domingo, 10 de março de 2019

Quais os efeitos do álcool no nosso cérebro?

Boa noite pessoal.

Não preciso falar que bebida alcoólica é um hábito disseminado em grande parcela da população mundial. Existem milhares de documentários, artigos, livros, séries e filmes sobre o tema. Todos temos alguém na família que adora consumir cerveja, whisky, vinho, cachaça ou todos eles. 

Figura 1:

O grande problema é quando o consumo vira um hábito, que pode gerar o que conhecemos como alcoolismo. Uma doença muito séria e nada engraçada, bem diferente dos efeitos corporais relaxantes e das boas sensações que sentimos ao tomar aquela cervejinha gelada.

O etanol, princípio ativo das bebidas alcoólicas, começa a ser absorvido já na nossa boca, pela mucosa oral. A bebida segue para o estômago, onde cerca de 25% do seu conteúdo é absorvido. O restante é absorvido no intestino delgado.
Leva entre 15 e 60 minutos para todas as moléculas de etanol chegarem à circulação sanguínea, tempo variável por conta de fatores como a presença de alimentos no estômago ou a velocidade com que bebemos (por isso que beber de barriga vazia faz efeito mais rápido e também por isso que virar bebida costuma nos deixar mais bêbados).

Quando cai na corrente sanguínea, o etanol se espalha por todo corpo. É metabolizado pelo fígado, que consegue processar, em média, a quantidade de álcool presente em uma lata de cerveja por hora. Consumindo mais que isso, começam os sintomas de intoxicação por álcool e embriaguez. 

Figura 2:

Essa figura maravilhosa, feita pela revista Superinteressante, mostra o caminho do álcool no nosso corpo.

Mas afinal, quais os efeitos do etanol no nosso cérebro?

O álcool é considerado um depressor do Sistema Nervoso Central (SNC), com efeito dose-dependente (ou seja, quanto mais consumirmos, maiores e mais drásticos os efeitos).

Observe a tabela abaixo, retirada do site Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) sobre as dosagens de etanol no nosso sangue e seus efeitos (lembrem-se, atualmente, no Brasil, o bafômetro e a lei não permitem dirigir com concentrações iguais ou maiores a 0,05 mg):


O etanol age no nosso cérebro a nível dos neurotransmissores (substâncias químicas utilizadas pelos neurônios para se conectarem uns aos outros). Afeta principalmente os neurotransmissores: 
  • GABA = ácido gama-aminobutírico;
  • Glutamato;
  • Serotonina.
O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do nosso SNC. Por isso, quando ingerimos etanol e este reforça o efeito inibitório do gaba (nos receptores gaba-alfa), ficamos mais relaxados e levemente sedados (por isso o etanol é considerado um depressor do sistema nervoso). 

Diversas partes do nosso cérebro são afetadas por esse aumento da ação inibitória do GABA, em especial as áreas relacionadas ao movimento, à memória e ao julgamento.

O uso contínuo do álcool, que gera um aumento contínuo do efeito inibitório do GABA, faz com que o número de receptores gaba-alfa diminua em regiões do nosso cérebro, processo conhecido como "down-regulation" ou regulação para baixo. Esse efeito tardio parece ser a chave para desenvolvimento de tolerância ao álcool (por isso as pessoas vão ficando mais "resistentes" ao álcool), gerando uma necessidade de consumir uma quantidade maior de bebida para gerar os mesmos efeitos obtidos anteriormente com pequenas doses.

Os efeitos observados na abstinência alcoólica podem ser explicados, em parte, pela perda dos efeitos inibitórios combinado com a deficiência dos receptores gaba-alfa.


O glutamato, outro neurotransmissor afetado pelo consumo de álcool, é o principal neurotransmissor excitatório do nosso cérebro.
Como o consumo de álcool inibe a ação do glutamato, nós temos um efeito depressor ainda mais forte dessa substância.

A presença contínua de álcool gera uma depleção na quantidade e na ação do glutamato, fazendo que regiões cerebrais (como o hipocampo) produzam mais e mais receptores de glutamato para compensarem a diminuição do neurotransmissor. O grande problema é que, quando cessa o consumo de álcool, esses receptores ficam hiperativos, gerando tremores, náuseas, vômitos, irritação e outros sintomas característicos da síndrome de abstinência.

Outro neurotransmissor afetado, como vimos acima, é a famosa serotonina. A serotonina é normalmente relacionada a processos fundamentais no nosso cérebro, como participar da regulação do humor, do prazer e da ansiedade. O etanol age estimulando a liberação de serotonina, o que pode explicar as conhecidas sensações de prazer, euforia e bem-estar, típicos do início do processo de embriaguez. 

Os danos causados no cérebro pelo álcool são dependentes de alguns fatores listados a baixo, mas é importante salientar que normalmente acontecem em pessoas dependentes de álcool, que consomem grandes quantidades de bebidas todos os dias. Seria, a grosso modo, efeito de um consumo crônico de longa data.

Os fatores que podem influenciar o dano cerebral causado pelo álcool são:

  • Quantidade e frequência de consumo de álcool;
  • Idade de início e o tempo de consumo de álcool;
  • Idade do indivíduo, nível de educação, gênero sexual, aspectos genéticos e histórico familiar de alcoolismo;
  • Risco existente de exposição pré-natal ao álcool; e
  • Condições gerais de saúde do indivíduo.
Homens são mais propensos a alguns efeitos deletérios do álcool do que as mulheres, e um grande exemplo é o efeito sobre a memória. Homens são mais susceptíveis à perda de memória ou amnésia alcoólica que as mulheres.

O efeito do álcool sobre a morte de neurônios já foi discutido na matéria sobre os mitos que rondam o nosso cérebro, que vocês podem acessar no link abaixo:



Bom pessoal, acho que o que tinha para falar sobre álcool e cérebro já foi falado. Deixo abaixo links com ótimas referências e uma dica de documentário da netflix. Façam bons estudos e apreciem suas bebidas com moderação (ou não, deixo ao critério de vocês).



Links:



Documentário: A verdade sobre o álcool - 2016