quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Memória e Aprendizado II

Boa tarde pessoal,

Aqui está, o Memória e Aprendizado II.

Na semana passada começamos a discutir um pouco sobre memória.

Para que servem? Por que armazenamos as informações que armazenamos? Para quem ainda não leu, recomendo a leitura do link abaixo antes de continuar:


Agora vamos um pouco mais fundo, entendendo os tipos de memória e quais regiões do nosso cérebro e encéfalo são responsáveis por elas.

Este resumo é baseado no capítulo sobre aprendizado e memória do Livro de Neurociências - Beer e também do Capítulo sobre aprendizado e Memória do Livro Neurociência da Mente e do Comportamento - Lent.





O aprendizado e a memória são, essencialmente, adaptações da circuitaria encefálica ao ambiente, ao longo de toda nossa vida.

E o que isso quer dizer? Quer dizer que nosso cérebro armazena informações sobre as experiências vividas para que possamos responder da melhor forma possível quando se repetir. Ou, para que tenhamos nosso próprio arsenal quando precisarmos de informações para elaborar uma resposta a uma situação diferente, nova. 
Alguns autores consideram nossas experiências como um combustível para o cérebro criar.

  • Memórias: processo pelo qual adquirimos, formamos, conservamos e evocamos (lembramos) informações.
  • Aprendizagem: processo de aquisição de novas informações (conhecimentos, habilidades...).

Após décadas e mais décadas de pesquisas em neurociência, e com papel fundamental de psicólogos e psiquiatras nas pesquisas, descobriu-se diversos tipos de memórias.

Para fins didáticos, elas são divididas em dois grandes tipos de memória: As memórias Declarativas/Extrínsecas (Fatos e Eventos) e as Memórias Não-Declarativas/Intrínsecas (de habilidades, de hábitos e comportamentos).

Elaborei um esquema que contém os tipos e as subdivisões das memórias extrínsecas e intrínsecas:


Memórias Extrínsecas:

Também conhecidas como memórias extrínsecas, são aquelas relacionadas à nossa vida, às nossas experiências, são as memórias de fatos e eventos.

São o tipo de memórias que nos ajuda a construir nossa identidade, nossas particularidades. Ou seja, são as memórias que compõem a nossa personalidade.

A evocação (lembrança) desse tipo de memória é algo consciente, conseguimos acessar, relembrar e utilizar essas memórias de forma consciente.

As memórias extrínsecas são as responsáveis por você saber que é o Goku na figura ou onde fica o estado de São Paulo no mapa do Brasil, qual a moeda da Argentina, e assim por diante.



Mas quais são as regiões do nosso cérebro envolvidas nesse tipo de memória?

A principal, dentre as envolvidas, é o Hipocampo. Como muitos já ouviram falar, o hipocampo é uma das principais regiões do nosso encéfalo envolvidas na formação de memórias.

As outras áreas envolvidas são: o córtex pré-frontal, o córtex parietal e a região entorrinal. A amígdala é outra envolvida na consolidação dessas memórias.

Observe a relação e a localização do Hipocampo e da Amígdala:


Essa proximidade, ou melhor, o fato de Amígdala e Hipocampo ser áreas vizinhas anatomicamente, justifica o motivo de experiências ricas em carga emocional, como nossas conquistas e traumas, terem uma facilidade absurda em ser registradas com muitos detalhes. Como costumo exemplificar, uma memória em 4K, daquelas que conseguimos até lembrar o cheiro, o toque, e outros pequenos detalhes do episódio.



- Memórias Não Declarativas/Intrínsecas:

São as memórias armazenadas para comportamentos, habilidades e hábitos que adquirimos.

Não temos acesso totalmente consciente a esse tipo de informação guardada. 

Para exemplificar, pensem no ato de andar de bicicleta ou dirigir um carro quando se tem experiência, coisas que acontecem quase que automaticamente, sem exigir muito da nossa atenção. 

Você não precisa deixar sua consciência e sua atenção presas a esses movimentos já gravados, você repete eles "inconscientemente" - tipo trocar a marcha do carro.

A Memória Procedural, um de seus subtipos, também conhecida como memória de procedimentos, é o tipo de memória que adquirimos quando aprendemos, após repetição (que gera experiência em algo), uma atividade motora. Aqui, entra aprender a tocar um instrumento, a andar de bicicleta, de skate, e vários outros exemplos que cabem aqui. Mas notem, envolve repetições, comportamento motor, experiência.

