sexta-feira, 10 de abril de 2020

Materiais Biológicos

Boa noite pessoal,
dando continuidade ao nosso curso de Bioquímica Clínica, vamos falar um pouco hoje sobre Materiais Biológicos.


Para darmos início à nossa discussão, o primeiro passo é definir o que é considerado material biológico em Análises Clínicas:
  • Líquidos;
  • Secreções;
  • Excreções;
  • Fragmentos de Tecidos.

Dentre eles, qual o mais utilizado em Bioquímica Clínica? Os líquidos, quando pensamos no sangue, e excreções, quando pensamos na urina.

Quando coletamos uma amostra, a mesma deve ser preservada com alguns cuidados mínimos, para garantir a validade dos resultados após a análise. Ou seja, preservando a amostra, garantimos que os resultados obtidos reflitam fielmente o que está acontecendo no organismo do paciente.

Lembrem-se, a fase pré-analítica é a maior fonte de erros dentro de um laboratório de análises clínicas, equivalente a cerca de 70%.

Para minimizar esses erros pré-analíticos, devemos prestar atenção e seguir as legislações que regem cada passo da coleta da amostra até a análise.

- Transporte de Amostras:

Quando a coleta do material biológico é realizada fora do laboratório onde acontecerá o ensaio clínico (análise), o transporte  e o armazenamento tornam-se fatores importantes a serem considerados.

Por que?
Porque podem afetar diretamente a viabilidade das amostras, pois caso não sejam realizados de forma correta, vão alterar os componentes da amostra.

Vocês sabem quais são os dois principais fatores que afetam a qualidade das amostras biológicas quando elas são coletadas fora do laboratório?

A temperatura dentro da embalagem e o tempo entre a coleta e a análise. Lembrem-se aqui que, o tempo que a amostra é válida e aceita para os testes varia de acordo com a metodologia de cada teste, o que podemos encontrar em detalhes nas bulas que acompanham os kits dos testes.

A resolução que regulamenta o transporte de materiais biológicos é a Resolução número 20, de 10 de Abril de 2014.

Ela classifica as substâncias infectantes em duas categorias: A e B.

Os materiais biológicos com os quais trabalhamos em Bioquímica Clínica se encaixam na categoria B, que diz:
"uma substância infecciosa que não satisfaça os critérios para a inclusão na categoria A. A designação oficial de transporte da categoria B é substância biológica. São classificadas como UN 3373."

Alguns símbolos devem ser utilizados no recipiente que transporta as amostras biológicas:



O por que dessa identificação? Porque mesmo parecendo amostras simples, que não demonstram perigos, precisamos ter em mente que todo material biológico apresenta risco de infecção.

- Armazenamento da Amostra:

Alguns aspectos precisam ser considerados quando falamos no tempo em que uma amostra pode ficar armazenada:

  • Tipo do material biológico que estamos trabalhando (soro, plasma, fezes, urina, esfregaço...);
  • Os exames que serão realizados neste material (comentamos ali em cima);
  • A finalidade do exame, se é rotina ou se é para pesquisa;
  • A estabilidade do material.
Laboratórios grandes aqui do país, indicam em seus sites e em seus materiais públicos que seguem as orientações dos kits que serão utilizados em cada material. Novamente, reforço, foquem na bula do kit que irão utilizar, ela é riquíssima em informações necessárias para evitas os erros comuns da Bioquímica Clínica.

Após discutir o armazenamento e o transporte, nos casos onde são necessários, vamos conversar um pouco sobre a coleta do sangue? Pois, de uma forma geral, o sangue venoso é de longe a amostra mais utilizada na Bioquímica Clínica, independente se o teste a ser realizado tem preferência pelo soro ou pelo plasma.


- Sangue como amostra:

Para iniciar, qual a composição do sangue, alguém se lembra?

Segue uma figura para responder essa pergunta:


A maior parte do nosso sangue é composto pelo plasma, que tem como seu maior componente a água. Além disso, encontramos glóbulos brancos, que são os famosos leucócitos, as nossas células de defesa, que fazem parte do sistema imunológico. Para fechar os componentes, temos os glóbulos vermelhos, que possuem a função de carrear o oxigênio dos pulmões para todas as células do nosso organismo, entregando para elas o combustível essencial para a vida, utilizado no processo de respiração celular pela Mitocôndria.

