segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Circuitos neurais da Memória

 Boa tarde pessoal,

hoje vamos falar um pouco sobre memória.

Para ser um pouco mais preciso, vamos falar sobre as áreas envolvidas na formação e manutenção de nossas memórias.

Para quem ainda não leu o conteúdo anterior sobre memória, fica um link que encaminha vocês para tudo o que já escrevi a respeito do tema, que pode ajudar/enriquecer o conhecimento sobre como funciona essa maravilhosa função cognitiva superior do nosso cérebro (com esta de hoje já são 7 matérias sobre o tema):

http://plantandociencia.blogspot.com/2020/03/memoria-humana.html


Nossas memórias são, no mínimo, intrigantes. Para que servem? Por que lembramos de relativamente poucas informações frente a tudo o que vivemos? Por que quando uma experiência tem uma carga emocional notável, ela tende a ser guardada com mais detalhes e se manter "intacta" por décadas?

Memória de longo prazo é um termo que engloba a habilidade do nosso cérebro em armazenar informações.



Existem dois tipos principais de memórias: as Explícitas/Declarativas e Implícitas/Não-Declarativas. 

As memórias explícitas referem-se à aquisição de informações sobre objetos, estímulos e informações que são notados de modo consciente e são resgatáveis. As regiões responsáveis por esse processo são parte do Lobo temporal, mais especificamente na sua porção medial, onde está o hipocampo e suas subdivisões (CA1, CA2 e CA3) e o Giro denteado e, além destas, o Córtex entorrinal. 

Embora a formação hipocampal (hipocampo + giro denteado) armazenem memórias de curto prazo (recente) e trabalhem na transformação das mais importantes em memórias de longo prazo, o córtex entorrinal tem um importante papel nas memórias de longo prazo, uma vez que funciona como um intermediário na comunicação entre Hipocampo e Neocórtex.

Assim, o córtex entorrinal é um importante mediador nos processos de aprendizagem e memória.

Por exemplo, informações vindas do neocórtex, provenientes de um estímulo visual, são traduzidas via córtex entorrinal para as representações de memória complexa de nível superior, de tal forma que uma emoção pode trazer à tona uma memória visual (conceito bem parecido com o que já falamos por aqui de lembrar de um episódio específico quando sentimos cheiro ou sabor de uma comida que gostamos - "comida de vó"), ou ao contrário, que algo percebido por nossa visão pode trazer à tona emoções complexas (apesar de especificidades, ambos envolvem o córtex entorrinal).

A camada II do córtex entorrinal é a primeira região cerebral afetada na maioria dos pacientes de Alzheimer.

O circuito de memória que engloba a formação Hipocampal e o córtex entorrinal inclui várias vias de informação: 

  • Via perfurante: córtex entorrinal mandando informações para o hipocampo;
  • Via das fibras musgosas: giro denteado se comunicando com CA3;
  • Via colateral de Schaffer: região Ca3 do hipocampo se comunicando com a região Ca1;
  • Via córtex-Ca1-subículo-entorrinal: principal saída de informações do hipocampo.
A figura abaixo, retirada do livro Ilustrações médicas do Netter, Volume 7 parte 1, demonstra essa complexidade de ligações e regiões conectadas com o córtex entorrinal. Devido ao tamanho dela, dividi em duas partes para melhorar a qualidade:

Parte 1: comunicações do córtex entorrinal com o neocórtex (tanto as aferências quanto as eferências):


Parte 2: possíveis circuitos de memória recente.
Podemos dividir a memória explícita em dois subtipos, a Memória Episódica e a Memória Semântica.
A memória episódica é a memória autobiográfica, onde lembramos de episódios com detalhes, como uma férias na praia ou o primeiro encontro com seu cônjuge.
Já a memória semântica é a memória para fatos, uma memória que envolve o conhecimento geral e não é relacionada a uma experiência específica. Um exemplo é sabermos que um cachorro tem quatro patas, uma zebra tem listras ou que os peixes vivem na água.

A perda de conexões entre córtex entorrinal e formação hipocampal (via perfurante) é a principal responsável pelos problemas de memória explícita em pacientes com Alzheimer.

A memória Implícita é "inconsciente", muitas vezes vinculada com as emoções. Ela também pode ser processual, como lembrar-se, quase que automaticamente de como dirigir um carro, ou como andar de bicicleta.

Um caso famoso, que contribuiu para o entendimento da relação entre lobo temporal medial e memória é o caso de Henry Molaisson, que teve essa região retirada em um tratamento experimental para epilepsia recorrente, como mostra a figura abaixo. Após a retirada, manteve sua cognição mas apresentou diversos problemas de memória, principalmente relacionados à formação de novas memórias. Mas para mais informações, deixo o link abaixo da foto:

 
E o link:

Bons estudos pessoal!
Qualquer dúvida é só deixar nos comentários.

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