Quando o aprendizado é associado ou associativo, o comportamento é alterado pela formação de associação entre eventos. 

Para exemplificar esse tipo de memória associada ao aprendizado associativo, podemos citar a construção de alguns comportamentos, muito bem representado pelos experimentos de Condicionamento Clássico do Pavlov e o experimento do Condicionamento Operante ou Instrumental de Torndicke.



O experimento de Pavlov, conhecido como Condicionamento Clássico, esta bem representado na figura acima. 

Nela, observamos três momentos: 
- O primeiro, onde dois estímulos são mostrados separadamente para o cachorro: o sino, chamado de estímulo condicionante, e o bife, chamado de estímulo incondicionado. A observação do Pavlov foi a seguinte: o cachorro saliva quando vê o bife, mas não quando toca o sino. 

A grande sacada em relação à formação de memória foi associar os dois estímulos. Ele condicionou o cachorro da seguinte forma: toda vez que tocava o sino aparecia a carne. O cachorro, extremamente interessado no pedaço de carne, associou o som do sino à salivação. 

Tanto que, na última parte da imagem, apenas o som do sino gera salivação, mesmo que o bife não seja apresentado. Isso é o que chamamos de estímulo condicionado. Ou seja, um comportamento instalado, que não é algo normal, genético.


Já Thordinicke, que estudou o condicionamento operante ou instrumental, conseguiu ensinar ratos a apertarem um botão ou ativarem uma alavanca. Toda vez que o faziam, recebiam um pedaço de ração. 

O que os ratos entenderam e gravaram na memória? 

Se eu quiser comida, preciso apertar a alavanca. 

Esse tipo de aprendizado, esse tipo de condicionamento, envolve uma ação e uma resposta, ou seja, o comportamento de acionar a alavanca gera uma recompensa, que é receber comida.

Não parece estar relacionada também à sensação de prazer? Por dois motivos, primeiro o fato de se obter uma recompensa (o que já causa liberação de dopamina) e outro que o ato de comer também gera prazer através da liberação de dopamina.

Será que a construção dos nossos hábitos e vícios não se encaixam aqui?

Regiões encefálicas envolvidas nas memórias intrínsecas:

Algumas áreas citadas lá em cima, como o hipocampo e o córtex pré-frontal. Mas a grande diferença aqui, é que o hipocampo não é a chave central para a formação desse tipo de memória. 

Algumas regiões, como os núcleos da base e o Cerebelo, ambos envolvidos diretamente com nossas atividades motoras, são as principais áreas envolvidas na formação desse tipo de memória, de acordo com alguns neurocientistas.

Mas, vamos de um resuminho:


Até onde vai nossa capacidade de memória? 

Temos uma capacidade gigantesca de armazenar informações, de causar inveja nos mais potentes computadores. Porém, existe um limite, e muitas vezes novos conhecimentos são formados em detrimento de conhecimentos antigos esquecidos. 

Traduzindo, para formar novas memórias, aquelas que não são úteis podem ser apagadas. É um mecanismo de melhora da capacidade cerebral, evitando informação desnecessária - quem toma conta disso é a Micróglia, uma das células que fazem parte das células da Glia (ou neuróglias, pros mais íntimos, rs).

Tem como melhorar nossa memória? Sim, principalmente quando passamos a prestar atenção nas atividades que estamos realizando. Atenção, estudo, leitura, hábitos saudáveis, todos eles são eficientes em melhorar nossa memória. O sono então, tem um papel gigantesco nesse processo!!!

Porém, para quem não tem uma memória fotográfica, que lembra de datas e detalhes dos episódios vividos a anos atrás, dificilmente vai atingi-la por meio de alguma técnica específica. 

Existem milhares de livros disponíveis contendo "formulas mágicas", algo como: descubra o segredo para adquirir uma super memória.

Pessoal, a maior parte destes livros não passa de charlatanismo. Não existem milagres, não existem atalhos, que não o esforço e o treinamento.

Mas existem sim, casos impressionantes, como a do artista citado na figura abaixo, que consegui desenhar Tókyo com detalhes, após voar por 10 minutos sobre a cidade:



Finalizamos a segunda parte do tema Memória e Aprendizado, logo vou liberar a terceira parte, onde vamos abordar uma importante questão: Conseguimos apagar nossas memórias? Vocês conhecem o processo de Reconsolidação de memórias? E o de extinção das memórias? 

Bons estudos!

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