quarta-feira, 7 de abril de 2021

Memória - reflexões

Bom dia pessoal,

Trago para vocês, hoje, algumas reflexões e pontos interessantes para discutirmos a Memória.

Para Ivan Izquierdo, um neurocientista brasileiro gigante a nível mundial, as memórias são a Aquisição de informações, a conservação dessas informações e, eventualmente, a evocação dessas informações.

Traduzindo, é a forma como guardamos as informações obtidas através de nossas experiências para poder utilizá-las depois.

As memórias podem ser derivadas de experiências externas (mais comuns, relacionadas às nossas experiências), podem ser memórias intraceptivas (formadas a partir de processos internos do nosso organismo) e também memórias de memórias (aquelas memórias que criamos a partir da reflexão).

Sempre que pensarmos em memória, precisamos falar sobre o papel do Hipocampo, um estrutura cerebral que se encontra em nosso lobos temporais, e desempenha papel crucial no processo de armazenamento de memórias (notem que, apesar de armazenam memórias de curto prazo e agir para transformar o que for importante em memória de longo prazo, ele não as armazena).

Mas antes de entender processos mais avançados, quais tipos de memória possuímos? São basicamente três tipos:

  1. Memória de Trabalho.
  2. Memória de Curto prazo.
  3. Memória de Longo prazo.
A Memória de trabalho dura pouquíssimo tempo, normalmente menos do que segundos, e serve para entendermos o que está acontecendo. Vocês lembram a segunda palavra do primeiro parágrafo dessa matéria? Claro que não, porque o registro dela aconteceu apenas para vocês entenderem a frase ou mesmo o parágrafo todo.

Um exemplo muito comum utilizado para a memória de trabalho é ficarmos repetindo um número de telefone até discarmos ele, e depois ele simplesmente evaporar da nossa cabeça. Então, a memória de trabalho nos permite interagir e entender o que está acontecendo (seja a nível intelectual ou corporal).

A memória de curto prazo tem uma validade um pouco maior, algo entre minutos e algumas horas, como o mapa mental que desenhamos sobre o caminho até o mercado, guardar o contexto de uma conversa mas não os detalhes da conversa (ideia central), permitir o entendimento entre as páginas de um livro, armazenar as experiências mais importantes vividas em um dia para que consigam ser transformadas em memórias de longo prazo.

As memórias de longo prazo, por sua vez, são aquelas que duram mais de 6 horas e, nos humanos, podem durar até décadas, principalmente aquelas com um conteúdo emocional mais intenso. Para exemplificar, todos vocês lembram das pessoas e até do contexto onde receberam a notícia do falecimento de um ente querido ou de alguém famoso que vocês adoravam. Eu, particularmente, lembro de detalhes muito específicos de quando recebi a notícia da morte dos Mamonas Assassinas, e eu tinha algo em torno de 7 anos (1996).

Fica bem claro no exemplo acima que, quanto maior a carga emocional de uma experiência, maiores as chances de registrarmos essa experiência e lembrar dela por anos e anos.

Aprofundando um pouco mais, a nível de neurociência, as emoções influenciam no armazenamento de memórias através de vias dopaminérgicas e noradrenérgicas, ou seja, a liberação de dopamina e noradrenalina estimula os neurônios do hipocampo, aumento a atividade deles e a produção de proteínas. É como se grifassem para o hipocampo que aquela experiência é importante e precisa ser guardada, pois pode ser útil no futuro.

Vocês sabiam que os mecanismos neuroquímicos, o funcionamento básico de todos esses processos, é bem semelhantes entre as espécies de animais? Para ser mais sincero, muitos mecanismos cerebrais são bem parecidos desde os peixes até os seres humanos, apesar de estruturas e complexidades cerebrais completamente diferentes:



A diferença, além de anatômica, muitas vezes se dá pela quantidade de neurônios e do tecido nervoso de uma forma geral. Quer dizer que nós somos a espécie que tem mais? Não, no máximo talvez a que tem o tecido nervoso melhor distribuído entre as regiões cerebrais e encefálicas, o que garante características únicas à nossa espécie.

Uma coisa que podemos dizer que acontece somente em humanos (mas possivelmente também em outros mamíferos) é que nenhuma experiência, nada do que fazemos (independente do que seja) é isento de emoções (em nenhum momento somos "Aemocionais"). Sempre estamos mais ou menos tristes, mais ou menos alegres, em muitos de nós, inclusive, isso varia bastante ao longo do mesmo dia.

