No nível celular, uma
intrincada orquestra de processos regula a homeostase, a resposta a estímulos e
a replicação, permitindo a manutenção e adaptação do nosso corpo. Adaptação é
uma característica marcante da espécie humana, que se adaptou para viver, se reproduzir
e dominar os mais diversos ambientes do planeta, incluindo temperaturas
extremas.
Além da capacidade de adaptação
e da forma como trabalham para manter nosso organismo funcionando da maneira
adequada, as células compartilham entre si a Membrana Celular, que reveste toda
a célula e cumpre papéis essenciais para a vida celular, como proteção,
organização interna e formato, além da magnífica Permeabilidade seletiva.
Através de suas
características físicas, como ser formada por fosfolipídeos, e pelas suas
características químicas e de tamanho, a membrana celular consegue regular o
que entra e o que sai das nossas células, gerando aqueles potenciais de difusão,
equilíbrio, permitindo a osmose, tudo aquilo que eu sei que vocês amaram na
Fisiologia básica, rs.
Mas tem dois tipos
celulares onde a membrana celular atua em dois potenciais diferentes das demais
células, os potenciais de repouso e de ação, característicos das células
excitáveis, os músculos (esquelético, cardíaco e liso) e neurônios.
As células excitáveis são
essenciais para o funcionamento e as funções do sistema nervoso (neurônios),
para movimentos (músculo esquelético) e para o bom funcionamento dos órgãos e
organismo de uma forma geral (músculo cardíaco e o músculo liso nos órgãos).
Os músculos, por exemplo,
são células especializadas em contração e relaxamento, fundamentais para o
movimento, postura e suporte aos órgãos internos.
Por outro lado, os
neurônios, as células nervosas, transmitem informações através de impulsos
elétricos e substâncias químicas, formando as bases da comunicação no sistema
nervoso.
É nas sinapses químicas,
as conexões entre os neurônios, que acontecem fenômenos como a plasticidade
neural, fundamental para o aprendizado e a memória.
É importante explorar a
relação entre a fisiologia cerebral, a plasticidade neural e o processo de
aprendizagem. As sinapses químicas, onde neurotransmissores desempenham um
papel crucial, são essenciais para a transmissão de informações e para a
adaptação do cérebro a novos estímulos. Pensando em aprendizado, que envolve
também a atenção, necessária para uma boa formação de memórias, temos os
neurotransmissores dopamina e noradrenalina. Uma das regiões cerebrais
envolvidas nesse processo é o córtex pré-frontal.
Alterações nesse sistema
podem levar a condições como o Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH), uma condição neurobiológica comum, diagnosticada em
crianças e adultos, que afeta diretamente a capacidade de focar em algo
específico (como o conteúdo da escola ou pontos importantes para execução
correta de um cargo de trabalho). Não tem como fugir, se não prestar atenção em
algo, isso não será registrado em forma de memória de longo prazo, a base do
nosso conhecimento.
Além disso, a impulsividade
característica do transtorno dificulta ainda mais o processo de focar a atenção
em algo, somando mais uma dificuldade para o aprendizado e a manutenção de
comportamentos.
No Brasil, o TDAH é uma
realidade preocupante, afetando milhões de indivíduos. O tratamento normalmente
envolve fármacos estimulantes do sistema nervoso central, como o metilfenidato
(famosa Ritalina), que atuam aumentando a biodisponibilidade de dopamina e
noradrenalina nas sinapses. Conseguem fazer isso bloqueando o processo de
recaptação desses neurotransmissores, permitindo um aumento dos mesmos nas
sinapses envolvidas. Isso melhora os sintomas característicos do transtorno,
melhorando a atenção, a capacidade de foco e, consequentemente, e também
drasticamente, o aprendizado da criança.
Mas o grande detalhe é:
muitas crianças utilizando o medicamento devido a um diagnóstico errôneo, mal
feito. Psicofármacos. Como a ritalina, alteram o funcionamento do cérebro. Na
infância e adolescência, o cérebro se encontra em pleno processo de expansão,
com a neuroplasticidade bombando, aprendendo e aprendendo cada vez mais,
através da interação dos cinco sentidos com o ambiente. Utilizar substâncias
nessa fase, mais precisamente até por volta dos 21 anos (quando se completa o
desenvolvimento do sistema nervoso), pode acarretar alterações e afetar o
futuro desses “pacientes”.
Pesquisas apontam que ratos
tratados com Ritalina durante o desenvolvimento do sistema nervoso (algo como
4-7 anos em idade de humanos) apresentaram problemas de memória e também alguns
problemas cognitivos na vida adulta. Inclusive, uma maior tendência a sintomas
de apatia, característicos de um transtorno depressivo. Recomendo, para
explorar mais essa ideia, o documentário Take your pills (eu assisti na Netflix).
