domingo, 28 de abril de 2019

Como funciona nossa Atenção? E nossa Consciência?

Bom dia pessoal,
vamos entender mais algumas características excepcionais do nosso cérebro? Hoje vamos falar sobre os mecanismos neurais que envolvem nossa atenção e nossa consciência.

Costumo começar minhas aulas sobre mecanismos neurais da atenção e da consciência com a seguinte imagem e com um exemplo:

Imaginem a cena: vocês na beira do mar, tranquilos, tomando uma cervejinha, sem nem lembrar de contas ou qualquer estresse. De repente, surge a barbatana de um tubarão a 50 metros de vocês. Você sai dos seus pensamentos e focaliza o objeto estranho, seu coração acelera e você fica pronta para correr ou para lutar. Quando observa com mais atenção o momento, nota que é uma criança brincando com uma barbatana de mentira. Pronto, seu corpo começa se acalmar e você da risada do acontecido.

Esse exemplo simples mostra três estados funcionais do nosso encéfalo, pelo qual passamos diversas vezes durante o dia:
  1. O cérebro em repouso;
  2. Atenção;
  3. Consciência

Todos os dias, milhares de informações chegam ao nosso cérebro para serem interpretadas, por meio dos nossos sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar). Mas pensem bem, vocês lembram de ter sentido todos eles? Não, porque nosso cérebro consegue filtrá-los, ou seja, ele "percebe" apenas os mais importantes ou os mais marcantes. Ou seja, ele percebe apenas os que chamam nossa atenção.

Primeiro: nosso cérebro em repouso. O que acontece no nosso cérebro quando não estamos fazendo nada?

Hoje, graças a tecnologia de imagem, sabemos que nosso encéfalo, quando estamos descansando ou relaxando, tem algumas áreas bem quietinhas e outras com grande atividade.

As áreas encefálicas que apresentam maior atividade durante o repouso são, principalmente o hipocampo e o córtex pré-frontal medial, além de algumas outras. Mas espera. O que você normalmente fica fazendo quando está descansando? Pensando, imaginando histórias futuras, ou lembrando de coisas do passado, certo? Pronto, hipocampo relacionado à memória e a formação de memórias. Córtex pré-frontal relacionado com nossa tomada de decisões. Você não escolhe o que vai pensar? As duas ficam mais ativas. Além disso, áreas motoras e sensitivas primárias não apresentam atividade. Por que? Porque não estamos engajados em tarefa específica nenhuma.

Mas, tudo isso recebe um nome, e o circuito formado pelas áreas mais ativas durante o nosso repouso ou relaxamento é chamado de Rede Neural de Modo Padrão. Uma figura mostrando a rede neural de modo padrão pode ser vista a baixo, retirada do livro de Neurociências do Beer:

Mas qual a função dessa atividade durante o repouso?
Alguns cientistas dizem que é a Cognição espontânea, um estado pré-atento do nosso cérebro que nos permite pensar e reagir rapidamente, além de permitir que imaginemos e construímos histórias em nossa fértil cabeça (devaneios).

Duas teorias tentam explicar o nosso encéfalo em repouso. Uma chamada de a Teoria do Sentinela, diz que nosso cérebro, mesmo não estando focado em algum lugar específico, é capaz de enxergar/perceber tudo a nossa volta (pensem quando isso foi desenvolvido, entre os homens das cavernas, a necessidade de estar sempre atento), seria por causa dela também, que enxergamos de "rabo de olho". A segunda teoria, chamada Mentalismo (ou Hipótese da Atividade Mental Interna), diz que nosso cérebro tem as áreas ativadas, ou a rede neural de modo padrão, para conseguirmos gerar pensamentos e respostas rapidamente, caso seja necessário ou caso desejamos o fazer.

Hoje, sabemos, que ambos estão corretas, e que nosso encéfalo é capaz de fazer as duas ao mesmo tempo, ou, pelo menos, alternar entre as duas. O que sabemos também é que quando necessário, ele sai da rede neural de modo padrão para entrar num estado bem conhecido, o de atenção.

Segundo: Atenção.

Definindo de forma bem simples, atenção é a nossa capacidade de focalizar (foco seletivo) em determinado aspecto das entradas sensoriais.

Quer um exemplo bem didático: o que falamos lá em cima, de estar na praia. Na hora em que notamos a presença de um objeto estranho na água, saímos da rede neural de modo padrão e entramos em um estado de alerta, focalizando nossa visão e nossa atenção na barbatana.

Sabe o que a atenção faz no seu cérebro? Ela deixa as áreas que estamos utilizando na tarefa em questão mais ativas, e as regiões que não estamos utilizando um pouco menos ativa. Então, em resposta a necessidades comportamentais, nosso encéfalo deixa mais ativa as regiões relacionadas a esse comportamento e menos ativas as que não estão sendo tão utilizadas.

