quarta-feira, 15 de maio de 2019

Memória e Aprendizado II

Bom dia pessoal,
começamos a falar de memória na sexta-feira, e no link que segue temos a introdução do assunto:


Agora, partimos para distinguir os tipos de memória e entender quais regiões do nosso cérebro e encéfalo são responsáveis por elas.

Este resumo é baseado no capítulo sobre aprendizado e memória do Livro de Neurociências - Beer e também do Capítulo sobre aprendizado e Memória do Livro Neurociência da Mente e do Comportamento - Lent.



O aprendizado e a memória são, essencialmente, adaptações da circuitaria encefálica ao ambiente, ao longo de toda nossa vida.

E o que isso quer dizer? Quer dizer que nosso cérebro armazena informações sobre as experiências vividas para que possamos responder da melhor forma possível quando se repetir. 

Alguns autores consideram nossas experiências como um combustível para o cérebro criar.

  • Memórias: processo pelo qual adquirimos, formamos, conservamos e evocamos (lembramos) informações.
  • Aprendizagem: processo de aquisição de novas informações (conhecimentos, habilidades...)
Após décadas e mais décadas de pesquisas em neurociência, e com papel fundamental de psicólogos e psiquiatras nas pesquisas, descobriu-se diversos tipos de memórias.

Para fins didáticos, elas são divididas em dois grandes tipos de memória: As memórias Extrínsecas ou de Fatos e Eventos e as Memórias Intrínsecas (de habilidades, de hábitos e comportamentos).

Elaborei um esquema que contém os tipos e as subdivisões das memórias extrínsecas e intrínsecas:


Memórias Extrínsecas:

Também conhecidas como memórias para fatos e eventos, são o tipo de memória que nos ajuda a construir nossa identidade, nossas particularidades. Ou seja, são as memórias que compõem a nossa personalidade.

A evocação (lembrança) desse tipo de memória é algo consciente, conseguimos acessar, relembrar e utilizar essas memórias de forma consciente.

As memórias extrínsecas são as responsáveis por você saber que é o Goku na figura a baixo ou onde fica o estado de São Paulo no mapa do Brasil:





Mas quais são as regiões do nosso cérebro que estão envolvidas neste tipo de memória?

A principal, dentre as envolvidas, é o Hipocampo. Como muitos já ouviram falar, o hipocampo é uma das principais regiões do nosso encéfalo envolvidas na formação de memórias.

As outras áreas envolvidas são: o córtex pré-frontal, o córtex parietal e a região entorrinal. A amígdala é outra envolvida na consolidação dessas memórias.

Observe a relação e a localização do Hipocampo e da Amígdala:


Memórias Intrínsecas:

Também conhecidas como memórias não-declarativas, são as memórias armazenadas para comportamentos, habilidades e hábitos que adquirimos.

Não temos acesso totalmente consciente a esse tipo de informação guardada. Para exemplificar, pensem no ato de andar de bicicleta ou dirigir um carro quando se tem experiência, acontece automaticamente. Você não precisa deixar sua consciência e sua atenção presas a esses movimentos já gravados, você repete eles "inconscientemente".

A Memória Procedural, um de seus subtipos, também conhecida como memória de procedimentos, é o tipo de memória que adquirimos quando aprendemos, após repetição (que gera experiência em algo), uma atividade motora. Aqui, entra aprender a tocar um instrumento, a andar de bicicleta, nossos hábitos.

Elas podem ser formadas através de um aprendizado não-associativo (como quando paramos de escutar um alarme disparado depois de vários minutos tocando), onde não há associação direta de eventos, os estímulos formadores costumam ser isolados.

Quando o aprendizado é associado ou associativo, o comportamento é alterado pela formação de associação entre eventos. Para exemplificar esse tipo de memória associada ao aprendizado associativo, podemos citar a construção de alguns hábitos, muito bem representados pelo experimento de Condicionamento Clássico do Pavlov e o experimento do Condicionamento Operante ou Instrumental de Torndicke.



O experimento de Pavlov, conhecido como Condicionamento Clássico, esta bem representado na figura acima. Nela, observamos três momentos. O primeiro, onde dois estímulos são mostrados separadamente para o cachorro: o sino, chamado de estímulo condicionante, e o bife, chamado de estímulo incondicionado. A observação do Pavlov foi a seguinte: o cachorro saliva quando vê o bife, mas não quando toca o sino. A grande sacada em relação à formação de memória foi associar os dois estímulos. Ele condicionou o cachorro da seguinte forma: toda vez que tocava o sino aparecia a carne. O cachorro, extremamente interessado no pedaço de carne, associou o som do sino à salivação. Tanto que, na última parte da imagem, apenas o som do sino gera salivação, mesmo que o bife não seja apresentado. Isso é o que chamamos de estímulo condicionado.
Já Thordinicke, que estudou o condicionamento operante ou instrumental, conseguiu ensinar ratos a apertarem um botão ou ativarem uma alavanca. Toda vez que o faziam, recebiam um pedaço de ração. O que os ratos entenderam e gravaram na memória? Que se quiser comida, precisa apertar a alavanca. Esse tipo de aprendizado, esse tipo de condicionamento, envolve uma ação e uma resposta, ou seja, o comportamento de acionar a alavanca gera uma recompensa, que é receber comida.

- Regiões encefálicas envolvidas nas memórias intrínsecas:

Algumas áreas citadas lá em cima, como o hipocampo e o córtex pré-frontal. Mas a grande diferença aqui, é que o hipocampo não é a chave central para a formação desse tipo de memória. Algumas regiões, como os núcleos da base e o Cerebelo, ambos envolvidos diretamente com nossas atividades motoras, são as principais áreas envolvidas na formação desse tipo de memória.



Até onde vai nossa capacidade de memória? 

Temos uma capacidade gigantesca de armazenar informações, de causar inveja nos mais potentes computadores. Porém, existe um limite, e muitas vezes novos conhecimentos são formados em detrimento de conhecimentos antigos esquecidos. Traduzindo, para formar novas memórias, aquelas que não são úteis podem ser apagadas. É um mecanismo de melhora da capacidade cerebral, evitando informação desnecessária.

Tem como melhorar nossa memória? Sim, principalmente quando passamos a prestar atenção nas atividades que estamos realizando. Atenção, estudo, leitura, hábitos saudáveis, todos eles são eficientes em melhorar nossa memória.

Porém, para quem não tem uma memória fotográfica, que lembra de datas e detalhes dos episódios vividos a anos atrás, dificilmente vai atingi-la por meio de alguma técnica específica. Existem milhares de livros disponíveis contendo "formulas mágicas", algo como: descubra o segredo para se ter uma super memória.

Pessoal, a maior parte destes livros não passa de charlatanismo. Não existem milagres, não existem atalhos, que não o esforço e o treinamento.

Mas existem sim, casos impressionantes, como a do artista citado na figura abaixo, que consegui desenhar Tókyo com detalhes, após voar por 10 minutos sobre a cidade:


Finalizamos a segunda parte do tema Memória e Aprendizado, logo vou liberar a terceira parte, onde vamos abordar uma importante questão: Conseguimos apagar nossas memórias? Vocês conhecem o processo de Reconsolidação de memórias? Fundamental nos tratamentos psicoterápicos?

Obrigado pela leitura.





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