quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Farmacodinâmica 2 - 2.0

Boa tarde pessoal,

Hoje vamos falar um pouco mais sobre Farmacodinâmica, que definimos na primeira aula como "o que o fármaco provoca de ação no nosso corpo e como ele faz isso (mecanismo de ação)".

Para quem não leu a primeira parte, acho que vale a pena dar uma olhadinha antes:

http://plantandociencia.blogspot.com/2020/09/farmacodinamica-1-20.html


Na primeira parte da nossa aula nós falamos sobre a formação do complexo fármaco-receptor, entendendo sua relação com a atividade biológica dos fármacos e os conceitos de Agonista, Antagonista e Antagonista Alostérico.

Aliás, fiquem com a bela imagem abaixo para entender de uma vez por todas as relação entre um ligante endógeno, um agonista e um antagonista. Achei sensacional essa figura:



Mas ok, entendi o conceito de formar um complexo entre o fármaco e o receptor, mas o que acontece depois? Como o receptor, depois de receber a informação do fármaco, vai conseguir passar essa mensagem para a célula, para que então altere sua bioquímica e fisiologia para gerar o efeito farmacológico desejado?

Agora estudaremos os mecanismos moleculares de ação dos fármacos, ou seja, quais as alterações provocadas na célula após a interação fármaco-receptor para existir uma resposta farmacológica.

Existem muitos receptores celulares conhecidos, e na maioria das vezes são proteínas transmembranas. Porém, apesar da grande variedade de receptores, conseguimos classificá-los de acordo com cinco mecanismos de ação distintos, bem representados na figura abaixo, do livro Farmacologia Básica e Clínica - Katzung, Masters e Trevor:



Vou fazer um breve resumo explicando a figura e depois começamos a discutir um a um:

  1. Receptores Intracelulares: aqui, após a interação entre o fármaco lipossolúvel e o receptor, o complexo migra e se liga ao DNA, onde irá alterar a transcrição gênica.
  2. Receptores que são enzimas transmembranas: o próprio receptor é uma enzima, ativada quando ocorre a ligação do fármaco, utiliza processos químicos como a fosforilação de aminoácidos para gerar as alterações celulares e desencadear a resposta farmacológica.
  3. Receptores proteicos acoplados a uma enzima, como o caso dos receptores de citocinas. Aqui, o receptor é uma proteína e quando ativado pelo fármaco agonista, ativa a enzima para gerar a cascata de sinalização.
  4. Receptores que são canais iônicos: os nossos famosos canais iônicos controlados por ligantes. Quando o fármaco agonista se liga, a alteração no canal faz com que passe para o estado aberto, permitindo um fluxo de íons que altera a composição iônica da célula, gerando o efeito do fármaco.
  5. Receptores acoplados à proteína G: receptores proteicos que possuem uma proteína G acoplada no interior da célula: a resposta aqui exige energia e a formação de segundos mensageiros, deixarei mais claro no tópico específico.

Mas, agora que já resumimos esses cinco mecanismos, vamos entender os mesmos com alguns detalhes a mais:

1-Receptor Intracelular para agentes lipossolúveis:

A figura abaixo apresenta todo o processo de mecanismo de ação de um receptor intracelular, com o fármaco em questão sendo um esteroide.



A figura nos mostra os seguintes detalhes do funcionamento desse tipo de receptor: primeiro, que ele é para fármacos e substâncias endógenas altamente lipossolúveis, pois as mesmas precisam entrar nas células através da bicamada lipídica. Segundo, os receptores intracelulares podem estar no citoplasma ou no núcleo da célula. Terceiro, ao se ligar à molécula agonista, o complexo fármaco-receptor se liga a regiões específicas do DNA para alterar sua transcrição. Então, o efeito farmacológico começa depois da produção de proteínas através da transcrição.

Isso explica uma característica muito interessante dos fármacos que agem nesse tipo de receptor, como os glicocorticoides. Os efeitos demoram pelo menos 30 minutos para começar (variando de fármaco para fármaco), e também demoram para desaparecer. Inclusive, alguns fármacos mesmo após não existirem mais dentro do nosso organismo (concentração igual a zero), seus efeitos perduram por horas ou até mesmo por dias, sendo esses dois pontos (tempo para começar e tempo para terminar o efeito) essenciais para se considerar um esquema terapêutico.

2 - Receptores que são canais iônicos:

Os receptores que são canais iônicos (na nossa figura dos receptores é o número 4) são os mais fáceis de entender o mecanismo básico de funcionamento.

Observem a figura:



É assim que eles funcionam. Na fisiologia, conhecemos esses canais como canais iônicos dependentes ou ativados por ligantes. Pessoal, esses ligantes são agonistas endógenos, aqui, a diferença, é que estamos falando de fármacos agonistas. Mas o conceito é o mesmo. No seu estado inativo, o receptor encontra-se fechado. Quando a molécula do fármaco chega e se liga, altera o formato desse receptor (sua conformação, ou, de acordo com um aluno meu, deforma o receptor), e o canal iônico se abre.

Quando ocorre a abertura do canal iônico, o fluxo de íons aumenta drasticamente (se é para dentro ou para fora da célula, vai depender do tipo de receptor e do íon ou íons que passam através dele), alterando a composição química/iônica da célula. É assim que acontece o efeito do fármaco nesse tipo de receptor, alterando a composição iônica da célula.

Pessoal, por hoje já está bom né?
Falaremos dos outros três receptores e seus mecanismos de ação na próxima matéria!

Bons estudos.

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