Mas ok, acredito que conseguiram entender as ideias básicas apresentadas até agora. Vamos tratar então de alguns outros pontos, em forma de perguntas e respostas:

- Qual o papel da repetição na formação de memórias?

Ninguém ainda sabe completamente essa resposta, mas imagine da seguinte maneira: estudei neurociências hoje, como gosto bastante do assunto, algumas memórias começaram a se consolidar no meu cérebro. Amanhã, vou estudar mais um pouco, e assim sucessivamente ao longo das próximas semanas. É como se todos os dias o cérebro reforçasse aquela memória, mais um pouquinho de neurociência fosse consolidado. Depois de muitos dias fazendo isso, a memória resultante do estudo de neurociência é uma memória consideravelmente grande, de fácil acesso (fácil de lembrar, de evocar).

Isso pode acontecer por ativar muitos neurônios ou por ativar muitas vezes, repetidamente, o mesmo neurônio.

- Conseguimos esquecer algumas informações, ou seja, conseguimos apagar memórias?

Não, mas conseguimos escolher o que vamos lembrar, o que vamos guardar das nossas experiências. Isso está nas nossas mãos, pois registramos com mais afinco tudo aquilo que prestamos atenção! Assim, apesar de ser impossível registrar tudo que vivemos em uma experiência, nós podemos escolher o que vamos guardar conosco desses momentos, basta estarmos atentos. 

O fato de extrairmos e guardarmos informações diferentes das mesmas experiências, é uma das magníficas coisas que nos diferencia quanto pessoas. Eu enxergo o mundo de acordo com as lentes que minhas histórias pessoais, minhas experiências, colocaram em minha visão. Isso é diferente em cada um de nós.

O cérebro consegue impedir a evocação de memórias em alguns momentos, como por exemplo, não nos permitir lembrar de algo trágico durante uma refeição, ou durante o sexo, por exemplo. Porém, em hipótese alguma, o cérebro é capaz de apagar uma memória, principalmente aquelas relacionadas ao medo.

Você deve estar se perguntando o porque disso. Simples, sobrevivência. O medo, a resposta de luta ou fuga, são respostas evolutivas, que garantiram a sobrevivência de nossa espécie. Elas não precisam ser aprendidas ao longo da vida, elas nascem impressas em nosso DNA.

Esse fato de selecionar o que lembramos em determinadas situações permite que consigamos aproveitar ao máximo nossas experiências, pois isso é o objetivo da nossa vida realmente, estar presente, aproveitar cada momento.

- Existe um limite de espaço para o armazenamento de memórias no Sistema nervoso?

Sim. 
Mas não necessariamente um limite de espaço físico, é um limite por unidade de tempo.

Cada memória utiliza sua própria turma de neurônios e aparatos neuroquímicos, por isso é importante não registrarmos nos mínimos detalhes todas as nossas experiências, pois isso sobrecarregaria nosso cérebro. Não guardar tudo isso é o que permite que o cérebro consiga pensar, evocar as memórias antigas, gerar respostas...

Pensem: é mais importante vocês lembrarem do lugar exato em que pararam o carro na semana passada ou lembrar do local exato onde seu carro está estacionado agora? Conseguiram com esse exemplo entender o porque não registramos tantos detalhes? A vida não acontece no passado.

Para finalizar, alguns pontos que também valem a reflexão:

- A memória precisa ser exercitada, enxergue ela como um músculo. NENHUMA atividade intelectual é tão benéfica para a memória como a leitura, a leitura é mágica para nosso cérebro. Pratique!

- Não existe algo nem próximo de um medicamento para melhorar a memória, é tudo charlatanismo. Um medicamento como a ritalina pode até te ajudar a guardar o conteúdo estudado sobre o efeito da droga, mas isso tem a ver com a atenção e não com sua capacidade de memorização.

- Se prestamos atenção em algo, temos uma chance muito maior de registrarmos aquela experiência, aquele acontecimento. Isso é básico. O que muitas vezes as pessoas falam como problema de memória é, na verdade, problema de atenção. E o grande causador, na grande maioria das vezes, é o estresse. Um fator estressante tira nossa atenção da vida real, de tudo o que estamos fazendo (até de nós mesmos) e foca no problema. Pronto, vemos a vida passar sem registrar nada do que fazemos, pois nunca estamos ali, naquele momento.

Bom pessoal, era isso.
Acabou ficando longo mas acredito que vale refletir sobre cada um desses pontos!

Um comentário:

  1. particulamente esse conteúdo foi maravilhoso parabéns professor!!!

    ResponderExcluir