quarta-feira, 6 de março de 2019

Introdução à Psicobiologia e Psiconeurologia

Boa tarde pessoal,
Essa é a primeira matéria sobre a disciplina de Psicobiologia e Psiconeurologia.

É uma aula introdutória com conceitos básicos do corpo humano, mesclando conceitos de anatomia e fisiologia.
Alguns conceitos já foram mais profundamente explicados em outras matérias aqui no blog, e quando citá-los aqui, vou colocar o link da matéria correspondente.

A primeira aula de Psicobiologia e Psiconeurologia começa com a definição e a desmistificação dos Neuromitos. Neuromitos são os mitos mais comuns que rondam o conhecimento da estrutura e do funcionamento do nosso órgão mais fantástico, o cérebro.
São informações errôneas, propagadas em alguns casos a séculos, que precisamos parar de acreditar para que entendamos melhor o nosso cérebro.

Fiz uma matéria específica dos neuromitos, que se encontra no link abaixo:

http://plantandociencia.blogspot.com/2019/03/mitos-sobre-o-cerebro-humano.html


- Cérebro Humano:



O sistema nervoso (SN) é um sistema único, devido à complexidade dos processos cognitivos e das ações de controle que pode executar.

A cada minuto, milhões de informações chegam ao nosso cérebro do mundo que nos cerca (meio ambiente) através dos nervos e receptores sensoriais. É assim que percebemos e nos adaptamos às situações que nos rodeiam.

Quem é o grande responsável por trás de tantas funções importantes para o nosso organismo? Os neurônios.



Nesse momento da disciplina, precisamos ter em mente os três componentes básicos de uma célula nervosa (neurônio):

  1. Corpo Celular: onde se encontra o núcleo e diversas organelas;
  2. Dendritos: pequenas ramificações que saem do corpo celular;
  3. Axônio: ramificação maior e única que sai do corpo celular e se estende até formar o terminal axônico.


Esses neurônios se comunicam entre si ou com os órgãos-efetores através das sinapses, que são o local de contato entre os neurônios para a passagem de informação (passagem dos impulsos nervosos).



- Divisões do Sistema Nervoso:

O Sistema nervoso humano é dividido em duas grandes porções:

  1. Sistema Nervoso Central: composto pelo encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e pela medula espinhal;
  2. Sistema Nervoso Periférico: composto pelos nervos, gânglios e receptores sensoriais. É o responsável pela troca de informações entre o corpo e o meio ambiente.

O Sistema sensorial, componente do SNP, é composto pelos nossos conhecidos 5 sentidos: Visão, Audição, Olfato, Paladar e Tato.

Normalmente, esses sentidos funcionam em perfeita sintonia. Além disso, nossos processos cognitivos, como a atenção, pode influenciar a sensibilidade desses sentidos.
Um exemplo que sempre utilizo para visualizarmos essas alterações de sensibilidade é quando deixamos para estudar para a prova 15 minutos antes dela começar na cantina da faculdade. O que acontece que conseguimos prestar atenção no que estamos lendo apesar de todo o barulho que nos cerca? A atenção permite que os neurônios responsáveis pela visão e pelo interpretação da leitura ficam mais ativos, enquanto neurônios relacionados à audição e ao olfato, por exemplo, fiquem menos ativos. Assim, conseguimos prestar atenção e entender o que estamos lendo, sem absorver todas as informações que nos cercam.

Mas, e quando algum desses sentidos não funciona perfeitamente?
Gosto muito de utilizar as alucinações como exemplo. Resultantes de alguns bugs que nosso sistema visual sofre dependendo das cores, do contraste ou de outras informações contidas em uma figura:


A ilusão apresentada na figura acima, conhecida como ilusão de Herman Grid, ocorre devido a um processo conhecido como inibição lateral. Onde o contraste acentuado da cor que aparece em nossa visão periférica faz com que as células fotorreceptoras na retina tornam-se confusas e criam pontos que não existem.

A ilusão de Ebbinghaus: cérebro faz julgamento dobre o tamanho dos objetos utilizando os objetos adjacentes. No exemplo acima, as duas bolas laranjas possuem o mesmo tamanho. Ou seja, o tamanho dos objetos ao redor do item central podem alterar nossa percepção sobre ele.

Dentre outros exemplos:
- Organização Funcional do Corpo Humano:

Para entender a organização funcional do corpo humano, precisamos saber alguns conceitos da Fisiologia Humana.

A fisiologia humana tenta explicar as características e os mecanismos específicos do corpo humano que fazem dele um ser vivo. Então, estuda a função dos sistemas orgânicos do ser humano.

O próprio fato de estarmos vivos é o resultado de complexos sistemas de controle, como exemplo:

  • Fome - nos faz buscar alimentos;
  • Medo - nos faz buscar abrigo para nossa proteção;
  • Outros instintos - nos faz buscar parceiros para não ficarmos sozinhos e nos reproduzir;

Esses atributos especiais, unidos ao fato de pensarmos, imaginarmos e criarmos uma cultura, nos permite sobreviver e existir sob as mais variáveis condições. Por exemplo, nós, que vivemos no Brasil e uma pessoa que vive na Noruega (condições climáticas, culturais, geográficas, completamente diferentes).

