Boa tarde, pessoal.
Hoje vamos falar um pouco sobre o cérebro criativo.
Como podemos utilizar nossa poderosíssima máquina cerebral para aumentar nossa criatividade? Ou será que a pessoa nasce criativa e pronto?
Essa matéria é baseada no capítulo "O cérebro criativo" do livro "O cérebro e a inteligência emocional - novas perspectivas" do grande neurocientista Daniel Goleman.
Em 1970, iniciou-se mais um mito sobre o cérebro humano, desta vez relacionado à criatividade. Ficou conhecido como o cérebro direito sendo a porção boa para a criatividade, enquanto o cérebro esquerdo, mais racional, seria uma porção ruim para a criatividade.
Ou seja, até hoje, muita gente acredita que em pessoas criativas (designs, músicos, artistas no geral...) teriam o cérebro direito mais desenvolvidos, enquanto o pessoal que lida melhor com números (matemáticos, investidores, estatísticos...) teriam o cérebro esquerdo mais desenvolvidos.
PRIMEIRO PONTO: você só tem um cérebro, formado por dois hemisférios, o direito e o esquerdo.
Para responder o segundo ponto, vamos de décadas de pesquisas, que nos mostraram o que sabemos hoje, que não é apenas o hemisfério direito responsável por nossa criatividade, pois a criatividade envolve os dois hemisférios e, basicamente, o cérebro inteiro: "esquerdo-direito-acima-abaixo".
Ou seja, quando seu cérebro está criando alguma coisa, ele acessa uma extensa rede de conexões neuronais, para todo lado.
Mas então, como resolvemos aquele problema que está tirando nossa paz? Como pensar em algo novo, algo criativo?
Existe um modelo clássico de pensamento, dominante, sobre como podemos influenciar nosso criatividade. Quem já pesquisou sobre o assunto já deve ter lido sobre, é conhecido como Modelo de quatro estágios da criatividade, datando de mais de um século:
- Primeiro passo: definir o problema a ser resolvido. O que precisa ser feito?
- Segundo passo: reunir ideias, dados e informações sobre o problema em questão. Qualquer coisa que possa te ajudar com a criatividade relacionada ao tema.
- Terceiro passo: relaxar. Como assim Bruno? É isso mesmo, após saber qual o problema e reunir dados sobre o mesmo, você precisa esquecê-lo durante um tempo. Quem nunca ouviu falar que as melhores ideias surgem quando estamos no banho, ou fazendo uma caminhada, ou até mesmo dormindo? O grande detalhe aqui é saber quando relaxar.
- Quarto passo: execução. Aqui, colocamos o que aprendemos e pensamos nas três etapas anteriores em prática, hora da ação, de fazer!
Esse modelo funciona para muita gente.
Mas funciona mesmo?
Bem provável que sim. Pense no passo a passo: você definiu o problema, estudou e reuniu material sobre o mesmo. descansou e deixou seu cérebro organizar as informações adquiridas (e provavelmente perceber muitos pontos que quando focado naquilo você não percebeu) e depois entrou no modo execução - basicamente um TCC, rs.
Mas, tudo isso exige tempo, certo?
E o tempo não vem sendo o ponto forte para muitas pessoas.
E o tempo não vem sendo o ponto forte para muitas pessoas.
Goleman cita dois exemplos de como grandes mentes em seus segmentos lidam com a criatividade:
O primeiro, George Lucas (Star Wars), diz que quando precisa escrever ou revisar algum roteiro, ele se "esconde" em uma cabana atrás da sua casa, e ali fica, em um processo de trabalho focado e continuo, até produzir o conteúdo esperado."
É a cabana então que ativa sua criatividade?
Jamais, ele só escolhe um local que gosta, que faz bem e permite que ele fique focado no problema pelo tempo necessário, sem distrações.
A segunda pessoa, Adrienne Weiss, é uma mulher responsável por reformular e dar vida a grandes marcas. Quando recebeu a missão de reformular uma marca famosa de sorvetes dos EUA (Baskin-Robbins), Weis precisou pensar e estudar por muito tempo sobre o assunto, ela não saiu do lugar! Não conseguia tocar o projeto adiante - zero criatividade.
