segunda-feira, 24 de maio de 2021

A importância da Neurociência na educação - Colégio Jaime Kratz

Boa tarde pessoal do Colégio Jaime Kratz, um prazer poder conversar um pouco com vocês.

Vamos falar sobre como as descobertas mais recentes da neurociência podem ser utilizadas para repensarmos nosso modelo de ensino, sempre buscando uma melhoria na relação entre os processos de ensino e aprendizagem, para construção de conhecimentos mais sólidos e aplicáveis em nosso dia a dia.




Nosso cérebro é um órgão fantástico, capaz de realizar funções como nosso ato de pensar, formação e armazenamento de memórias, nos permitir sentir e interagir com o mundo a nossa volta, dentre muitas outras.

Para nossa discussão hoje, gostaria que prestassem atenção em três pontos que considero chaves para entender e explorar a relação entre neurociência e educação: Plasticidade Neural, Memórias e Atenção.

Resumindo os termos: plasticidade neural é a habilidade que nosso cérebro tem para se adaptar, para se reinventar, para se modificar, seja através do aprendizado, seja após uma lesão. Atenção e memória caminham de mãos dadas, e eu posso provar isso para vocês com um exemplo bem simples: quantas vezes vocês procuraram o celular de vocês, enquanto seguravam o celular na mão? Ou, quantas vezes vocês "perderam" a chave de casa ou do carro por simplesmente não fazerem a menor ideia de onde tinham deixado?

Se vocês repararem bem, nos dois exemplos faltou o ato de prestar atenção no que estava fazendo. Se não prestarmos atenção em algo, não vamos registrar uma memória sobre aquele fato ou acontecimento. Gosto de frisar sempre: não sofremos com problemas de memória, sofremos com problemas de atenção.

Essa relação entre atenção e memória é facilmente visualizado em sala de aula. Quanto mais envolvido o aluno está com aquela aula, mais eficiente será o registro do conteúdo e, consequentemente, o aprendizado. Mas é bem mais fácil falar aqui do que realmente prender a atenção do aluno em sala de aula, certo? Já era pessoalmente, nas aulas virtuais aumentaram os desafios para os professores. Como competir pela atenção deles? Como ser mais interessante que o cachorro, o gato, o video-game, a cama? 

Podemos explorar muitos pontos aqui, mas vou guiar o restante da matéria com as perguntas da entrevista e com minhas respostas. No final da matéria, deixo uma lista com outras matérias aqui do blog, para que vocês possam explorar, de maneira simples, os temas discutidos aqui.




Sem emoção não há aprendizagem, isso não significa que a criança precise sempre gostar daquilo que aprende. Ela precisa por valor , valência e entender a importância daquilo que é ensinado. Como a ciência explica a ligação da emoção, com o cérebro e a neurociência?

R: Concordo, sem emoção não há aprendizado e não necessariamente precisamos gostar do que estudamos, mas precisamos sim entender o valor e a importância daquilo. Sabe por quê? Porque quando entendemos a importância daquilo que estamos fazendo, mesmo que não seja nossa atividade preferida, nós colocamos a nossa atenção. E essa é a chave para conseguir registar o conteúdo e os conceitos estudados através da formação de novas memórias. Quando não prestamos atenção em algo, não registramos aquela experiência, isso a neurociência consegue explicar claramente. Todas as nossas experiências, quanto humanos, são envolvidas por emoções, e quanto maior a carga emocional da experiência, mais detalhes serão registrados em nossa memória. 

Conseguem entender a importância de um professor utilizar metodologias, técnicas, que envolvam o aluno com o conteúdo? Quanto mais sentidos envolvidos no processo de aprendizagem, mais eficiente será o mesmo. As metodologias ativas chegam com força para testar essas teorias.


O mundo mudou muito com a revolução da informação e com a evolução da ciência. A educação é um setor conservador, mas ela também precisa enfrentar mudanças? Quais mudanças seriam essas segundo as descobertas da neurociência?

R: Precisa e já vem enfrentando, processo que foi acelerado devido à pandemia da Covid-19. Hoje, nossas crianças crescem com tablets, celulares, praticamente um mundo mágico onde elas conseguem assistir o que querem, jogarem o que querem, tudo na hora em que querem. A nível cerebral, todos esses estímulos estimulam muito o cérebro, que se torna um pouco "viciado". Imagina para o cérebro da criança ou do adolescente o que é sair de estímulos tão práticos e rápidos, para uma aula onde ela deve ficar sentada e quieta, absorvendo o conteúdo que chega até ela através do professor. Não faz sentido nenhum! O cérebro não se adapta, ele não vê sentido naquilo, estava muito mais interessante no celular.

Para ajudar nessa discussão, as descobertas da neurociência vem de encontro ao avanço das metodologias ativas. O ato de fazer, "por a mão na massa", ou seja, o ato de o aluno participar na construção daquele conhecimento abordado em sala de aula, muda completamente a relação do aluno com o aprendizado. Atividades, metodologias em grupos, gameficação, muitas novas ideias vem demonstrando que o aluno não pode ser visto como um mero expectador, um mero receptor de informações. Se ele participa, discuti, inova ao criar uma apresentação, um modelo, o cérebro fica muito mais focado e interessado naquele conteúdo, registrando de maneira mais detalhada todos os tópicos abordados. 

Vocês estão conseguindo entender como essa parceria neurociência e educação é riquíssima?


A educação muitas vezes é vista de modo utilitarista: “ Eu preciso aprender somente o que vou usar”. Mas a educação é mais que isso, a educação é desenvolvimento. Ou seja, é preciso ensinar o que desenvolve. Conhecimentos que elaborem o pensamento, que faça com que o aluno entenda sistemas complexos, aquilo que o torne humano. Essa afirmação tem ligação com plasticidade neural?

R: Educação é desenvolvimento, que expressão maravilhosa. Concordo. 

Sim, essa afirmação tem relação com a plasticidade neural. A plasticidade neural é a capacidade do nosso cérebro se adaptar aos estímulos, de adaptar a tudo que oferecemos para ele todos os dias, sejam bom ou ruim.

Pensando na relação com a educação, a plasticidade neural é a base do processo de aprendizagem. Toda vez que aprendemos algo novo, novas conexões são formadas entre os neurônios (principais células do nosso cérebro) para formar uma nova memória. Assim, se pensarmos que essas conexões, conhecidas como sinapses, são duas células se conectando, toda vez que aprendemos algo ou que treinamos uma determinada habilidade nosso cérebro está passando por uma pequena mudança em sua estrutura. Quanto mais aprendemos, mais sinapses formamos e mais forte ficam nossos processos cognitivos, como a memória, como a habilidade em gerar respostas rápidas e inteligentes às situações que passamos em nosso dia a dia.

Mas, vamos para a matéria 1 por aqui, vou deixar outros materiais aqui para vocês explorarem esses conteúdos iniciais abordados, assim irão aproveitar muito mais o restante da palestra:


Um vídeo sobre Plasticidade neural:


ou pelo link:


Outros materiais:

http://plantandociencia.blogspot.com/2020/01/explicando-mente-memoria-parte-1.html

http://plantandociencia.blogspot.com/2021/02/como-as-memorias-sao-formadas-e-como.html

http://plantandociencia.blogspot.com/2019/04/como-funciona-nossa-atencao-e-nossa.html

 

Espero que tenham gostado, continuaremos em breve...

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