Boa noite pessoal,
dando continuidade ao nosso curso de Imunologia Clínica, hoje vamos falar um pouco sobre Imunidade Celular.
A primeira aula do curso vocês encontram aqui:
Para iniciarmos a discussão, precisamos lembrar que a Imunidade Celular, aquela que é responsabilidade dos Linfócitos T (tanto o auxiliar quanto o citotóxico), depende de um outro tipo de célula, que conhecemos como Células apresentadoras de antígenos (APCs).
Então, nada mais justo do que começar falando delas, explicando como elas trabalham para processar e deixar o antígeno em uma forma apresentável para os linfócitos T.
- Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC):
O complexo principal de histocompatibilidade é o verdadeiro responsável, nas APCs, por processar e apresentar os antígenos para os linfócitos T.
Ele apresenta antígenos vindos de: bactérias, fungos, protozoários, vírus e células não próprias com MHC incompatível (sim, é o MHC que dificulta os transplantes de órgãos).
Falando brevemente de transplante, pois teremos uma aula específica sobre eles, observem o maravilhoso slide que fiz:
No exemplo do slide acima, a pessoa representada pelo bonequinho veio a óbito, porém, tinha tomado em vida a sábia decisão de doar seus órgãos. Seus dois rins, em bom estado, foram doados um para cada receptor (A e B), que estavam na fila aguardando. Para o receptor A, o MHC do doador era incompatível, enquanto para o receptor B, o MHC era compatível.
O que acontece em cada um dos casos? No caso do receptor A, com MHC incompatível, o sistema imunológico dele vai reconhecer o órgão como estranho, como um invasor, e vai atacá-lo, rejeitando o transplante. Enquanto o receptor B, apesar de tomar os medicamentos para suprimir a resposta, passará por uma adaptação mais fácil em relação ao órgão.
Mas então, voltando para nossa aula de hoje, o MHC é o responsável por apresentar o antígeno para os linfócitos T.
A figura abaixo, retirada da versão online do famoso livro Imunologia Básica, do Abbas, mostra algumas característica interessantes do MHC, como o fato de existirem muitos alelos diferentes na população e também o fato de existir uma expressão codominante, ou seja, tanto o alelo vindo da mãe quanto o alelo vindo do pai são expressos, e essas duas características garantem uma diversidade de resposta a inúmeros antígenos peptídeos microbianos.
Além dos dados citados, a figura também mostra qual tipo de MHC apresenta para qual tipo de linfócito, um spoiler do que veremos logo adiante.
Existem duas classes de MHC, o MHC de classe I e o MHC de classe II:
- MHC de classe I: responsável por reconhecer antígenos intracelulares, como os virais, e apresentá-los para os linfócitos T citotóxicos (CD8+).
- MHC de classe II: responsável por reconhecer os antígenos extracelulares e apresentá-los para os linfócitos T auxiliares (CD4+).
Mas, o importante aqui, para complementar as informações acima, é entender como esses antígenos são processados por cada uma das classes de MHC, o que é muito bem representado na figura abaixo:
Imunologia Básica - Abbas
O primeiro ponto a ser observado na figura é que ela começa explicando o MHC de Classe II e depois, em baixo, o MHC de classe I.
É uma figura muito didática, que divide o processo em quatro etapas: Captação do antígeno, Processamento do antígeno, Biossíntese do MHC e Associação Peptídeo-MHC.
Vou seguir a ordem da figura e começar explicando pelo MHC de classe II.
- MHC de classe II e apresentação de antígenos:
Como dito ali em cima, o MHC de classe II é o responsável por processar antígenos extracelulares e apresentá-los para os linfócitos T CD4+.
Como são antígenos extracelulares, o processo começa com a endocitose do antígeno. Observem que, desde a endocitose até o final do processo, o antígeno permanece dentro de vesículas, uma característica desse processo. Depois de estar dentro da célula, o antígeno é digerido pelos lisossomos. Enquanto acontece esse processo de digestão, o MHC de classe II está sendo produzido dentro do retículo endoplasmático. Notem que, o MHC também sai do retículo endoplasmático dentro de uma vesícula, que vai se fundir com a vesícula que contém o antígeno já processado. Após união das vesículas, o antígeno se liga ao MHC de classe II. Esse complexo, MHC de classe II-antígeno é levado até a membrana celular e exposto do lado de fora da mesma, onde consegue se ligar aos linfócitos T auxiliares, assim, apresentando o antígeno para essas células.
- MHC de classe I e apresentação de antígenos:
Observem na figura, que o processo incia de forma distinta, pois, como falamos lá em cima, os antígenos aqui são intracelulares. Então, além de não sofrer o processo de endocitose, os antígenos não estão dentro de uma vesícula, eles estão no citoplasma. Como são antígenos maiores, quem faz o processo de digestão ou metabolização destas partículas são as Proteossomas, e, após processado, o antígeno entra no Retículo Endoplasmático através de uma proteína transportadora, conhecida como TAP. Dentro do Retículo endoplasmático, onde é produzida a molécula de MHC de classe I, o antígeno se liga a esta, e, a partir desse ponto, saem em uma vesícula para o citoplasma, onde caminham em direção à membrana celular. São externalizados e, assim, conseguem ser apresentados ao Linfócito T citotóxico (CD8+).
