sábado, 13 de abril de 2019

Sono e Sonhos II

Boa tarde pessoal,
continuando a falar sobre como funciona nosso sono e nossos sonhos, hoje vou mostrar para vocês qual a função do sono. Por que dormimos? Melhor ainda, por que sonhamos? Qual seria o objetivo de passar um terço da nossa curta vida dormindo?

Para quem não leu a primeira parte, segue o link a baixo:




Muita gente não sabe, mas se passarmos oito horas deitados em nossa cama, relaxados, mas sem dormir, nosso corpo recupera do cansaço físico. Excelente, mas e o cansaço mental? Ele também passa?

Para responder essa pergunta, pensem em algumas característica que todos nós apresentamos depois de uma noite com poucas horas de sono ou mesmo sem dormir: irritabilidade, alterações de humor e um evidente prejuízo cognitivo, onde até as tarefas mais simples ficam difíceis. 

A partir dessas observações iniciais, a pergunta que surge é a seguinte: o sono então é necessário para o encéfalo apenas? 


Em partes, pois além de ser necessário para o encéfalo ele é necessário para todos órgãos e sistemas do nosso corpo, é o período onde nosso corpo e mente se recuperam do dia que passou e se preparam para o novo dia que vem chegando.

Outro ponto sempre em pauta em discussões sobre o sono, é que nenhum animal consegue ficar mais de 24 horas acordado. Aqui é importante ressaltar que não mesmo, a não ser o nosso caso, em que conseguimos "brigar" contra o sono, prolongando nosso estado de vigília. Mas por favor, muito cuidado, dormir nós vamos, uma hora o sono acaba vencendo. Então, todo cuidado é pouco quando estamos dirigindo, trabalhando, ou fazendo qualquer atividade que pode colocar a nossa vida e a de outras pessoas em risco.

Continuando o assunto, sobre possuirmos a opção de lutar ou não contra o sono, leiam o quadro a baixo, retirado do livro de Neurociências do Beer:



O quadro a cima, conta, simplesmente, o feito de um garoto dos Estados Unidos de 17 anos, que ficou acordado por 11 dias !!! para um experimento na feira de ciências da escola! Vale a leitura!

Encerrando a primeira parte dessa matéria, conseguimos concluir que dormimos então para recuperar nosso corpo do cansaço físico e mental, de uma forma geral para preservar nossa vida. 

Mas por que sonhamos?




Para Freud, os sonhos seriam como a realização de desejos reprimidos. Um mundo onde podemos, inconscientemente, expressarmos nossas fantasias sexuais, nossos desejos e sentimentos mais obscuros, que não seriam comportamentos aceitos em sociedade, quando estamos acordados. Também achava que sonhos ruins podiam nos ajudar a vencer eventos da vida que provocam ansiedade.

Biologicamente falando, a hipótese mais aceita hoje em dia chama Hipótese Síntese-Ativação, onde os sonhos serviriam para interpretar todos os estímulos sensoriais que recebemos ao longo do dia e, além disso, associar informações e transformar nossas memórias de curto prazo em memórias de longo prazo.

Traduzindo o parágrafo a cima, os sonhos seriam a forma de nosso cérebro entender todos os sinais e informações que chegaram até ele durante nosso período acordado - todos os sonhos, todas as imagens, todas as cores, todos os cheiros, todos os gostos e ainda, todas as coisas que sentimos com nossas mãos ou com nossa pele. Além disso, seria uma etapa essencial para ajudar na formação das nossas memórias de longo prazo, ou seja, aquelas que lembramos por anos e anos.

E na matéria passada, qual estágio eu falei para vocês que é aquela em que temos os sonhos que gostamos de falar sobre, nossos sonhos fantasiosos? A etapa conhecida como Sono REM (de rápido movimento dos olhos). Relembrem a figura a baixo:


Notem, na figura, que as regiões que se encontram no lobo temporal do nosso cérebro (região abaixo de nossas têmporas), estão extremamente ativas. Nessa região fica o nosso hipocampo, grande responsável por transformar nossas memórias de curto prazo em memórias de longo prazo. 

Por isso, podemos afirmar com grande grau de "certeza" que o sono REM e os sonhos são chaves importantes para a integração e consolidação de novas memórias.

Algumas pesquisas com animais e outras com humanos, comprovaram que quando somos privados da etapa REM do sono (seria algo como acordar a pessoa toda vez que ela começa a entrar na fase REM - lembrem do eletroencefalograma) possuem dificuldade em aprender novas tarefas.

Além disso, toda vez que aprendemos algo de que gostamos muito, uma informação valiosa ou um evento muito marcante, nossas fases de sono REM aumentam em tempo (duração) ao longo da noite, indicando que mais tempo é necessário para agregar tanta informação nova!

Mas então, como novas memórias se formam no nosso sono, podemos aprender dormindo?




Alguns neurocientistas dizem que não, que não vamos aprender dormindo em cima de um livro (como que por osmose) ou vamos ficar fluentes em uma nova língua escutando aulas durante o sono. Porém, pesquisas recentes mostram que ouvir algumas palavras ou sonhos relacionados a imagens podem ajudar no aprendizado quando estamos acordados.

Leiam a reportagem no link, da revista superinteressante:

https://super.abril.com.br/ciencia/sim-e-possivel-aprender-dormindo/

Pessoal, na minha humilde opinião, ninguém aprende dormindo sem se dedicar muitas horas de estudo enquanto acordado. Milagres não acontecem, perguntem para alguém que vocês conheçam que já estudou mais que vocês. A conta é simples, quanto mais você lê e estuda, mais você aprende. Como vimos ali em cima, o que o sono vai fazer é transformar essas memórias (as que forem úteis) em memórias de longo prazo.




Mecanismos fisiológicos do sono:




Observem a figura a cima, ela mostra, de forma bem simples, a interação da luz com a produção de um hormônio muito importante para uma boa noite de sono, a Melatonina. Quando expostos à luz, uma região do cérebro chamada Glândula Pineal é inibida e não consegue produzir esse hormônio. Quando escurece, essa inibição se encerra e o hormônio passa a ser produzida, e com ele disponível nós adormecemos mais rapidamente e nosso sono tem maior qualidade.

Por isso, lembrem-se sempre de evitar o uso de celular, tablet ou televisão na cama, antes de dormir. Esses aparelhos possuem uma luz que imita perfeitamente para o nosso cérebro a luz natural do sol, inibindo a produção de melatonina, prejudicando nosso sono. Isso é especialmente importante para as crianças, que possuem um cérebro em crescimento e formação, e podem ter muito mais do que a capacidade cognitiva diminuída depois de uma noite com um sono de baixa qualidade.

Para encerrarmos, uma curiosidade bem bacana. Vocês sabiam que o golfinho nariz-de-garrafa consegue adormecer um hemisfério cerebral (um lado do cérebro) de cada vez? Por que? Porque eles não podem se dar ao luxo de adormecer completamente e ficarem expostos a outros animais e à maré.



Espero que tenham gostado dessa segunda parte da matéria sobre Sono e sonhos pessoal. Amanhã devo disponibilizar a terceira, onde vou falar de alguns problemas relacionados ao sono, como a insônia e a narcolepsia. Além da paralisia do sono, dos pesadelos e do sonambulismo.

Bons sonhos!


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