Boa noite pessoal,
seguindo nosso curso de Imunologia Clínica, hoje vamos falar sobre Imunidade Humoral, Linfócitos B e anticorpos.
A imunidade humoral, constituinte da nossa resposta imune adaptativa, tem como células atuantes os Linfócitos B, que quando ativos, produzem anticorpos para neutralizar e exterminar microrganismos extracelulares e toxinas microbianas.
É o nosso principal mecanismo de defesa contra microrganismos com cápsulas ricas em polissacarídeos e lipídios, e sabe por que? Porque os linfócitos T e a resposta imune celular só reconhecem e combatem antígenos proteicos. Assim, a Imunidade Humoral e seus anticorpos completam a gama de defesa advinda da nossa Imunidade adaptativa, que, lembrem-se, sempre trabalha em conjunto com a Imunidade Inata.
A figura abaixo mostra um pouco sobre os componentes Celular e Humoral da Resposta Imune Adaptativa e algumas características básicas sobre cada uma:
Imunologia Básica - Abbas
- Fases e tipos da Resposta Humoral:
A figura abaixo, retirada do livro de Imunologia Básica do Abbas, mostra as fases da resposta Imune Humoral, da interação inicial com o antígeno até a produção e liberação dos anticorpos.
A interação começa com o reconhecimento do antígeno. Aqui, é importante reforçarmos que os Linfócitos B não necessitam de células apresentadoras de antígenos, como os Linfócitos T, pois possuem em sua membrana IgM e IgD, capazes de se ligar e reconhecer antígenos. Assim que reconhece o antígeno, na presença de outros estímulos ou não (veremos mais a frente), começa uma proliferação celular enorme (expansão clonal), que resulta em um grande número de Linfócitos B e posteriormente em uma grande produção de anticorpos, garantindo que a defesa acompanhe a expansão da infecção. Com um número adequado, começa a diferenciação dos Linfócitos B, que pode gerar alguns resultados:
- Os plasmócitos ou células do plasma (forma secretora de anticorpos dos linfócitos B) produzem anticorpos com a mesma afinidade que os receptores de membrana que reconheceram o antígeno.
- Algumas células B podem começar a produzir anticorpos com diferentes cadeias pesadas de isotipos, o que na figura é apresentado como Troca de Isotipo, resultando em anticorpos capazes de combater diversos tipos de microrganismos.
- Caso ocorra uma nova infecção pelo mesmo microrganismo, as células B começam a produzir anticorpos com maior afinidade, sendo mais eficaz no combate a este microrganismo, seus antígenos e suas toxinas.
- Algumas células B se diferenciam em células B de memória, capazes de sobreviver por muito tempo e garantir uma rápida resposta em caso de novas infecções.
Existem dois tipos de respostas mediadas por Linfócitos B, aquelas que são dependentes dos Linfócitos T e aquelas que não são. A diferença aqui, como vocês podem conferir na figura abaixo, é o tipo de antígeno em questão. Antígenos proteicos necessitam da resposta combinada com Linfócitos T, antígenos lipídicos e polissacarídeos não precisam:
Imunologia Básica - Abbas
O processo dependente de células T, mostrado na porção superior da figura, funciona da seguinte forma: O linfócito B reconhece o antígeno e o processa (observar aula anterior onde falamos sobre MHC) para apresentá-lo ao Linfócito T auxiliar (CD4+). Quando se liga ao Linfócito T, este se torna ativo e começa a secretar citocinas, que por sua vez sinalizam para outros Linfócitos B que são ativados e produzem anticorpos de maior afinidade ao antígeno em questão. É uma troca de informações, mostrando que Imunidade Humoral e Celular trabalham também em conjunto.
Observe a figura abaixo, com mais detalhes, como se dá a interação entre linfócitos B e T:
Imunologia Básica - Abbas
Agora que já entendemos a ordem dos acontecimentos da resposta imune humoral e os tipos, vamos focar o restante da nossa aula nos anticorpos.
Para iniciarmos essa parte, vou colocar um slide que utilizei em sala de aula para ressaltar alguns pontos que precisam ser observados com a mais atenção na figura que se segue, pois mostra diferentes marcantes entre a primeira resposta a um microrganismo e a segunda resposta a este mesmo microrganismo, deixando claro a importância das células B de memória, além do sensacional fato de que alguns plasmócitos vão para a Medula Óssea, e lá, com tudo o que precisa para se manter vivo, continua produzindo anticorpos em quantidades basais e liberando no nosso organismo:
Imunologia Básica - Abbas
Lembrem-se que, além da rápida resposta em uma segunda infecção, essas células B de memória e os anticorpos circulantes são Específicos para o microrganismo e seus antígenos. Novos microrganismos voltam para a resposta número 1.
