muitas décadas, mas não sabia até então o porque, ou melhor, como isso acontecia.

Hoje, sabe-se que ocorre devido aos neurônios-espelho e a uma região do nosso cérebro que recebe o nome de Ínsula, responsável por mapear as sensações através do corpo. Juntos, formam um mecanismo de conexão cérebro-cérebro, um canal de conexão que indica que há uma informação emocional em qualquer uma das nossas interações, e que isso é extremamente importante para entendermos o que está acontecendo.

Isso é muito importante para nossa empatia, mostrando que constantemente estamos impactando os estados cerebrais de outras pessoas. Pensando dessa forma, a capacidade que temos de gerar ou manter um relacionamento está diretamente ligada com nossa capacidade em gerenciar estados cerebrais em outras pessoas.

Isso trás outra questão a tona, quem emite as emoções e quem as recebe? Quando falamos de pares de pessoas, quem emite, normalmente, é a pessoa mais emocionalmente expressiva. 
Quando falamos de um grupo de pessoas, quem emite emoções é quem tem mais poder entre o grupo, como um professor dentro de uma sala de aula, o líder em uma empresa.

Pesquisas mostraram repetidamente que se o líder de uma equipe está com um humor positivo o rendimento da equipe aumenta, ou seja, a positividade do líder influencia positivamente no desempenho do grupo. E o contrário também é verdade, e por isso que empresas com líderes ou chefes que são negativos, desonestos, arrogantes, dentre outras características ruins, normalmente possuem uma equipe menos motivada e com desempenho pior.

O contágio emocional, então, acontece sempre que as pessoas interagem, seja em dupla, grupo ou organização. Além disso, o contágio emocional de pessoa para pessoa ocorre automaticamente, instantaneamente, inconscientemente e fora de nosso controle intencional. 

Para encerrarmos essa matéria, cientistas definiram que existem três ingredientes para a empatia:

  1. O primeiro é prestar atenção. Em uma conexão real, ambas as pessoas precisam se sintonizar plenamente, ou seja, nada de celular, nada de distrações.
  2. O segundo é estar não verbalmente em sincronia. Se duas pessoas estão realmente se conectando bem, se você observar essa interação sem prestar atenção no que estão falando, você veria que seus movimentos seriam quase que coreografados, como uma dança. Essa sincronia ocorre devido a um outro grupo de neurônios, conhecidos como osciladores, cuja função é regular como nosso corpo se move em relação a outro (ou a qualquer objeto).
  3. O terceiro ingrediente da empatia é o sentimento positivo. É um momento de química interpessoal (entre essas pessoas), momentos agradáveis, independente do que estão fazendo juntas (Artigo da Harvard Business Review chama de "momento humano").

Quando a sua fisiologia está em sincronia com alguém, você se sente conectado, íntimo e confortável. Se deixarmos a fisiologia de lado e prestarmos atenção apenas na experiência, esses momentos são aqueles onde nos sentimos bem por estarmos com a outra pessoa. E essa pessoa está se sentindo bem por estar conosco.

Sabendo agora da existência do cérebro social e de como ele tem poder sobre nossa forma de nos relacionarmos com as outras pessoas, que tal começarmos a utilizar isso de uma maneira melhor? Fortalecendo e enriquecendo nossas relações, seja na escola, no trabalho, no casamento...

Obrigado.

2 comentários:

  1. olha professor eu fiz psico neurologia, lendo esse material tudo fico mais evidente sobre as funções sociais,tais como estímulos positivos e motivacionais. Excelente explicação

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    1. Que legal, obrigado pelo retorno!
      Quando conseguimos conectar as disciplinas elas se tornam muito mais interessantes.

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