quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Explicando a Mente - Memória - parte 1

Boa tarde pessoal.

Começamos hoje o Explicando a Mente, primeiro grande projeto de Neurociências de 2020.

A inspiração para o projeto vem do Documentário original do Netflix, do belíssimo cartaz abaixo:



O primeiro episódio da série e nossa primeira matéria fala sobre a Memória. 

Escrevi três artigos sobre Memória em 2019, vou deixar os links aqui em baixo:
  1. http://plantandociencia.blogspot.com/2019/05/memoria-e-aprendizado-i.html
  2. http://plantandociencia.blogspot.com/2019/05/memoria-e-aprendizado-ii.html
  3. http://plantandociencia.blogspot.com/2019/05/memoria-e-aprendizado-iii.html

Todos nós temos a impressão de ter registrado perfeitamente os momentos mais marcantes de nossas vidas, nossas melhores histórias, tudo guardado nos mínimos detalhes. Será que temos mesmo?

Se eu perguntar o que você estava fazendo no dia 11 de Setembro de 2001, quando assistiu na televisão ou descobriu que havia acontecido o famoso atentado das Torres Gêmeas, onde aviões colidiram com os prédios e causaram um dos maiores desastres atuais dos EUA. Você lembra?

Eu lembro, vi a notícia em uma pequena televisão de tubo, na quadra onde fazia educação física com a turma da escola. Lembro de ficar parado, chocado com as cenas, e além disso, a data é marcante pois é aniversário de um primo/irmão. 

Mas e os detalhes? Como estava o tempo aquele dia? Qual roupa eu estava utilizando? O que comi antes? Como foi o treino depois da reportagem? 

Cerca de 50% de uma memória é modificado ao longo de nossas vidas, mas acreditamos que lembramos 100% de todas elas.

Plantando Ciência - Demências Tratáveis

Nem nossas memórias mais importantes, aquelas que formam a base de nossas histórias, da nossa vida, permanecem intactas. E o porque disso discutiremos ao longo da matéria. Mas vale ressaltar um importante motivo aqui, discutido em matérias anteriores, economia de espaço! Nossas memórias são resultantes das conexões entre um neurônio e outro, as Sinapses. Sinapses antigas são corriqueiramente desfeitas para permitir que novas sejam feitas, resultando em novos conhecimentos de acordo com nossas experiências de vida.

Quando tentamos "resgatar" uma memória, lembrar de um episódio específico, nosso cérebro preenche os "espaços" com informações que para ele faz sentido.

Yanjaa Windtersoul, é uma campeã mundial de desafios de memória:

Essa campeã de memória detém "apenas" três recordes mundiais:
  1. 360 imagens decoradas em 5 minutos;
  2. 212 nomes e faces em 15 minutos;
  3. 145 palavras em 5 minutos.
Algumas pessoas possuem memórias maiores do que outras, mas podemos treinar essa capacidade mental. O que significa que eles não são mais "inteligentes" que você, apenas que a prática contínua de exercício e desafios melhora a capacidade de memorização deles. Hoje já sabemos que alimentação saudável e exercícios, principalmente os aeróbicos, ajudam no aumento da memória.

Uma técnica muito utilizada por esses atletas é o Palácio das Memórias, que vamos estudar futuramente.

Existe uma relação muito estreita entre prática de exercícios físicos e qualidade do sono com doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer (relação que pode ser aprofundada nas matérias abaixo):
  1. http://plantandociencia.blogspot.com/2019/10/doenca-de-alzheimer-ted-talks-lisa.html
  2. http://plantandociencia.blogspot.com/2019/04/sono-e-sonhos-i.html
  3. http://plantandociencia.blogspot.com/2019/04/sono-e-sonhos-ii.html
  4. http://plantandociencia.blogspot.com/2019/04/sono-e-sonhos-iii_14.html


                                                    Yanjaa Wintersoul - Explicando a memória - Netflix (2019)

A meditação parece estar também diretamente ligada a um aumento na memória, na capacidade de armazenar e formas novas memórias. Fácil de entender uma vez que se não prestarmos atenção em alguma coisa, simplesmente não vamos registrar uma memória sobre, e assim não teremos do que lembrar. Um exemplo clássico é a perda da chave dentro de casa. Vamos aos pontos:

  • Você chega em casa, carregando sacolas do mercado ao mesmo tempo que fala no celular. Depois de entrar você arremessa a chave no local de costume ou coloca em alguma superfície da casa. Depois não lembra onde a chave está porque tem problema de memória? NÃO. Você não sabe onde deixou a chave ou qualquer outro objeto porque não prestou atenção, sem consciência, sem atenção, sem memória formada do fato.

Então, até aqui tudo certo. 
Mas como o cérebro faz para armazenar as memórias? E em que parte dele?

Alguns fatos já são claros. Duas áreas cerebrais, o Hipocampo e a Amígdala estão diretamente relacionados com a formação de novas memórias. 

Como sabemos isso?

Um caso chamou muita atenção e foi um grande diferencial no estudo das regiões cerebrais envolvidas neste processo. O caso de Henry Molaison.



Molaison era diagnosticado com um caso grave de epilepsia, sem sucesso com tratamentos convencionais. Qual a saída para o médico? Retirar as áreas cerebrais envolvidas no seu distúrbio. Observem a figura abaixo:

A cirurgia foi um sucesso, as crises epilépticas cessaram, porém, uma sequela inimaginável surgiu: ele não produzia mais memórias, ou seja, seu cérebro perdeu a capacidade de armazenar em memórias sua experiências diárias. 

Ele passou a sofrer de sérios problemas de perda de memória recente, não lembrando fatos como o nome do médico que o operou, o que tinha comido ou feito no dia anterior. Qual a conclusão? Estruturas contidas no lobo temporal medial (região retirada na cirurgia), estavam diretamente envolvidas no processo de formação de novas memórias.

Duas das regiões que fazem parte do lobo temporal medial são o Hipocampo e a Amígdala, que citamos ali em cima.

Todas as memórias do Molaison foram apagadas?
Não, ele ainda tinha memórias antigas, de fatos históricos mundiais e de sua própria história. Além dessas, as memórias implícitas (que já "decoramos", por repetição), como andar de bicicleta, também permaneceram intactas.

Tudo o que foi discutido nessa primeira parte da matéria nos permite chegar a algumas conclusões:
- Duas regiões do lobo temporal do nosso cérebro estão envolvidas diretamente na formação de novas memórias, a Amígdala e o Hipocampo;
- Quem realmente converte as memórias recentes (ou de curto prazo) em memórias de longo prazo é o Hipocampo. A Amígdala influencia nesse armazenamento.
- O Hipocampo é responsável pela formação de novas memórias mas não é o local de armazenamento das memórias de longo prazo. Conclusão retirada do fato do paciente não perder suas memórias antigas.


Continua...

2 comentários:

  1. Caro Bruno. Valeu a dica de leitura.
    O texto está muito bom. Permite até alguém leigo, como eu, compreendê-lo.
    Parabéns.
    Depois vou ler outras matérias e vou recomendar.

    ResponderExcluir
  2. Argelio, que bom que gostou da dica.
    Fico contente.
    Obrigado pelo carinho

    ResponderExcluir