Um exemplo para entender:


Como você consegue prestar atenção no que está lendo em meio ao barulho? Ou como sempre brinco com meus alunos, como vocês conseguem estudar para a prova na cantina, 15 minutos antes dela começar?
De acordo com o que falamos ali em cima, o cérebro é capaz de deixar mais ativas as regiões relacionadas à visão, ou seja, nosso complexo córtex visual, e menos ativas as regiões relacionadas à audição, nosso córtex auditivo.

Alguns cientistas consideram a nossa atenção como um afunilamento do processamento visual, ou seja, focamos em algo específico. É só notar como você "esquece" do mundo a volta quando olha seu celular, e assim, perceber porque tantas campanhas pedindo para você não mexer no celular enquanto dirige. Esse afunilamento visual é ótimo para nossa sobrevivência, só que, a 110 km/hora, esses três a quatro segundos focados no celular pode custar sua vida e a vida de pessoas que não estão cometendo uma infração.

Reparem na figura seguinte, para testar esse afunilamento visual:

Olhou? Agora fale a verdade: você notou, como todo mundo, o homem pintado de verde logo de cara. E também, ou demorou para notar que são pessoas pintadas de vermelho em baixo dele, ou nem viu essas pessoas. Acontece com a maior parte dos alunos que mostrei.

Para finalizarmos o assunto atenção, precisamos saber que para a neurociência existem duas formas de atenção: uma exógena (de fora para dentro) e uma endógena (de dentro para fora).

  • Endógena: também conhecida como de cima para baixo. É quando decidimos procurar alguma coisa, como uma citação em um livro ou a chave da casa. Existe um componente cognitivo, decidimos ficar atentos a algo. Aqui, temos uma tomada de decisão no córtex pré-frontal sendo enviada para o córtex visual e para as regiões motoras necessárias para nos movermos em busca da chave.
  • Exógena: ou de baixo para cima, é quando algo no ambiente chama a nossa atenção. Como o exemplo da barbatana, uma luz piscando ou um barulho estranho. Esse tipo de atenção não exige nenhuma cognição, é espontâneo. Aqui, primeiro as regiões visuais ou auditivas são ativadas, e depois essa informação chega ao córtex pré-frontal para uma tomada de decisão.

Mas, no exemplo da barbatana, o que nos fez perceber que não era um perigo? Ter tomado consciência da situação.

Terceiro: Consciência.

Primeiro, definição: consciência, para a neurociência, é a capacidade de estar alerta e interagir com o meio ambiente e com as pessoas, possuindo pleno controle das funções cognitivas. É a percepção consciente de algo.

Mas, consciência é uma coisa muito difícil de se estudar. E sabe por que? Porque envolve experiência, e apesar das novas técnicas de imagem considerem mostrar quais regiões do encéfalo estão ativas, como vamos repetir uma experiência? Não sentimos o gosto da mesma forma, não enxergamos as coisas da mesma forma, não interpretamos uma frase da mesma forma. Sabe por que? Nossas percepções estão atrelados às nossas  experiências de vida, e como sabemos, cada um passa por episódios distintos e se desenvolve de uma maneira distinta. Assim, concluímos que repetir experiências e sensações se torna impossível, tanto em animais quanto em humanos.

Ainda, para esquentar essa discussão, os neurocientistas dizem que a consciência, nossa mente, e tudo o que deriva da nossa capacidade cognitiva deriva de processos químicos e físicos do nosso cérebro. Ou seja, é tudo fruto da nossa cabeça. 
Outra forma de enxergar isso, é chamada de dualista, onde se encaixam as pessoas que não acreditam que tudo de mais fantástico que criamos na nossa cabeça seja fruto exclusivo do nosso cérebro, que existe alguma outra força, quer você acredite que seja divina, um espírito, ou o que for, que complementa as atividades do nosso cérebro.

Qual está certa? Quem sou eu para falar isso. Não tem resposta correta, encontre ela no seu coração, na sua fé, nas suas crenças.

O importante é sabermos que quando prestamos atenção em alguma coisa e focalizamos nela, nos tornamos conscientes. E isso é importante porque quando estamos atentos e conscientes, permitimos ao nosso cérebro formar Memórias.

Então, Atenção permite a geração de consciência e os dois juntos são um ótimo caminho para a formação das nossas memórias.

Aliás, memórias são o próxima tema das nossas aulas de Psicobiologia e Psiconeurologia. Junto com as formas de aprendizado.

Espero que tenham gostado.

2 comentários: