segunda-feira, 6 de abril de 2020

Fisiologia Sensorial e Vias de Sensibilidade

Boa tarde pessoal, 
como vocês estão em tempos de quarentena?

Hoje vamos falar um pouco sobre o Sistema Sensorial, mais especificamente de algumas características e das Vias que levam a informação dos receptores até o córtex cerebral.

A primeira parte desta matéria pode ser encontrada no link abaixo, referente à Introdução ao estudo do Sistema Sensorial, onde falo um pouco dos tipos de receptores envolvidos em nossa sensibilidade:


Para complementar o material do link, segue uma imagem que fiz através de um esquema de flechas, para deixar um pouco mais didático o processo que acontece desde a chegada do estímulo ao receptor até a resposta gerada pelo nosso cérebro ao estímulo. Seria algo como o trânsito da informação sensorial.


Até o momento, observamos a metade superior da Figura, até o processo de transdução dos estímulos sensoriais. Nesta aula, começamos a entender um pouco mais da metade inferior da figura, ou seja, o percurso que a informação sensorial percorre entre o receptor e o córtex cerebral.

Para iniciarmos a discussão, duas figuras que gosto bastante sobre a Medula Espinhal, aproveite-as para focalizar na formação dos nervos espinhais. Sendo um pouco mais específico, na presença de duas raízes que dão origem a cada um dos nossos 32 pares de nervos espinhais:

Atlas de Anatomia - Netter (Clássico).




Quando observamos a formação dos nervos espinhais, principalmente no quadro inferior da segunda figura, conseguimos notar uma característica muito importante: as raízes anteriores ou ventrais são as raízes motoras do nervo espinhal, ou seja, a porção eferente, que leva a informação do cérebro para os músculos. Já a raiz posterior ou dorsal, é a raiz sensitiva, que cumpre o papel de aferência, ou seja, leva a informação dos receptores sensoriais que se encontram na periferia do nosso corpo (SNP) para serem interpretadas no encéfalo.

Hoje, focamos nas sensações somáticas, aquelas relacionadas à nossa Sensibilidade Corporal, como o tato, por exemplo. Essas sensações são mais amplas, muitas vezes difusas, o que acaba gerando uma classificação para os outros sentidos, que são conhecidos como Sentidos "especiais", que inclui visão, audição, paladar, olfação e o equilíbrio.

O que todos esses sentidos "especiais" tem em comum? Todos estão presentes na nossa cabeça! 

Aha Bruno, mas então as sensações somáticas são corporais e os sentidos especiais cranianas ou faciais? Não exatamente.
Vocês concordam comigo que vocês tem sensibilidade em todo o rosto, na nuca, no couro cabeludo... Certo? Então, também são sensações somáticas e assim, parte da sensibilidade corporal.

- Classificação das Sensações Somáticas:

Uma classificação fisiológica, divide as sensações somáticas em três grandes grupos:

  1. Sensações somáticas mecanorreceptivas: que incluem aquelas relacionadas ao Tato e à Posição do nosso corpo. Os estímulos necessários para ativas essas sensações são os deslocamentos mecânicos dos tecidos do nosso corpo.
  2. Sensações termorreceptivas: relacionadas à percepção de frio e calor (lembrando que são receptores distintos que detectam cada modalidade). Assim, os estímulos necessários para ativar esses receptores são o aumento ou a diminuição da temperatura.
  3. Sensações de Dor: aquelas captadas pelos nociceptores (receptores de dor), advindos de estímulos físicos ou químicos capazes de lesar nossos tecidos (nocivos).

O foco da nossa discussão hoje são as duas sensações inclusas no tópico 1, as sensações somáticas mecanorreceptiva, Tato e Posição Corporal.

Quais seriam então as modalidades sensoriais relacionadas ao tato? São quatro: Tato, Pressão, Vibração e Cócegas/Prurido. Lembrando que prurido é o termo científico para nossas famosas coceiras.

E as modalidades sensoriais relacionadas à nossa posição corporal? São duas, sensação de posição estática e velocidade dos movimentos.

Existem outras classificações relacionadas à sensibilidade somática, das quais acredito que três precisam ser citadas:
  • Sensações Exterorreceptivas: que englobas as sensações relacionadas à superfície do nosso corpo.
  • Sensações Proprioceptivas: relacionadas ao estado físico do nosso corpo, como posição, sensações provenientes dos tendões e músculos, pressão nos pés e também a sensação de equilíbrio.
  • Sensações viscerais, que como o próprio nome diz estão relacionadas às nossas vísceras (nossos órgãos internos).

Para seguirmos em nossa discussão, observe as figuras abaixo. A primeira, mostra um corte simplificado da estrutura de nossa pele, mostrando apenas a Epiderme e a Derme, observem, nesta figura, a riqueza de receptores sensoriais distribuídos nestas duas camadas. A figura que se segue, retirada do Livro do Guyton, mostra a variedade de mecanorreceptores presentem em nossa pele:



Tratado de Fisiologia Médica - Guyton

Podem o tato, a vibração e a pressão ser consideradas a mesma Modalidade Sensorial? Não.
Mas, apesar de modalidades sensoriais distintas, possuem muitos receptores sensoriais em comuns.

Mas, qual seria a diferença entre essas três modalidades, que sentimos durante todo o dia?
  • Sensibilidade Tátil: referente aos estímulos de receptores para o tato na pele ou nos tecidos imediatamente abaixo.
  • Sensação de Pressão: advindas de pressão em tecidos mais profundos.
  • Sensação de vibração: percebida em sinais repetitivos e rápidos.

Acho que vale ressaltar aqui, visto que focamos nos Corpúsculos de Pacini na aula passada, dos Corpúsculos de Meissner.

