quinta-feira, 22 de abril de 2021

Carboidratos e Glicemia II - Exames Laboratoriais

Boa tarde pessoal,

Em nossa última aula de Bioquímica Clínica, nós discutimos um pouco sobre as maneiras que nosso corpo utiliza para regular a concentração de um dos itens mais preciosos para seu funcionamento, a glicose.

Falamos sobre hormônios pancreáticos, sobre o comportamento alimentar, tudo para entender como é importante regular da melhor maneira possível a glicemia (ou seja, a concentração de glicose em nosso sangue).

Hoje, vamos um pouco além, para discutir os principais exames laboratoriais utilizados para investigar a glicemia dos pacientes.


Para quem ainda não viu a primeira parte, recomendo começar por ela, tem muita coisa interessante no link:

http://plantandociencia.blogspot.com/2021/04/carboidratos-e-glicemia.html

Para começarmos nossa conversa de hoje, coloco abaixo um slide meu, para já identificarmos todos os exames que vamos conversar aqui na aula:




Não teria uma opção mais honesta, de ordem, se não começarmos a discussão pela glicose plasmática de jejum.

A glicose plasmática de jejum é o exame mais utilizado para avaliar a glicemia em uma laboratório de análises clínicas (é bem provável que você que está lendo já fez mais de uma vez esse exame!).

O preparo do paciente para o exame é muito simples, 8 a 12 horas de jejum (apenas água liberada), se diabético, o paciente não deve utilizar insulina ou hipoglicemiante no período de jejum (isso pode gerar um resultado de baixa glicemia, que pode não ser condizente com a realidade do paciente).

Hoje, os métodos mais utilizados para avaliar a glicemia são enzimáticos, como os que utilizam a glicose oxidase. As amostras podem ser o soro ou o plasma, e em outros casos urina e até mesmo o líquor.

Os valores de referência nos dizem hoje que o esperado é uma glicemia após jejum menor que 99 mg/dL. Que entre 99 e 125 mg/dL seria um estágio de pré-diabetes e acima de 126 mg/dL um provável caso de diabetes ou outro problema relacionado ao metabolismo dos açúcares pelo corpo (em qualquer caso, mais de um exame é necessário para fechar corretamente um diagnóstico).

Lembra que discutimos sobre a importância de uma anamnese de qualidade? Alguns fármacos como o parecetamol, a aspirina e até mesmo o cafezinho podem gerar falsas elevações na glicemia. Enquanto álcool, anfetaminas, inibidores da ECA e qualquer hipoglicemiante (incluindo a insulina) podem levar a valores falsos de baixa glicemia.

Não podemos negar que a glicemia de jejum é um excelente exame, que trás uma importante informação e, além disso, é de rápida e fácil aplicação, além do baixo custo. Porém, em meio a tantas vantagens, ele tem um importante fator limitante: ele nos conta sobre o comportamento da glicemia nas últimas 24 horas, no máximo das últimas 36 horas.

Se pensarmos a nível de diagnóstico ou acompanhamento de um paciente diabético, seria interessante observar mais tempo desse comportamento, algo como semanas, talvez.

Esse teste existe, e chama Hemoglobina glicada, que é a figura de capa da nossa aula de hoje:



Mas Bruno, como um exame pode me mostrar as alterações na glicemia ao longo das últimas semanas?

A hemoglobina tem a capacidade de se ligar à glicose, e ela não gosta de soltar essa molécula de glicose. Assim, pensando que as hemácias (que carregam as hemoglobinas em seu interior) vivem algo em torno de 100 dias, podemos avaliar esse "comportamento" da glicemia ao longo das últimas 8-10 semanas anteriores.

É muito interessante conseguir visualizar por esse maior período de tempo pensando a nível de diagnóstico, de possíveis adaptações no tratamento que está sendo realizado, conseguindo melhorar a qualidade de vida do paciente.

Mas não é só essa a diferença entre os exames, as técnicas, o preparo dos pacientes e os valores de referência também são outros, e você confere essas informações no slide abaixo:



Não pensem que a hemoglobina glicada aparece apenas em pessoas com algum problema no metabolismo da glicose, como os diabéticos. Após nossas refeições (normalmente ricas em carboidratos aqui no Brasil), existem picos de glicemia em nosso sangue, e esses picos (normais pós-refeição) também geram essa ligação hemoglobina-glicose. O que muda, para pacientes que realmente tem algum distúrbio, é a maior porcentagem de hemoglobina glicada.


Ok. 

Falamos um pouco e entendemos a diferença entre os métodos e a utilização da glicemia de jejum e da hemoglobina glicada.

Agora, precisamos falar da glicemia pós-prandial e suas variantes.

Observem o mesmo slide que deixei no começo dessa matéria, referente aos exames comumente utilizados:



Reparem que três deles estão grifados: Glicose Plasmática pós-prandial de duas horas; Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) e Teste de O'Sullivan.

Sabe por que? Porque ambos utilizam o mesmo princípio: uma primeira coleta de sangue em jejum (então a primeira análise desse teste é uma glicemia de jejum tradicional). Após a primeira coleta, o paciente recebe uma bebida açucarada, que na verdade contém entre 75 e 100 gramas de glicose. Um xarope, extremamente doce.

Após iniciar o consumo da bebida, conta-se duas horas até a realização da próxima coleta. Por que duas horas Bruno?

Porque após duas horas, em um organismo que está lidando da maneira correta com o metabolismo da glicose (e consequentemente com os valores da glicemia), espera-se que após duas horas esse valor seja menor que 140 mg/dL. Valores acima dessa faixa são indicativos de um problema no metabolismo dos carboidratos, como os casos de diabetes (falta de insulina ou resistência às ações deste hormônio).

A diferença entre eles é quando são utilizados, como o O'Sullivan que é utilizado para avaliar se existe uma diabetes gestacional, o que normalmente é averiguado por volta da vigésima sexta semana de gestação.

Em alguns casos, o número de coletas pode aumentar, com uma coleta a cada hora, por exemplo. Depende muito do nível de detalhes sobre a glicemia que estamos buscando.

Observem a tabela abaixo, com alguns valores de referência:


Pessoal, para finalizar, o último termo do slide de exames laboratoriais é Glicosúria. A glicosúria não é um exame, e sim uma condição, onde existe glicose na urina.

Normalmente, como a glicose é muito preciosa para nossa fisiologia, os rins tendem a reabsorver ela de volta para a circulação sanguínea. A presença de muita glicose na urina, a glicosúria, é um indicativo de uma das duas coisas: ou os níveis de glicemia estão acima de 180 mg/dL (o que é muito alto, observe os valores de referência lá em cima) ou existe um problema renal e a glicose não está sendo corretamente reabsorvida. 

Em ambos os casos, é necessário uma análise mais criteriosa para verificar as causas.

Era isso pessoal, bons estudos!

Nossa próxima aula é sobre lipídios e o famoso perfil lipídico.

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