quinta-feira, 18 de abril de 2019

Por que tanta raiva online?

Boa tarde pessoal,
hoje vamos continuar discutindo sobre o livro do Daniel Goleman - "O cérebro e a inteligência emocional - novas perspectivas".

Postei duas matérias anteriores sobre capítulos desse livro, que vocês encontram no link a baixo. Essa matéria de hoje é um complemento da matéria sobre Cérebro Social, que encontra-se no segundo link.



Vocês pararam para reparar o tanto de raiva que existe na internet? Pessoas que são pacíficas na vida real viram verdadeiros leões na internet, mostrando suas presas e atacando todos os alvos possíveis.


Mas por que acontece isso? Por que todo mundo fica tão estressado online? A internet não deveria ser uma fonte de conhecimento e relaxamento ou distração?

A natureza desenhou o cérebro social para interações cara a cara, não para conversarmos escondidos atrás de um computador.
Tendo essa informação em mente, como os cérebros sociais interagem quando estamos sentados olhando para o monitor em vez de diretamente para outra pessoa?

O termo que descreve o problema gerado pela falta de visualização da outra pessoa foi chamado de Iluminação no começo, e agora chama Ciberdesinibição!! Descobriu-se que a separação entre o cérebro social e o monitor libera a amígdala do usual gerenciamento pelas áreas pré-frontais mais razoáveis.

Ou seja, a amígdala, responsável por boa parte dos nossos comportamentos emotivos, dentre eles a agressividade, para de ser controlada pelas regiões frontais do nosso cérebro, que cumpre o papel de "amenizar" nossas emoções, seria como contar até 10 antes de sair brigando ou voar em cima de alguém.

A dinâmica neural por trás da ciberdesinibição é que o cérebro social não recebe qualquer feedback (ou resposta) online: ou seja, o cérebro não tem a resposta de como a pessoa está se comportando do outro lado. A não ser que estejamos em uma teleconferência ou uma chamada de vídeo. O cérebro social, sem ver o rosto da pessoa, não sabe como ela está reagindo, então não consegue guiar nossa resposta - ele não consegue nos dizer: "faça isto ao invés daquilo" ou "se acalme, você gosta dessa pessoa, não a ofenda" - como ele faria automaticamente e instantaneamente nas interações cara a cara.


Isso serve para facebook, whatsapp, ou qualquer meio de comunicação social onde não estamos vendo as expressões da pessoa. Para terem uma ideia, até mesmo uma chamada telefônica é mais fácil para o cérebro social, pois ele consegue entender as emoções de acordo com o tom de voz.

Em uma ocasião, Daniel Goleman, o autor do livro, estava trabalhando em um projeto com dois grupos de engenheiros. Os engenheiros do projeto não se encontravam pessoalmente, ou seja, cada grupo conversava apenas por e-mail. Não demorou duas semanas para virar uma guerra, porque as agressões vinham e voltavam dos dois lados. Qual foi a solução? os dois grupos ficaram dois dias convivendo pessoalmente, sem falar de trabalho. Pronto, dai para frente, com eles se conhecendo e interagindo pessoalmente mais vezes, a guerra cessou e o trabalho foi concluído.

Uma razão por que essa conexão pessoal tanto importa para a comunicação on-line tem a ver com a interação cérebro social/monitor.
Quando estamos em nosso teclado e consideramos uma mensagem positiva, e clicamos no enviar, o que não percebemos é que, no nível neural é que todas as sugestões não-verbais (expressão facial, tom de voz, gestos, afeto) ficam conosco, elas não acompanham a mensagem. 

Por isso, há sempre uma propensão negativa no e-mail: quando o emissor acredita que um e-mail foi positivo, o receptor tende a vê-lo como uma mensagem neutra (nem positiva e nem negativa). Quando o emissor acredita que o e-mail é neutro, o receptor tende a interpretá-lo como negativo. 

A grande exceção é quando conhecemos bem a pessoa, pois nesse caso, o vínculo ultrapassa a propensão negativa. Isso serve também para mensagens, comentários em fotos de pessoas desconhecidas. Sinceramente, independente de você ser de esquerda ou de direita, você acha que tanta violência, tanta falta de respeito, tanta falta de paciência e agressões desnecessárias, melhoraram nosso país em que? Você acha que brigar com metade da sua família ajudou a economia? Melhorou sua condição social? Te fez mais inteligente? Ou pior ainda, você acredita que ser grosseiro ao impor suas opiniões muda a opinião de alguém?

Pensem nesses pontos antes de agredir alguém online.

Porém, nem tudo se resume a problemas.

Uma enorme vantagem da internet é o que os neurocientistas chamam de "cérebro 2.0". Que fala sobre o potencial que as redes sociais têm de multiplicarem nosso capital intelectual. E essa capacidade é enorme. Não só das redes sociais, mas da internet como um todo. 

A internet é um terreno riquíssimo, o que precisamos melhorar são nossas fontes de informação e aprender a medir o que escrevemos, ou melhor, a forma como nos expressamos. Pois acreditem, é possível falar sobre qualquer assunto sem ofender ninguém.

O termo "QI grupal" refere-se à soma total dos melhores talentos de cada pessoa numa equipe, ou num grupo, com uma contribuição em plena força. Acontece que o que deixa o "QI grupal" com menos que seu potencial é a falta de harmonia interpessoal no grupo. Pesquisas de Vanessa Druskat, da Universidade de New Hampshire, mostrou que grupos com inteligência emocional coletiva mais elevada têm um desempenho muito acima da média.

Isso serve para grupos de trabalho, serve para grupos na escola, para seu grupo de amigos e familiares. Se houver harmonia, se a inteligência emocional for desenvolvida em conjunto, os resultados (frutos) serão muito maiores e melhores.

Quando se aplica isso a grupos trabalhando juntos online, um princípio de operação fundamental é que quanto mais canais chegam ao cérebro social mais facilmente sintonizado você poderá estar. Assim, se estiver em uma vídeo-conferência, você tem sinais visuais, corporais e de voz. Mesmo se for uma teleconferência é extraordinariamente rica em sinais emocionais. 

De qualquer maneira, trabalhar juntos apenas por meio de texto é melhor quando se conhece bem a outra pessoa, ou pelo menos se tem alguma percepção dela a fim de ter um contexto ao ler suas mensagens, ultrapassando a propensão comum à negatividade. E o melhor de tudo é deixar seu escritório ou cubículo e se encontrar para conversar com a pessoa.

Então, por favor, acalmem os dedos naqueles momentos de fúria em uma discussão pela internet ou pelo celular. Lembre-se sempre que a pessoa que vai receber, além de não saber como você está se sentindo merece respeito, independente de quem seja.

Obrigado pela atenção!



2 comentários:

  1. Salvei seu tempo há bastante tempo e voltei para ler agora! Em uma pandemia... Dá pra entender muito mais o que tudo isso significa. Obrigada por compartilhar esse conhecimento!

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