Os Corpúsculos de Meissner são receptores mecânicos táteis, capazes de perceber o tanto com um grande qualidade, ou seja, são muito sensíveis.

Estes receptores enviam suas informações para a Medula espinhal através de fibras nervosas (axônios) conhecidas como αβ.
Estes receptores são encontrados em abundância na ponta dos dedos e nos lábios, regiões extremamente sensíveis do nosso corpo (sensações táteis muito desenvolvidas).

Se adaptam rapidamente e são particularmente sensíveis ao movimento de objetos na superfície de nossa pele.

A seguir, como citei a fibra Alfa-Beta, vou apresentar uma figura que mostra os tipos de fibras nervosas que carregam informações no nossos Sistema Nervoso:



O que precisamos concluir desta figura com baixa resolução? 
Dois pontos principais, o diâmetro da fibra nervosa em si (laranja) e da bainha de mielina que a circunda. Quanto maior o diâmetro destas duas estruturas, maior a velocidade com que a informação nervosa vai percorrer essas fibras. 

Observem que, para complementar nossa discussão logo acima, os mecanorreceptores, como os Corpúsculos de Meissner citados, enviam suas informações via fibras Alfa-Beta, o segundo tipo de fibra mais veloz em nosso Sistema Nervoso.

Assim, podemos concluir através do texto e da imagem que os tipos mais críticos de estímulos sensoriais são transmitidos por fibras de condução mais rápida. Entrariam aqui estímulos como localização precisa da pele e as mínimas graduações de intensidade e suas variações.

Outros sinais menos discriminativos, como as cócegas, são transmitidos por fibras menos velozes e, no caso específico das cócegas e das coceiras, por uma fibra C, fina e amielinizada (sem bainha de mielina).

Mas, vamos ao grande ponto da aula em questão:

- Vias Sensoriais para a Transmissão dos Sinais Somáticos até o SNC:

As informações sensoriais do nosso corpo entram na medula espinhal através das raízes posteriores (dorsais) dos nervos espinhais, como mostrado em figuras acima.

Mas, o que acontece do ponto de entrada na medula até a informação sensorial chegar ao nosso cérebro? Ela pode percorrer um dos dois caminhos possíveis citados abaixo, as duas vias:


  1. Sistema da Coluna Dorsal-Leminisco Medial
  2. Sistema Anterolateral.

Primeiro, falamos sobre o Sistema da Coluna Dorsal-Lemnisco Medial:

Das características gerais, vale citar:
  • Fibras grossas e mielinizadas para transmissão da informação, a uma velocidade que varia de 30 a 110 metros por segundo (m/s).
  • Transporta informações referentes à Sensibilidade Discriminativa, com alto grau de precisão e localização.

Agora, eis a figura do sistema:

Tratado de Fisiologia Médica - Guyton

Como a figura é muito extensa, e pode ficar ruim de visualizar importantes detalhes, fiz os dois próximos slides para ressaltar alguns pontos desta via de transmissão sensorial para meus alunos:



Notem, primeiro de tudo, que o slide de cima é a parte de baixo da figura inicial, que mostra onde tudo começa. Existem dois pontos de entrada sensorial representados, um pé (que pode ser visto como membro inferior) e a mão (que pode ser vista como o membro superior). Observem que, em diferentes pontos, tanto as informações vindas do pé quanto da mão entram pela coluna dorsal da medula, através das raízes posteriores dos nervos espinhais. 

Ao entrar na Medula, essa informação sensorial continua seu trajeto ascendente, visando chegar ao córtex capaz de interpretá-la. Ao chegar no tronco encefálico, na porção inferior do bulbo, essas fibras nervosas fazem sinapses com os neurônios de segunda ordem, que fazem parte ou do Núcleo Grácil ou do Núcleo Cuneiforme. Além disso, esses neurônios de segunda ordem cruzam de um lado para o outro do bulbo. Após cruzar, as fibras continuam seu trajeto ascendente Via Lemnisco Medial, daí o nome da via, passando pela ponte e mesencéfalo, indo fazer uma sinapse com os neurônios de terceira ordem no Tálamo. A região talâmica que recebe essas informações é conhecida como Complexo Ventrobasal do Tálamo (é uma área de retransmissão sensorial talâmica - o tálamo funciona como um centro de distribuição das informações sensoriais). Essas informações saem do Tálamo e chegam ao Córtex Somatossensorial, que será mostrado em uma figura logo abaixo.

Para complementar este estudo, ao longo do seu trajeto no tronco encefálico, a via estudada recebe informações vindas de fibras do nervo trigêmio, que trazem as informações somáticas do nosso rosto.

Observem, nas duas figuras abaixo, retiradas do Tratado de Fisiologia Médica do Guyton, a área cortical conhecida como Somatossensorial, tanto a I quanto a II, responsáveis por interpretar as informações sensoriais do nosso corpo:



Aproveitando o gancho da Área Somatossensorial, observem como nosso cérebro "enxerga" nossas áreas sensitivas e nossas áreas motoras corporais - os conhecidos Homúnculos de Penfield:


Para finalizarmos a extensa discussão da matéria de hoje, fiz uma tabela comparativa entre os tipos de sensibilidade "transportadas" pela Via Dorsal Lemnisco Medial e a via Anterolateral:


Como essa discussão está sendo realizada com minha turma de Fisioterapia, dei maior enfoque na via Lemnisco Medial, porém, além da tabela mostrada acima, deixo a figura abaixo que mostra a Via Anterolateral, também retirada do livro do Guyton:

Tratado de Fisiologia Médica - Guyton

Observem, nesta figura, para fechar a discussão, as semelhanças e diferenças com a Via anteriormente descrita.

Espero que o tempo despendido na leitura seja de grande utilidade nos estudos de vocês.

Bons estudos!



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