sexta-feira, 29 de maio de 2020

Educação em tempos de pandemia: o que estou aprendendo como professor?

Boa noite pessoal, todo mundo bem?

Tempos novos, com um novo "normal" aparecendo em nosso horizonte, novas exigências e, com elas, novas oportunidades estão aparecendo.

Como professor, sou grato por poder participar de um momento chave para o futuro da educação, onde temos uma oportunidade preciosíssima de repensar conceitos que já tem mais de um século.

Do dia para noite passamos de um modelo de aula presencial para um modelo de aula ao vivo, só que online, dentro de casa. Percebemos em poucas semanas como temos realidades distintas dentro de uma mesma sala de aula, dentro de uma mesma turma. 

Muitos alunos não possuem internet em casa, assistindo as aulas via celular, quando possuem internet 3 ou 4g. Isso parece normal para você? Como professor, o que você tem feito para suprir tantas necessidades diferentes? Como tem tornado as aulas mais atraentes?

Para refletir sobre as mudanças do ensino, da relação com os alunos, e outras reflexões sobre a educação na pandemia, recomendo a leitura do texto abaixo:


Porque a matéria de hoje é para agradecer meus alunos.

Se vocês imaginassem o tanto que aprendo com os exemplos, com as histórias, com a riqueza que é conviver com realidades tão variadas, de mundos tão diferentes.

Quando o aluno entender seu verdadeiro papel dentro de uma sala de aula, vai perceber que é tão parte ativa na construção do conhecimento, na construção de um saber, quanto nós professores. Sala de aula é uma troca, eu ensino e vocês me ensinam, e a única forma disso acontecer é com todo mundo envolvido, colaborando, construindo!

Construir/construção, são os termos que precisamos ter em mente quando estamos em um ambiente de aula. É enriquecedor, é um processo muito interessante, nos torna melhores.

Tentei novas técnicas esse semestre, exercício, guias de estudo, postagens interativas aqui no blog, documentários, filmes, discussões, alguns deram mais certos que outros, alguns surtiram mais efeito do que outros, ensinaram mais.

Aulas extremamente bem pensadas, que julguei que seriam as mais interativas e participativas, não obtiveram tanta resposta, não surtiram tanto efeito. 

E ta tudo bem, do outro lado da tela tem um outro mundo, com suas preocupações, com suas manias, com sua vida. Essa pessoa também está dentro de casa, com sua família, suas experiências. A pluralidade é imensa, e isso é maravilhoso. 

Alguns dias os alunos participam mais, outros menos. Alguns dias eu falo mais, com mais entusiasmo, outros dias com menos. E a vida é isso mesmo, ciclos, altos e baixos, o que não podemos perder nunca é o objetivo a ser alcançado.

Quando assumo uma disciplina, sou responsável por ajudar o aluno a construir conhecimentos sobre aqueles temas, conhecimentos que serão úteis em sua vida profissional, em sua carreira. Logo, o aluno é o objetivo de tudo isso, tudo que é feito é pensado para os alunos. 

Porém, lembrem-se, concretizar o aprendizado, saber realmente utilizar o conhecimento adquirido para buscar novas soluções, para avançar na carreira propondo saídas para os desafios que vão aparecendo, isso eu diria que é 50% responsabilidade do professor e 50% responsabilidade do aluno. Ou até um pouco mais do aluno, porque nós só guardamos como memórias de longo prazo aquilo que damos a devida atenção, aquilo que realmente buscamos, aquilo que construímos, que focamos.

Um trabalho que desenvolvi com minhas duas turmas de Psicologia nesse primeiro semestre de 2020 foi uma resenha, de uma a duas páginas. Um artigo abordava a neurofisiologia, ou melhor, as bases biológicas da depressão e da ansiedade. O segundo artigo focava na relação entre agressões às mulheres em suas próprias casas e o surgimentos desses mesmos transtornos psicológicos. O terceiro passo da atividade era escrever, com opiniões pessoais acerca do tema, uma relação clara entre os dois conteúdos. E pronto, a mágica foi criada. Dei os ingredientes todos, e o resultado foi o mais variado possível, mas foi fantástico. 