Porém, uma noite, enquanto dormia, acordou em meio a um sonho com uma ideia sobre o logotipo que não só deu certo como revolucionou a marca.
Novamente, milagre?
Claro que não, após se debater por muito tempo sobre o problema, em um momento de relaxamento ela teve o que chamamos de insight criativo. Aquela luz que acende em cima da nossa cabeça!
Esse momento de relaxamento, onde as ideias costumam surgir, é denominada por muitos cientistas e não cientistas como ócio criativo. E para a neurociência, nesse momento relax, seu cérebro entra em seu estado de funcionamento conhecido como Rede Neural de Modo Padrão (onde o cérebro não está focado em nada específico - nem mesmo o celular, viu? - e consegue focar apenas em organizar e criar a partir das informações que já possui).
Faz mais sentido agora? A importância do descanso para a criatividade?
Estudos com imagens revelaram o que acontece no momento Aha!, quando temos uma ideia repentina.
Quando foram medidas as ondas eletromagnéticas durante um momento de criatividade, o eletroencefalograma revelou que existem picos de ondas gama, que representa a ligação e a comunicação entre os neurônios.
Ou seja, ela mostra uma grande rede de neurônios formando uma nova conexão, uma nova associação. O mais interessante é que isso ocorre antes de tomarmos consciência da ideia.
Essa atividade intensificada de neurônios ocorre na área temporal, principalmente no córtex direito. Mesma área responsável pela interpretação de metáforas e piadas. Ela entende a linguagem do inconsciente, dos poemas, das artes, dos mitos.
Então, esse pico de ondas gama elevado nos mostra que o cérebro teve um novo insight.
Mas então, qual a melhor maneira de ativarmos essa capacidade criativa cerebral?
Primeiro, concentrar-se, intencionalmente, no problema ou no objetivo (colocar os neurônios para ferver mesmo, ler, estudar, pesquisar sobre o assunto), depois relaxar, para entrarmos no segundo passo e permitirmos que o cérebro cumpra seu papel.
Diferente de quando estamos focados, o estágio do relaxamento tem o predomínio de outro tipo de onda cerebral, conhecido como ondas Alfa. Típico do relaxamento mental, um estado de abertura, onde permitimos que nosso cérebro devaneie e flutue, onde estamos mais receptivos a novas ideias.
Perceberam o que acontece aqui? Deixamos o cérebro livre para conectar com todo seu potencial de imaginação as informações e conhecimentos prévios que possuímos.
Apesar de parecer então, que os momentos criativos vêm de lugar nenhum, o que acontece na verdade é que passamos por um momento de foco, onde aprendemos sobre determinado assunto e, depois, no tempo ocioso, o cérebro consegue realizar sua mágica.
Para o autor do livro, o grande segredo encontra-se em concentrar e aprender sobre o assunto e permitir que o cérebro faça sua parte no tempo ocioso.
Se isso vai funcionar com todo mundo eu já não sei.
Sabe-se hoje que não conseguimos induzir nosso cérebro a esses picos gama de criatividade, porém, o processo: foco, aprendizado e relaxamento propicia a entrada do cérebro nesse estado criativo.
Uma característica desses momentos criativos é que eles vem acompanhados de uma sensação de prazer.
Aquela deliciosa sensação de pensarmos e criarmos algo novo, de criarmos uma solução para o problema que estamos enfrentado ou para aquele objetivo que estamos perseguindo. Seguida dessa sensação de prazer vem a alegria.
Não podemos esquecer do quarto estágio, que é onde realmente uma ideia vai funcionar ou não. É quando implementamos uma ideia, o momento crucial do processo.
Reflitam sobre a seguinte frase que encerra esse capítulo de livro: " as ideias criativas são como um frágil botão de flor - têm de ser nutridas para que possam florescer".
Estimulem o cérebro de vocês: leitura (principal), esportes (qualquer um que goste), meditação, cerveja com os amigos, boas noites de sono (indispensáveis), permitam que o cérebro de vocês viva as experiências através dos sentidos (tipo não mexer no celular enquanto almoça!).
Bons insights criativos!
Adorei a reflexão e texto, principalmente ficar sem celular no almoço, ou mesmo quando acordar, acredito que este “detox” de informações, notícias são necessárias. Parabéns Professor!
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