Boa noite pessoal,
as próximas três matérias do blog serão sobre sono e sonhos, vamos falar sobre a neurociência e a fisiologia por trás desses eventos diários. A última (terceira), vou falar sobre alguns distúrbios, como a insônia, o sonambulismo, a narcolepsia e a paralisia do sono.
Comecem reparando na figura a baixo:
Quando falamos em ciclos, um dos primeiros que vem a nossa cabeça são os ciclos do nosso planeta Terra. De longe, o mais evidente e que ocorre todos os dias é o ciclo claro e escuro (dia e noite). Ciclo esse que resulta da rotação da Terra em volta do seu próprio eixo.
Esses ciclos diários de claro e escuro recebem um nome específico, Ritmos Circadianos, e toda a fisiologia do nosso corpo e cérebro (e de todos os outros animais existentes) é regulada de acordo com esses ciclos diários. Por que? Porque para sobreviver um animal precisa estar adaptado ao meio ambiente em que vive.
A partir dessa primeira observação, qual o ciclo mais evidente do nosso encéfalo para essa adaptação? O ciclo sono-vigília, dois estados completamente diferentes que passamos todos os dias.
Mas afinal Bruno, o que é o sono?
Fisiologicamente falando, o sono é um estado de reduzida responsividade (ou interação) com o meio ambiente. Além disso, ele é facilmente reversível.
Mas vamos traduzir o parágrafo a cima: o sono é um estado onde nosso encéfalo diminui a sensibilidade, ou seja, diminui a quantidade de informações que chegam do meio ambiente até ele. É por isso que não acordamos com pequenos barulhos, com pequenas variações de temperatura. Estamos mais "desligados" do mundo que nos cerca.
O sono é um tema que gera dúvidas a milhares de anos, sempre envolto por muitos mistérios, muitas crenças e até muito misticismo, principalmente quando falamos sobre os sonhos.
Os questionamentos sobre o por que dormimos e para que dormimos datam de 350 aC, com Aristóteles. Porém, respostas adequadas e cientificamente embasadas para esse pergunta puderam surgir apenas a partir de 1924, com o invento de um aparelho que hoje conhecemos como eletroencefalograma.
Esse aparelho, o eletroencefalograma (EEG) consegue registrar, através de eletrodos colocados em nossa cabeça, a atividade elétrica do nosso cérebro. Permitindo assim, visualizarmos a atividade generalizada do córtex cerebral. Notem como ele funciona nas figuras a baixo:
Notem, nessa primeira figura, que para "ler" a atividade do neurônio, o eletrodo precisa que essa informação ultrapasse diversas barreiras, sendo a mais notável nosso crânio. Então, essas ondas cerebrais que saem no registo, mostradas na figura a baixo, são na verdade resultado da ação de diversos neurônios em conjunto.
Estudando o funcionamento do cérebro humano por meio do EEG, cientistas descobriram que a atividade elétrica do cérebro varia de acordo com a atividade que estamos realizando e até mesmo de acordo com nossos comportamentos e humores. Essas alterações receberam o nome de Ritmos Encefálicos, dizendo apenas que o ritmo de disparo dos nossos neurônios e de nossas regiões encefálicas variam de acordo com nossa atividade.
Como exemplo de variações, podemos citar quando estamos focados lendo alguma coisa, quando estamos dormindo, quando estamos acordados mas descansando. Observem a figura a baixo, mostrando variação nas ondas cerebrais:
Agora, observem uma figura com as variações de onda de ondas cerebrais em um adulto sem nenhum problema neurológico:
Os estudos com EEG continuaram, até que o cientista mostrado na próxima figura (Nathaniel Kleitman) descobriu que o sono tinha alguns estágios, onde em cada estágio o encéfalo funcionava de uma forma diferente.
A partir dessa descoberta, nosso sono passou a ser dividido em Sono Não-REM e sono REM.
Antes de prosseguirmos nessa discussão, gosto de frisas que REM vem é uma sigla para as palavras em inglês que significam rápido movimento dos olhos. Ou seja, uma das etapas do nosso sono é marcada, dentre outras características, por um movimento rápido dos nossos olhos.
