terça-feira, 5 de novembro de 2019

Sistema Límbico

Boa tarde pessoal,
continuando nossos estudos sobre Neurociências, hoje vamos falar de uma região curiosa do nosso cérebro, cujos componentes possuem funções muito importantes, como a memória, o aprendizado, agressividade, dentre outras. 

É o chamado Sistema Límbico. 

O Sistema Límbico é a única área do encéfalo que recebe informações hipotalâmicas maiores e propicia interconexão com áreas corticais dispersas. Ou seja, o sistema límbico permite a conexão entre diversas regiões do nosso córtex cerebral com o Tálamo e Hipotálamo, permitindo a conexão de porções cerebrais com funções e características completamente distintas.

As principais estruturas límbicas são:

  • Giro do Cíngulo;
  • Giro Para-hipocampal;
  • Hipocampo;
  • Amígdala;
  • Tálamo (núcleos anteriores);
  • Hipotálamo;
  • Área Septal.

Dependendo do livro que você pegar para estudar ou do material que pegar para ler, algumas áreas podem ser acrescentadas ou não aos componentes do sistema límbico, como o Corpo Caloso.

Os diversos papéis do sistema límbico incluem a memória, nossos impulsos, o afeto, o tônus autonômico, controle endócrino e a imunorregulação.

Vamos dar ênfase, nesta discussão, à Amígdala e ao Hipocampo e suas funções. Além disso, descreveremos a relação do Córtex Pré-frontal com o Sistema Límbico, uma região do nosso cérebro responsável, por exemplo, por conseguirmos realizar tarefas buscando atingir um objeto específico, relacionada com nossa concentração, com nosso capacidade de foco, dentre diversos outros aspectos.

- Amígdala:

A amígdala está conectada extensivamente ao hipotálamo e a outras estruturas límbicas.  Recebe informações de regiões corticais sensitivas dispersas e também de estruturas para-límbicas (como o córtex piriforme).

A Amígdala tem um papel crucial para a canalização de impulsos e afetos.




Uma pesquisa muito interessante, feita com macacos, ajudou a elucidar algumas funções da Amígdala, pois mostrou que se a amígdala está lesada, os macacos não respondem a estímulos ameaçadores. 

Estes macacos tinham a amígdala direita (relacionada ao olho direito) lesada e a amígdala esquerda (a o outro olho) intacta. Quando um cobra era mostrada via olho que mandava a informação para a amígdala lesada, o animal não respondia com medo ou agressividade, tentava pegar a cobra e colocar na boca. Quando a informação visual chegava na amígdala intacta, o animal respondia com medo e agressividade.

Essas características são observadas na Síndrome de Kluver-Bucy, onde a amígdala é desconectada da informação sensorial cortical e o paciente ou animal apresentam os seguintes sintomas:


  • Comportamento Sexual Indevido (objetos ao redor);
  • Sem reação de luta ou fuga a ameaças;
  • Problema de identificação de objetos conhecidos e não conhecidos (como o que pode ou não comer).
  • Domesticação de animais selvagens.

"A amígdala canaliza a resposta emocional apropriada para alvos sensitivos, ao mesmo tempo que em que tem um papel importante na interpretação e manifestação de gestos afetivos, incluindo a vocalização".  Trecho retirado do livro Coleções de Ilustrações Médicas do Netter (volume 7, parte 1).

A amígdala também possui papel na experiência das emoções fortes, incluindo medo, raiva e também experiências de familiaridade. É ela quem concede o tom afetivo da experiência pessoal que reflete a história de uma pessoa, seu estado interno atual e características da sua experiência mental atual. Ou seja, é a Amígdala que ajuda na criação de nossas respostas frente a interações sociais, frente a desavenças...

Algumas patologias podem atuar nestes processos, fazendo com que determinado processo mental seja distorcido (para mais ou para menos), mudando assim o significado exato de toda a experiência. Como exemplos podemos citar os Ataques de Pânico, estados dissociativos e casos de depressão.

A amígdala influencia na formação de memórias de longo prazo no hipocampo, pois, quanto maior a carga emocional da experiência vivida, mais ativa fica a Amígdala, enviando mais informações para o hipocampo, assim, maiores as chances dessa memória ser convertida em uma memória de longo prazo. Aquele tipo de memória forte, frequentemente lembradas e trazem consigo sensações corporais. São por exemplo os tipos de memórias advindas de um trauma na infância, que acompanha a pessoa por décadas, gerando ansiedade e outros transtornos.