A unidade básica funcional do corpo humano é a Célula. Independentemente do sistema ou órgão que estamos estudando. existe uma ou mais células características por trás de suas funções. Exemplo são as células hepáticas (hepatócitos), os neurônios (células nervosas)... Ou seja, cada tipo de célula é especialmente adaptado para realizar uma ou algumas funções específicas.


É importante também termos consciência da sequência de organização do nosso corpo, como apresentado na figura abaixo:


Exemplo de células, suas funções e quantidades específicas:


Apesar de todas as diferenças em suas estruturas (morfológicas) e em suas funções específicas, todas as nossas células possuem mecanismos básicos em comum:
  1. Oxigênio como fonte de energia para todas as células, através da respiração celular nas mitocôndrias;
  2. Mecanismos químicos que transformam nutrientes em energia são basicamente os mesmos;
  3. Todas liberam produtos finais do seu metabolismo (gás carbônico, ureia...)

- Volume e composição dos líquidos corporais:

A água constitui, normalmente, entre 50-70% do nosso peso corporal. Em um exemplo clássico, um homem de 70 kg que possui 65% do seu peso em água teria aproximadamente 45,5 litros ou kg de água.
Importante lembrarmos que a quantidade de água é inversamente proporcional à quantidade de gordura em nosso corpo, ou seja, quanto mais gordura no organismos, menor a quantidade de água.

A água corpórea total é divida em dois grandes compartimentos: a água que se encontra dentro das células (Líquido Intracelular ou LIC) e a água que se encontra fora das células (Líquido Extracelular ou LEC). o LIC corresponde a dois terços de toda a nossa água, ou seja, dois terços da água que constitui nosso corpo se encontra dentro das nossas células. O restante, se encontra fora das células no LEC, que pode ainda ser dividido em líquido intersticial (líquido que banhas as células) e plasma (porção líquida do sangue, dentro dos vasos sanguíneos).


O líquido extracelular (LEC) então, possui todos os nutrientes e íons necessários para manter a vida das células. Assim, todas as células do nosso organismo são banhadas pelo mesmo líquido, com as mesmas composições (porção do LEC - líquido intersticial). Por isso, quando olhamos a bibliografia, o LEC é também conhecido como "MEIO INTERNO", pois banha todas as células do corpo e permite que elas vivam em um ambiente estável.

Um termo muito comum em fisiologia é a Homeostasia. Homeostasia diz respeito à regulação do organismo para a manutenção de um equilíbrio dinâmico (dinâmico porque está sempre em movimento, sempre sendo ajustado  alterado) com o ambiente que nos cerca. Seria, em outras palavras, a manutenção de condições quase constantes no meio interno.

Assim, conseguimos imaginar o papel fundamental do LEC (meio interno) na manutenção desse equilíbrio - ao manter todas as células do nosso corpo na mesma condição. Para isso, ocorrem trocas constantes de nutrientes e outras moléculas entre o Líquido intersticial e o plasma (as duas porções do LEC), garantindo um equilíbrio dinâmico (homeostasia).

Como dito lá em cima, nosso organismo depende de diversos mecanismos de controle para manter essa homeostasia, para manter esse equilíbrio. Mas, apesar de variados, os mecanismos de controle do nosso corpo possuem algumas características em comuns. São os mecanismos de feedback.

O mecanismo de feedback pode ser definido como um conjunto de respostas produzidas pelos sistemas do nosso corpo diante de um desequilíbrio. O termo feedback é normalmente traduzido para Retroalimentação.

Existem dois tipos:
  • Negativo: provoca uma mudança negativa (contrária) em relação à alteração inicial, ou seja, um estímulo contrário àquele que levou ao desequilíbrio. É de longe o mais comum em nosso organismo.
  • Positivo: aumenta o estímulo que gerou o desequilíbrio, fazendo com que os valores estejam cada vez mais diferentes dos valores considerados normais. Ocorrem em menor quantidade em nosso organismo.
Precisamos entender o seguinte aqui: como nosso corpo tenta sempre se manter em equilíbrio (homeostase), para que funcione de uma maneira melhor e prolongue nossas vidas, é fácil de entender porque o mecanismo de feedback negativo é mais utilizado do que o positivo. O feedback negativo é contrário ao estímulo que causou o desequilíbrio, ou seja, busca trazer o corpo de volta à homeostase. Enquanto o feedback positivo aumenta ainda mais o desequilíbrio inicial, ele aumenta o estímulo inicial que gerou o desequilíbrio.


Um exemplo de feedback negativo:


Um exemplo de feedback positivo:


Concluindo nossa primeira aula de Psicobiologia e Psiconeurologia:

Nosso corpo é uma sociedade com cerca de 100 trilhões de células, organizadas ou não, onde cada uma contribui para a manutenção das condições homeostáticas do LEC (meio interno).
Desequilíbrios fazem com que todas as células sofram. Disfunções moderadas levam a doenças enquanto disfunções extremas podem levar à morte.

Bons estudos pessoal,
qualquer dúvida comentem abaixo ou me encaminhem um e-mail.