Uma figura que mostra de forma simplificada os componentes celulares do nosso sangue:



Flebotomia é o nome dado ao processo de coleta do sangue. Nome clássico, muito utilizado antigamente, mas que perdura até hoje. Normalmente, é realizado de três maneiras:
  1. Punção Venosa;
  2. Punção Arterial;
  3. Punção de Pele.
Dentre os três métodos, a punção venosa é disparado o mais utilizado.

As veias levam o sangue da periferia para o centro do sistema circulatório, o que conhecemos como sangue desoxigenado ou sangue venoso.

São classificadas em:
  • Grande, médio e pequeno calibre, além das vênulas;
  • Dependendo da localização, podem ser classificadas como superficiais ou profundas.
Ai surge uma questão bem característica. Por que as veias do membro superior são as mais utilizadas para flebotomia?

Porque essas veias superficiais são subcutâneas e normalmente são bem visíveis (devido à transparência da pele), sendo mais calibrosas no membro superior. Assim, são palpáveis e de fácil visualização (maioria dos casos), o que as tornam as preferidas para coleta de sangue venoso.


As duas outras amostras mais comuns são o sangue arterial, rico em oxigênio porém mais difícil de coletar. E também o sangue obtido pela punção da pele, uma mistura de sangue venoso e sangue arterial.

Porém, mesmo o sangue venoso sendo o mais utilizado como amostra, devido às suas características e a sua fácil retirada, normalmente usamos o Plasma ou o Soro nas análises bioquímicas, dependendo do teste a ser realizado.

Ambos, soro e plasma, são derivados da centrifugação do sangue total, e diferem em seus componentes e características.
Mas qual a diferença entre essas duas amostras?

As principais diferenças entre soro e plasma advém do fato de que os tubos para coleta de soro não contém anticoagulante, então temos a coagulação do sangue neste tipo de amostra. Já o plasma, é coletado em tubos com anticoagulante, o que obviamente impede que ele coagule. Assim, a diferença entre as duas amostras fica mais clara na figura abaixo:


Ou seja, a diferença entre eles é a presença ou não do fibrinogênio e dos outros fatores de coagulação.

- Características do soro:

Quando o sangue coletado não é tratado com anticoagulante, espera-se a coagulação e solta-se esse coágulo pelas laterais do tubo, antes da centrifugação. Esse tempo entre a coleta e a formação do coágulo leva em torno de 15 minutos, nos quais a amostra deve ser mantida em temperatura ambiente.

Após a coagulação, devemos soltar o coágulo pelas laterais do tubo com um bastão de vidro, e só ai levar a amostra para a centrífuga, onde normalmente ela fica por 5 minutos a uma velocidade de 2.500 RPM (rotações por minutos). Após este processo, coletamos o sobrenadante.

Os dois tubos que seguem na foto abaixo são os utilizados para a coleta de soro, sendo a diferença entre eles a presença ou não de um gel separador, que agiliza a coagulação e melhora o processo de separação na centrífuga:


Mas e o plasma?

- Plasma:

Como falamos ali em cima, o plasma é o soro acrescido dos fatores de coagulação, uma vez que a amostra é coletada em tubos que contém anticoagulante, impedindo o processo.

O que difere, na coleta do plasma, é o tipo de anticoagulante utilizado, o que representamos com cores diferentes dos tubos de ensaio que serão utilizados.

Notem que, os diferentes tipos de anticoagulantes possuem características distintas, sendo utilizados cada um para um determinado tipo de análise, pois geram soros com características específicas. Porém, em comum, todos impedem a coagulação sanguínea.


Os tubos, suas tampas e as características específicas de cada anticoagulante serão apresentados nas figuras abaixo:




Observem bem as características de cada tubo e tentem obter respostas, como por exemplo, porque os tubos de tampa cinza são ideias para dosar a glicemia do paciente? Esse tipo de olhar crítico é que diferencia um profissional dos demais.

Espero que tenham gostado da matéria de hoje.
Em breve lanço as outras aulas do curso.

Bons estudos!

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