Todas as células nucleadas do nosso organismo possuem e expressam o MHC de classe I, enquanto o MHC de classe II é produzido especificamente nas células Dendríticas, nos fagócitos mononucleares, nos linfócitos B, nas células do Timo e nas células endoteliais.
Entendido o processamento dos antígenos, podemos agora falar da Imunidade Celular.
- Imunidade Celular:
Antes de iniciar, precisamos lembrar que a Imunidade Celular, junto à Imunidade humoral (dos linfócitos B e dos anticorpos), são os dois tipos de Imunidade Adquirida do nosso organismo.
Como podemos ver na figura abaixo:
Imunologia Básica - Abbas
A imunidade mediada por células é considera o braço da resposta imune adaptativa que fica consegue combater as infecções causadas por microrganismos intracelulares.
Existem duas maneiras pelas quais os micróbios (independente do tipo) encontram refúgio dentro das células do nosso corpo.
- Podem ser micróbios englobados por fagócitos, que, mesmo englobado, desenvolveram técnicas para não serem destruídos. Ou seja, se tornaram resistentes à atividade microbicida dos fagócitos. Alguns, inclusive, conseguem escapar para o citoplasma e começam a utilizar os nutrientes da célula ao seu favor. Para completar, quando chegam ao citoplasma, eles se tornam imunes aos mecanismos microbicidas, pois os mesmos não conseguem agir no citoplasma para evitar destruir componentes da células. Dessa forma, eles marcam dois gols em uma única jogada.
- A segunda maneira são os vírus, que conseguem se ligar a muitos receptores celulares e depositar seu conteúdo dentro da célula. Lembrem que, no caso dos vírus, eles necessitam do maquinário da célula para se reproduzir e se propagar, pois não possuem as organelas necessárias para realizarem esse processo sozinhos. Além disso, é importante ressaltar que nossas células não possuem mecanismos intrínsecos para combater os vírus.
Ambos os processos são apresentados na figura abaixo:
Imunologia Básica - Abbas
- Etapas das respostas mediadas por linfócitos T:
Aqui, estudaremos a série de etapas que levam ao aumento do número de linfócitos T específicos para o antígeno e também na mudanças de Linfócitos T virgens em Linfócitos T efetores.
As etapas são as seguintes:
- Reconhecimento do Antígeno;
- Ativação - citocinas e receptores para citocinas - via autócrina;
- Proliferação Celular, também conhecida como Expansão Clonal.
- Diferenciação em células efetoras e células de memória.
Todo esse processo pode ser resumido nas duas figuras que se seguem, também retiradas do Livro Imunologia Básica do Abbas:
- Etapa 1 - Reconhecimento do Antígeno:
Para iniciar a resposta das células T, é necessário que elas reconheçam e se liguem a diversos receptores e ligantes que existem na superfície das células apresentadoras de antígenos (APCs). Como apresentado na figura abaixo:
Imunologia Básica - Abbas
- Etapa 2 - Expansão Clonal:
Quando os linfócitos são ativados pelo antígeno e por alguns outros co-estimuladores, dão início à proliferação, o que começa acontecer em cerca de 1 ou 2 dias. O resultado desse processo é a expansão de clones que são específicos ao antígeno em questão.
Essa expansão fornece, rapidamente, uma enorme população de linfócitos T antígeno-específicos, que podem ser transformados em células efetoras aptas para combater a infecção.
O processo é representado na figura abaixo:
Imunologia Básica - Abbas
- Etapa 3 - Diferenciação de Células T imaturas/virgens em células T efetoras:
Uma parte dessas células que foram geradas no processo de Expansão Clonal, representado acima, se torna células efetoras, que aqui sim estão aptas a combater e a erradicar a infecção que gerou a resposta.
Os linfócitos T auxiliares (CD4+) combatem a infecção através da produção de citocinas, enquanto os Linfócitos T citotóxicos (CD8+) combatem a infecção destruindo as células infectadas pelos antígenos intracelulares.
O processo de diferenciação começa ao mesmo tempo do processo de expansão clonal, sendo que as células efetoras surgem dentro de 3 ou 4 dias após a exposição ao microrganismo.
Uma parte dos linfócitos T originados do processo de expansão clonal se tornam células de memória, de longa duração, que ficam a posto esperando a infecção retornar. Lembrem-se que, são células antígeno específicos, então vão combater apenas se a mesma infecção acontecer, não respondendo a outras infecções.
Tudo isso é representado na maravilhosa figura abaixo:
- Mecanismos Efetores da resposta imune mediada por células T:
No caso dos linfócitos T auxiliares (CD4+), eles combatem a infecção por meio da produção de citocinas. Estas, por sua vez, agem como sinalizadoras e recrutam e ativam leucócitos, que então conseguem digerir e destruir o microrganismo.
Quando falamos de linfócitos T citotóxicos (CD8+), eles optam por matar qualquer célula que esteja infectada pelo microrganismo (normalmente vírus), assim, eliminam os reservatórios celulares da infecção, impedindo a proliferação da mesma.
As duas próximas figuras nos mostram que o linfócito t auxiliar pode se dividir em alguns tipos, sendo que cada um consegue responder a determinados microrganismos, analisem as informações contidas na figura para melhor entendimento. Além disso, a segunda figura apresenta uma resposta clássica do linfócito t auxiliar TH1 a antígenos bacterianos.
Bons estudos pessoal.
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