Como as experiências da vida de uma pessoa a moldam, como traz à tona pontos de vistas sobre um assunto que nem em duas vidas conseguiria imaginar, e isso nunca vai ter preço. Mas tem um valor inestimável.

Transcrevo abaixo uma dessas conclusões, que gostei bastante:
"Tendo em vista o conteúdo apresentado no textos, além de terem relações explicando as bases de como a violência doméstica atinge a saúde das vítimas, ainda propõe que é necessário um aprofundamento da Lei Maria da Penha, no sentido de estrutura de atendimento, conscientização, mudança de cultura, e punição aos infratores, pois se consiste em um ciclo que envolve uma forte cultura patriarcal, de autoritarismo, submissão, medo e toda a sociedade deveria se empenhar para frear esses índices que infelizmente só fazem aumentar, devido a toda uma sociedade que muitas vezes preferem julgar, a realmente entender os mecanismos, as consequências, e o sofrimento das pessoas que estão presas nesta situação e infelizmente na maioria dos casos não conseguem se livrar de uma vida na qual estão submissas muito mais por “forças maiores”, como vimos, dependência financeira, emocional, vergonha, medo, proteção aos filhos e a si própria.

Os resultados deste estudo enfatizam a necessidade de aprofundar as ações preventivas à violência doméstica e de investir na conscientização e na qualidade da assistência às vítimas, bom como na disseminação do conhecimento sobre a legislação brasileira relativa à violência doméstica. Esses elementos são relevantes em razão da qualificação do tipo de violência sofrida, dos locais da agressão, do tipo de vínculo com o autor do fato.

Violência entre casais inclui atos de agressão física, assédio psicológico, atos forçados e diversos tipos de comportamentos, como isolar uma pessoa de sua família e amigos ou restringir seu acesso à informação ou ajuda. A violência começa sutilmente, até chegar a ápices quase impossíveis de suportar e com tipos variados de agressão ocorrendo em conjunto.

A violência não pode ser vista como um fenômeno inerente à natureza humana , mas como um fenômeno condicionado ao modo de organização social, que é historicamente construído, pois existe uma relação de opressor e oprimido onde este somente deixará de ser oprimido a partir do momento em que começa a desenvolver uma luta por liberdade e exigência de seus direitos." 

Dos alunos: Jéssica de Oliveira Santos; João Henrique Marques de Souza e Valdirene Bargas.

Estamos aprendendo muitas coisas em pouco tempo, mas ao invés de ficarmos mais ansiosos do que já somos normalmente, precisamos aproveitar esse momento tão complexo para nos reinventarmos. A conexão se mostrou mais necessária do que nunca. Podemos dar mais um passo a frente como educadores, como alunos, como pessoas educadas (o mundo precisa de nós, cada vez mais).

Observem a importância, frente à realidade atual de mercado de trabalho, do conceito de Life long learning, ou aprendizado para vida toda, durante toda a vida (um aprendizado crônico). 

Pessoal, passou o tempo onde um diploma falava por si só. Hoje, a neuroplasticidade, talvez a mais bela das nossas capacidades cerebrais, é essencial. Precisamos aprender constantemente, novos cursos, novos livros (nunca se esqueçam dos livros!!!), novas ideias, novas formas de fazer as coisas antigas. Se reinventem.

A meus colegas professores e a todos os alunos, os meus e os que não são meus, meu muito obrigado. Tenho aprendido absurdamente nas últimas semanas, graças a todos vocês!

Seguimos!

Pelos olhos dela!

Um comentário:

  1. Show Professor! Muito obrigada pelas aulas. É visível o seu preparo a cada aula. Como aluna, agradeço muito, o aprendizado tem sido fantástico. ;) Valdirene - PSICOLOGIA 2020

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