Outros papéis importantes da amígdala incluem regulação das funções autonômicas (sistema vegetativo do nosso corpo), das funções endócrinas (hormônios) e imunológicas.

- Hipocampo:

O hipocampo recebe a maior parte de suas informações de áreas para-límbicas, que recebem informações de áreas sensitivas corticais. Outras aferências incluem o hipotálamo, a amígdala e a área septal.





Observem na segunda imagem como um hipocampo dissecado lembra o formato de um cavalo marinho.

O principal papel do Hipocampo é a memória e a aprendizagem. Junto com o giro para-hipocampal, são responsáveis pela formação de novas memórias (processo de memorização) ao invés de armazenamento de memórias, como se acreditou por muito tempo.

Assim, para reforçar, o hipocampo trabalha na formação de novas memórias, mas não armazena as nossas memórias de longo prazo. Assistam o vídeo sobre o paciente Henri Molaisson, que teve seu hipocampo retirado cirurgicamente:

http://plantandociencia.blogspot.com/2020/01/o-que-acontece-com-nossa-memoria-se.html

O fato do hipocampo ter papel crucial na formação de novas memórias explica o porque, em algumas doenças, como nos estágios iniciais do Alzheimer, a pessoa esquece fatos recentes mas se lembra de fatos ocorridos a décadas atrás, com riqueza de detalhes. No Alzheimer, a primeira região normalmente atingida pela doença é o lobo temporal, mais especificamente o hipocampo.

O hipocampo também participa do processo de reavivamento da memória durante a memorização, ou seja, ativam memórias já formadas quando passamos por situações parecidas ou resgatamos memória específicas. Isto é maravilhoso, visto que possibilita que as pessoas reconstruam memórias, principalmente as traumáticas, no que a neurociência conhece como Reconsolidação de Memórias (essencial para o trabalho maravilhoso dos psicólogos).

A relevância motivacional de uma experiência a torna mais provável de ser memorizada e relembrada com maior frequência.

Quanto tempo uma memória fica no hipocampo?
Ainda não tenho uma resposta pontual para isso. Já li materiais que essa memória de curto prazo duraria dias, outros semanas, mas revendo o vídeo do Henri Molaison hoje, notei que o cientista fala que ele perdeu memórias até de quase uma década, então talvez a memória de curto prazo não dure um prazo tão curto assim. 

É importante lembrarmos que memória de curto prazo (mais relacionado às experiências do nosso dia a dia e com nossos sentidos) é diferente da memória de trabalho, aquele tipo de curtíssima duração, por exemplo quando lembramos um número de telefone até o discarmos e depois esquecemos.

- Córtex Pré-Frontal:

Apesar de não fazer parte do Sistema Límbico, o córtex pré-frontal possui extensas conexões com o Sistema Límbico, e suas funções estão relacionadas a este sistema.




O córtex pré-frontal é responsável pelas funções executivas do nosso cérebro, pela nossa "inteligência", a área capaz de, através de suas conexões com o Sistema Límbico, controlar nossos impulsos. Seria essa conexão, talvez, o que definiria o termo que conhecemos como Inteligência Emocional, ou seja, nossa capacidade de agir sobre nossas emoções, de escolher como responder a elas.

Quando lesado, o córtex pré-frontal gera sintomas como a perda do senso das responsabilidades sociais de um indivíduo, bem como sua capacidade de concentração e de abstração. 

A consciência pode permanecer intacta, inclusive com capacidade de falar, mas a pessoa não consegue resolver problemas, mesmo os mais simples.

Hoje, sabemos que o córtex pré-frontal e alguns de seus neurônios que produzem o neurotransmissor Dopamina, são responsáveis por nossa capacidade de concentração, de conseguir focar nossa atenção em algo específico.

Antigamente, quando se faziam cirurgias de lobotomia (retirada de partes do nosso cérebro), as lobotomias pré-frontais geravam um estado de Tamponamento Afetivo, onde a pessoa não apresentava mais sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança. O que condiz com o papel do córtex pré-frontal sobre o "sentir" as emoções.

Sabe-se hoje que o córtex pré-frontal é uma área essencial para o afeto. Além disso, o córtex pré-frontal esta relacionado ao planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade, tomada de decisões e modulação do comportamento social.

Um slide pessoal para auxiliar no estudo das três principais regiões do córtex pré-frontal e suas funções:



Por hoje é só pessoal,
Bons estudos!

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