Contudo, o uso indevido
dessas substâncias por pessoas sem o diagnóstico adequado pode levar a efeitos
adversos graves, como dependência e problemas de atenção e memória. O uso de
ritalina por estudantes cresceu drasticamente nos últimos anos, principalmente
entre os estudantes da área da saúde. Problemas de atenção e aprendizado que
não existiam, podem ser criados com o abuso
desses fármacos.
Além do TDAH, outro
grande desafio de saúde mental é a ansiedade, que aflige milhões de pessoas no
Brasil e globalmente. O Brasil é, até o ano atual, 2023, o país considerado
como o mais ansioso do mundo, pela ONU.
Para seu tratamento,
benzodiazepínicos são frequentemente prescritos, agindo como depressores do
sistema nervoso central. Imaginando a ansiedade como um cérebro acelerado,
desacelerar ele vai desacelerar os sintomas. Aumentando as funções do
neurotransmissor GABA, o neurotransmissor naturalmente depressor do nosso
sistema nervoso, os ansiolíticos conseguem fazer com que a pessoa relaxe
daquela tensão da ansiedade, que alivie aqueles sintomas que consomem sua
energia mental e, muitas vezes, até a física.
Seu uso também cresceu
drasticamente nos últimos anos, explodindo durante e após a pandemia do coronavírus.
O problema não é o uso
correto, é o abuso.
Esses medicamentos, como
o Diazepam, podem levar a uma tolerância, exigindo doses maiores para o mesmo
efeito, e, consequentemente, à dependência. Isso mais no longo prazo, também
bastante associado à automedicação.
Lembrando que, os
melhores resultados para tratamentos de ansiedade e depressão, foram aqueles
obtidos com a mistura entre terapia e farmacologia. Muitos casos,
principalmente os mais brandos a médios, podem ser tratados apenas com terapia,
sem necessidade do remédio. Porém, remédio sem terapia é muleta, vai causar
vício e aliviar os sintomas exclusivamente durante o uso. Você pretende
utilizar o medicamento para toda a vida?
Para finalizarmos nossa discussão, um outro enorme problema que afeta a saúde mental dos brasileiros e das pessoas pelo mundão afora é a depressão.
A depressão, uma das
principais causas de incapacitação no mundo, também tem implicações na
fisiologia cerebral. Apesar de inúmeras causas para a doença, variando entre genéticas
e ambientais (normalmente uma mistura das duas), a biologia parece passar pelo
déficit de serotonina e noradrenalina, sendo o mecanismo da primeira mais compreendido
atualmente.
Se o problema é a falta
deles, vou utilizar fármacos, como os inibidores da recaptação de serotonina ou
de serotonina e noradrenalina, que conseguem aumentar a disponibilidade dos
neurotransmissores e gerar um processo de neuroplasticidade incrível, que
começa no aumento da produção de receptores e caminha para um aumento na
produção dos próprios neurotransmissores. A adaptação cerebral (plasticidade) é
uma coisa incrível. Outros antidepressivos atuam nas enzimas que quebram esses
neurotransmissores, o que também resulta no aumento da disponibilidade dos
mesmos.
Existem diversos tipos,
como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), que não causam
dependência física. No entanto, é crucial ressaltar que os antidepressivos não
são substâncias viciantes, mas sim de uso controlado e monitorado, devendo ser
administrados sob orientação profissional.
Em conclusão, a
compreensão da fisiologia do corpo humano, especialmente no contexto da saúde
mental, é vital para a busca de tratamentos eficazes. Além disso, quanto maior
o conhecimento de neurociência dos profissionais envolvidos com a saúde mental,
mais eficientes serão os diagnósticos, evitando o uso errôneo e o abuso de psicofármacos.
Além dos medicamentos, a terapia e o
acompanhamento especializado por psiquiatras e psicólogos são peças-chave no
quebra-cabeça do bem-estar emocional e mental, proporcionando uma abordagem completa
para lidar com as complexidades da mente humana.
Vale sempre a reflexão antes do uso, é sempre importante analisar o custo-benefício do tratamento, trazendo à discussão os possíveis efeitos colaterais que podem surgir, principalmente em tratamentos prolongados.
Links relacionados aqui no blog:
http://plantandociencia.blogspot.com/2023/09/a-beleza-da-memoria-humana.html
http://plantandociencia.blogspot.com/2023/05/resposta-ao-estresse.html
http://plantandociencia.blogspot.com/2022/09/cerebro-funcoes-incriveis-i.html
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