quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Sinapses Químicas e substâncias psicoativas

Bom dia pessoal,

Hoje vamos falar um pouco mais sobre sinapses químicas e, principalmente, sobre como as substâncias psicoativas conseguem afetar o funcionamento do nosso cérebro através dessas sinapses.




As sinapses químicas possuem algumas características básicas: o neurônio que manda a mensagem (pré-sináptico) não tem contato físico com a célula que recebe a mensagem (pós-sináptica, que pode ser um neurônio, um músculo ou uma glândula), esse espaço entre elas recebe o nome de fenda sináptica. Por conta da fenda sináptica, é necessário o uso de um mensageiro que consiga chegar até a próxima célula, esses mensageiros são os famosos neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina.

Esse é o ponto, o neurotransmissor!

As substâncias que atuam alterando o funcionamento do nosso cérebro, acabam recebendo o nome de psicoativas. Eu sei que quando você lê psicoativas já pensa em maconha, cocaína, LSD, mas tudo que altera o funcionamento das nossas sinapses (e consequentemente do nosso cérebro) leva esse nome, então entra aqui o álcool, a nicotina, os antidepressivos, os ansiolíticos e muitas outras substâncias, inclusive de uso diário, como a cafeína.



Assim, para uma substância conseguir alterar nossa atenção (ritalina), nossa coordenação (álcool), nossa percepção do ambiente externo e também do interno (cocaína/maconha/LSD), ou diminuir nossa ansiedade (ansiolíticos, vulgo calmante), ela precisa agir em nossas sinapses e, normalmente, o que ela faz é aumentar ou diminuir a quantidade de neurotransmissores liberados durante a comunicação nervosa, e isso é suficiente para gerar seus efeitos (desejáveis ou não).

Vamos pensar em um exemplo muito simples, o da cocaína. 

As características pós uso são comuns a pessoas e animais de laboratório: agitação, maior quantidade de movimentos, falação (seres humanos), taquicardia, perda de apetite e sono. 

Como ela faz isso? Aumentando a liberação do neurotransmissor Dopamina. Vamos visualizar de outra forma: quando a cocaína consegue chegar às regiões do nosso cérebro onde ela age, ela provoca uma chuva de dopamina naquelas sinapses, aumentando a atividade cerebral naquelas regiões.

Pensando dessa forma, com um excesso temporário de dopamina, o que está acontecendo é um aumento da comunicação nervosa e, consequentemente, um aumento da atividade cerebral - faz mais sentido agora a agitação, a falação, as características que uma pessoa apresenta quando utiliza a droga? Faz né? rs.


Observem essa figura, que explica um pouco da ação da cocaína no cérebro:


Agora, vamos visualizar outro exemplo, o de duas substâncias que agem da forma contrária, diminuindo a atividade cerebral. São as substâncias conhecidas como depressoras do Sistema nervoso central (SNC). 

Duas das mais comumente utilizadas por nós: álcool (etanol) e ansiolíticos. Aqui, essas substâncias agem através de um neurotransmissor diferente, conhecido como GABA.

O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do nosso cérebro, e o álcool e os calmantes melhoram a atuação desse neurotransmissor, diminuindo a atividade cerebral em determinas regiões. 

Faz sentido para você o ansiolítico ser um depressor do sistema nervoso? Pensando que a ansiedade é um estado de maior atividade cerebral, principalmente em regiões do sistema límbico como a Amígdala, faz sentido que uma substância depressora, que diminui a atividade cerebral, melhore os sintomas da ansiedade? Faz.

Quem age de uma maneira semelhante são os hipnóticos, a classe de fármacos que utilizamos para o sono.


Deixo um slide meu para vocês entenderem esse conceito um pouco melhor:


Cuidado com as misturas!

Quem toma um ansiolítico não deve consumir álcool. Por que? Duas substâncias depressoras, podem "deprimir" demais seu cérebro. Qual o problema disso? Seu cérebro e seu SNC controlam o funcionamento dos seus órgãos, não faz sentido desorganizar isso, faz?


Para  finalizar, um outro exemplo interessante é o dos fármacos utilizados no tratamento da Esquizofrenia. 

Quais os sintomas mais conhecidos da doença? Alucinações auditivas, vozes na cabeça da pessoa acometida, delírios, tudo isso entra nos Sintomas positivos da doença. Positivos no sentido de "a mais", acima do funcionamento normal. E isso ocorre porque a doença aumenta a liberação de dopamina em algumas regiões do nosso cérebro, como o córtex auditivo (excesso de estímulo provoca as alucinações).

Interessante, mas onde entra o fármaco?

Pensem que para passar sua mensagem, um neurotransmissor precisa se ligar a um receptor. O fármaco utilizado para tratar os sintomas positivos da doença atua como uma rolha, impedindo a ligação da dopamina em excesso com seus receptores. Isso é fantástico, porque assim, mesmo que tenha muito neurotransmissor, ele não consegue passar sua mensagem e a atividade cerebral diminui, cessando assim as alucinações e cia.

Observem a figura:



Era isso meu povo.

Espero que os exemplos tenham ajudado vocês a entender como as substâncias psicoativas agem em nossas funções cerebrais (alterando percepção, comportamentos e etc...) através das sinapses químicas.

A partir de agora, olhem para as substâncias que utilizam, como a cafeína, a taurina (do energético), a nicotina e diversas outras substâncias através dessa ótica das sinapses químicas. Pensando simplesmente em aumentar ou diminuir a atividade cerebral, você consegue enxergar com mais clareza o porque determinada substância gera determinado efeito.


Seguimos!


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