A divisão é a seguinte:
Dois estágios principais: o sono Não-REM e o sono REM.
E o sono não-REM ainda é divido em quatro estágios, 1, 2, 3 e 4.
Em um gráfico típico, fica conforme a figura a baixo:
Reparem na figura a cima, primeiro, ela deixa claro que durante a noite passamos diversas vezes por todas as etapas citadas acima. Começamos entrando no sono no estágio 1 do sono não-REM, esse sono vai se aprofundando e chegamos no estágio 4 do sono não-REM, o sono mais profundo que temos durante a noite. Em seguida, começa um sono mais agitado, a etapa REM. Reparem na porção inferior da figura, que o movimento dos olhos acontece somente nas fases REM do sono.
Consideramos um ciclo de sono como a passagem por todas essas etapas, o que dura, normalmente, entre 90 e 120 minutos.
Para encerrarmos essa primeira parte da matéria de sono e sonhos, vamos falar as principais características do sono Não-REM e do sono REM:
- Sono Não-REM: É o período onde realmente repousamos, período do sono em que descansamos, física e mentalmente. A tensão muscular e a resposta ao meio ambiente vai diminuindo conforme vamos saindo da etapa 1 e avançando em direção a etapa 4. O corpo é capaz de alguns movimentos, mas eles são raros e normalmente ocorrem na forma de espasmos (como quando damos chutes ou aqueles tremeliques logo após pegar no sono). Nessa fase do sono, a temperatura corporal e a frequência respiratória diminuem, e temos o cérebro consumindo a menor quantidade de glicose e os neurônios no menor nível de disparo de todo o dia. Aqui, quem controla o sono é a porção do nosso sistema nervoso conhecida como Parassimpático.
- Sono REM: para se ter uma ideia do tamanho da diferença entre esses dois estágios, o sono REM é definido como: "um encéfalo ativo e alucinado em um corpo paralisado". Nessa etapa do sono, temos o encéfalo com um grande nível de atividade, bem próximo do nível de atividade de quando estamos acordados. Na verdade, alguns cientistas falam que nesse estágio do sono o cérebro está mais ativo do que quando realizamos uma prova ou algum desafio intelectual. A porção do sistema nervoso que controla esse estágio é a que recebe o nome de Sistema Nervoso Simpático, e o consumo de oxigênio e glicose do encéfalo chega a níveis elevadíssimos.
O sono REM também é o sono em que sonhamos. Sonhamos com coisas fantásticas, bizarras, muitas vezes sem nexo. Aquele tipo de sonho que gostamos de lembrar e contar para as pessoas. Por ser a porção do sono que mais sonhamos e também a mais fantasiosa e ativa, nosso corpo desenvolveu um sistema de segurança, chamado de Atonia do REM, que nada mais é do que uma paralisia do nosso músculo esquelético, responsável pelos nossos movimentos voluntários. Conseguem imaginar o por que? Porque não podemos nos dar ao luxo de sairmos correndo devido a algum pesadelo, por exemplo. Puro mecanismo de sobrevivência.
Observem a figura a baixo, que mostra uma imagem do funcionamento do cérebro tanto no sono Não-REM quanto no sono REM. Reparem que as cores mais quentes, amarelo, vermelho e laranja, indicam maior atividade:
Como dito no começo da matéria, muitas alterações ocorrem em nosso encéfalo enquanto estamos dormindo. Essas alterações também ocorrem em toda a nossa fisiologia, seja alterando a temperatura corporal, diminuindo e elevando a frequência cardíaca e consequentemente nossa pressão arterial, até a secreção de hormônio (como o GH ou hormônio do crescimento, que tem seu pico de secreção durante o sono), como observado na figura seguinte:
Para encerrarmos, uma tabela que explica as principais diferenças entre os três estados funcionais do nosso encéfalo: vigília, sono não-REM e sono REM:
Essa primeira parte das matérias sobre sono e sonhos termina aqui, espero que tenham gostado e logo logo disponibilizo as outras!
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