segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Farmacocinética II

Bom dia pessoal,
Hoje continuaremos nossa aula de Farmacocinética, finalizando essa parte tão importante da Farmacologia.

A primeira parte vocês encontram no link abaixo:


Aprendemos na aula passada que a principal característica que facilita ou dificulta a passagem dos fármacos pela membrana celular é sua lipossolubilidade. Ou seja, quanto mais lipossolúvel, mais facilmente ele atravessará a membrana das nossas células. 

Só que, essa mesma característica que facilita a passagem através das membranas dificulta a excreção do fármaco, porque, por ser lipossolúvel, essas moléculas são reabsorvidas nos rins, voltando para a circulação sanguínea ao invés de saírem pela urina.

Nesse ponto entra o metabolismo dos fármacos, que visa, além de evitar a intoxicação do organismos, tornar as moléculas dos fármacos mais hidrossolúveis para que possam ser excretadas pela urina.

O resultado do metabolismo (principalmente hepático) dos fármacos costuma ser dois:

  • metabólitos hidrossolúveis inativos, facilmente excretáveis;
  • metabólitos com atividade biológica potente e/ou propriedades tóxicas.
O metabolismo hepático dos fármacos pode ser dividido em duas fases:
  1. Fase 1, também conhecida como reações de funcionalização;
  2. Fase 2, também conhecida como reações de conjugação.


As reações de Fase 1 introduzem ou expõem um grupo funcional do composto original do fármaco, com processos como a hidrólise e/ou a oxidação. Para muitos fármacos essas reações são catalisadas no fígados pelas enzimas da família Citocromo P450. Os metabólitos resultantes dessa primeira fase de biotransformação são normalmente mais polares, o que facilita sua excreção renal (diminuindo sua atividade farmacológica).

Porém, em alguns casos, essa primeira fase de metabolismo/biotransformação é utilizada como uma mecanismo para ativação do fármaco, como no caso dos conhecidos pró-fármacos, representados na figura abaixo:



Os pró-fármacos são utilizados quando o fármaco sozinho, administrado por via oral, não consegue passar pela membrana celular (como na figura acima) ou perde sua função ao sofrer o metabolismo de primeira passagem do fígado. Assim, ligado a outra molécula sem atividade farmacológica, o fármaco consegue atravessar as membranas e/ou ser quebrado no fígado pelas reações de fase I e se tornar a molécula ativa, que vai conseguir chegar à circulação sanguínea e caminhar até seu local de ação para cumprir seu efeito farmacológico.

As reações de Fase 2, conhecidas como reações de conjugação, consistem na ligação de aminoácidos, glutationa ou outro composto a um grupo funcional do fármaco original ou do metabólito resultante da fase 1 de metabolismo.

Em geral, os metabólitos resultantes da fase I são altamente hidrossolúveis e inativos, sendo fácil e rapidamente excretados pela urina.

Observem o exemplo abaixo, de um fármaco bem comum, o ácido acetilsalicílico (nossa aspirina), que precisa passar pelas duas fases de metabolismo hepático para ser excretado:


Assim, para encerrarmos o tópico de metabolismo/biotransformação dos fármacos, precisamos ter em mente que a maioria dos processos de metabolismo ocorrem no fígado, e que, as reações de Fase I e II são exclusivamente hepáticas.

As enzimas envolvidas nessas duas etapas de metabolismo hepático dos fármacos são, dentre outras, as enzimas da família Citocromo P450 (CYP) e Transferases. Em relação à fase I, as enzimas responsáveis por essa etapa se encontram no Retículo Endoplasmático dos Hepatócitos, enquanto as enzimas responsáveis pelas reações de Fase II encontram-se no citoplasma dos hepatócitos.

Segue um slide resumo abaixo:

 - Excreção dos Fármacos:

Já ficou claro, na discussão inicial desta aula, que os metabolitos mais hidrossolúveis (mais polares) são excretados mais facilmente, e também que, sem dúvida, os rins e a urina são o meio mais comum de excreção dessas moléculas.

Porém, os rins não são a única via de excreção dos fármacos, sendo que temos também as excreções:
  • Biliar/fecal;
  • Respiratória;
  • Suor, lágrimas e saliva (irrisórias);
  • Leite materno.
Observem na figura abaixo a diferença de um fármaco mais hidrossolúvel para um fármaco mais lipossolúvel em relação à excreção renal via urina:


Como citado anteriormente na aula, uma droga/fármaco mais lipossolúvel vai ser reabsorvido no processo de formação de urina, voltando para a circulação sanguínea, como mostra a segunda parte da figura. Já um fármaco mais hidrossolúvel (normalmente após o metabolismo hepático), é facilmente excretado na urina pois não é reabsorvido. Tentem associar, à figura acima, o processo de metabolismo hepático, conseguindo assim entender a importância de um processo para a outro.

Falamos também que existem outras vias de excreção, sendo a segunda mais importante a biliar/fecal, onde os fármacos ou seu metabólitos são excretados através das fezes. As outras, consideradas irrelevantes para a farmacologia, devem ser consideradas quando falamos de métodos de detecção, como via cabelo ou suor, muito utilizado para detectar substâncias proibidas no doping de esportes.

Para resumir a farmacocinética e também para exemplificar um processo desde a administração do fármaco via oral até sua excreção, seguem duas figuras:



Para finalizarmos esta aula, segue um slide meu para definir um termo importante para o estudo da Farmacologia, a Bioequivalência:

Bons estudos pessoal,
qualquer dúvida, deixem um comentário abaixo ou me enviem um e-mail.

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