- Propriedades dos Anticorpos:
Os anticorpos conseguem impedir infecções, quando agem no sentido de bloquear a capacidade dos microrganismos de invadir as células do hospedeiro ou eliminam esses microrganismos por diversos mecanismos que vamos estudar logo ali na frente.
A molécula do anticorpo possui duas regiões características:
- Região Fab: região de ligação aos antígenos.
- Região Fc: região efetora.
A capacidade de neutralizar microrganismos e suas toxinas é responsabilidade da Região Fab, enquanto as funções efetoras da região Fc são ativas após a ligação ao antígeno na região Fab (ou seja, trabalham em conjunto).
- Mecanismos de Ação dos anticorpos:
Como vamos observar na figura abaixo, existem quatro mecanismos pelos quais os anticorpos conseguem agir para combater microrganismos e suas infecções, são eles:
- Neutralização do microrganismo e suas toxinas;
- Opsonização e Fagocitose do microrganismo;
- Citotoxicidade celular dependente de anticorpos;
- Ativação do complemento:
- Lise de microrganismos;
- Fagocitose de microrganismos opsonizados com fragmentos do complemento (C3b);
- Inflamação.
Observem estes mecanismos na figura:
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Essa figura, retirada do livro do Abbas, está cortada, para dar maior enfoque nos mecanismos de ação dos anticorpos, a figura completa vocês podem visualizar aqui em baixo:
Imunologia Básica - Abbas
Agora, vamos falar brevemente sobre alguns desses mecanismos de ação.
- Neutralização de Microrganismos e Toxinas:
Através deste mecanismo, os anticorpos são capazes de ligar, bloquear ou neutralizar a infectividade dos microrganismos e também a interação das toxinas microbianas com as células do nosso corpo (hospedeiras).
Assim, ele consegue impedir a instalação de uma infecção, bloquear uma infecção subjacente (impedir que ela se espalhe) ou, quando já instalada, impedir os efeitos nocivos das toxinas do microrganismo (impedindo a ligação destas toxinas aos receptores celulares).
Podemos analisar esse mecanismo na figura abaixo, que compara uma situação sem o anticorpo com uma situação com o anticorpo, mostrando a importância dos seus papeis:
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- Opsonização e Fagocitose:
Os anticorpos, neste mecanismo, revestem os microrganismos sinalizando e permitindo sua ingestão pelos fagócitos, onde serão destruídos.
Opsonização é o termo dado para o revestimento de partículas para subsequente fagocitose. Enquanto Opsoninas são as moléculas que participam deste revestimento.
Quando ativados, os macrófagos e os neutrófilos produzem espécies reativas de oxigênio (ROS) e enzimas proteolíticas (lisossomos), que irão agir na destruição do microrganismo.
Esse mecanismo de ação é muito utilizado contra bactérias que possuem cápsula, como os pneumococos, pois sem o auxílio dos anticorpos os fagócitos não conseguem destruí-las. Quando ocorre a retirada do baço, essa resposta fica prejudica e aumenta-se as chances de infecção por bactérias encapsuladas.
Tudo isso está demonstrado na figura:
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- Citotoxicidade Celular dependente de Anticorpos (ADCC):
Aqui, os anticorpos contam com a ajuda das células Natural Killers (NK) e de outros leucócitos, que conseguem se ligar às células infectadas revestidas de anticorpos e destruí-las.
As células NK se ligam aos anticorpos na superfície das células através dos seus receptores FC, após ligar-se, liberam seus grânulos ricos em enzimas capazes de destruir o alvo opsonizado.
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As ADCCs mediadas por eosinófilos são importantes no combate a infecções por helmintos.
- Funções de Anticorpos em Locais Específicos do Organismo:
Agora, nós já sabemos que os anticorpos são produzidos em órgãos linfoides periféricos e rapidamente levados para o sangue. Porém, a placenta e alguns epitélios do nosso corpo necessitam de uma defesa diferenciada, pois os anticorpos são vitais na defesa dessas estruturas.
Assim, caímos em dois tipos de Imunidade específicas mediadas por anticorpos, a Imunidade Mucosa e a Imunidade Neonatal.
Na Imunidade Mucosa, a proteção é realizada por moléculas de IgA, que são produzidas no tecido linfoide das mucosas e prontamente transportadas através dos epitélios da região, onde conseguem se ligar e neutralizar microrganismos que entram em nosso organismo através da respiração e da alimentação.
Já a Imunidade Neonatal, é a passagem de IgGs da mãe para o feto, pela placenta, ou da mãe para o recém-nascido, pela amamentação. Isso acontece pois, em ambos os casos, o sistema imunológico é incompleto, não sendo capaz de proteger efetivamente o organismo. O detalhe aqui é que essa imunização é passiva, pois ocorre com a passagem de anticorpos e, além disso, é importante ressaltar que o feto ou o recém-nascido estarão protegidos dos microrganismos dos quais a mãe já foi exposta.
Era isso pessoal, bons estudos!
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