Bom dia pessoal,
como dizem por ai, quem é vivo sempre aparece né? Pois é, voltei, rs.
Hoje vamos discutir um pouco sobre o complexo papel do cérebro sobre o nosso comportamento alimentar, discussão indispensável para os dias atuais.
Os adipócitos, as nossas famosas células de gordura, produzem a leptina, hormônio que manda uma mensagem de saciedade, que ajuda a diminuir o apetite. Ao contrário, quando fica muito tempo vazio, o estômago produz a Grelina, um hormônio que induz o apetite.
Um ponto para refletirmos aqui: quanto maior a quantidade de tecido adiposo, maior a produção de leptina, logo, menor o apetite dessa pessoa! Faz sentido quando pensamos fisiologicamente.
Mas, é isso que observamos em pessoas obesas ou com sobrepeso que "brigam" com a balança? A dificuldade delas está em não conseguir comer ou em não conseguir parar de comer (muitas vezes)? Exato, a segunda opção.
Com esse exemplo, conseguimos perceber mais uma característica do nosso cérebro: ele se adapta rapidamente a esses estímulos hormonais, e acaba nem ligando mais para eles depois de um certo tempo. Assim, a leptina e a grelina passam a ser meros coadjuvantes no processo.
O cérebro se adapta aos estímulos hormonais e passa a tomar suas próprias decisões.
É só vocês pensarem na seguinte situação:
Você está em um rodízio da sua comida preferida, completamente satisfeito ("Cheio/rolando") mas chega a hora da sobremesa. Cara, SEMPRE tem espaço para a sobremesa. Você já sabe agora que não há espaço físico para a sobremesa, o estômago está dilatado avisando que não cabe mais nada, a leptina já está circulando diminuindo o apetite (a insulina também influencia nesse processo), massss, seu cérebro ignora tudo isso e toma uma decisão executiva - Cabe mais sim, tem espaço para essa sobremesa maravilhosa (puramente uma decisão do córtex pré-frontal, sobressaindo a todas as outras formas de controle do nosso apetite).
Isso, apesar de todos os avisos, meu córtex pré-frontal (que fica atrás da minha testa), decide que cabe mais sim, e lá vamos nós para a sobremesa.
Aqui, tem fatores extremamente interessantes: primeiro, que nosso comportamento alimentar sofre muita influência da nossa visão, acredita-se que até 65% dele seja controlado pela visão. Além disso, doces tendem a gerar a sensação de prazer, ativando vias de recompensa do nosso cérebro.
Esse é o famoso neocórtex, driblando toda nossa fisiologia e também o cérebro reptiliano (para quem gosta dessa visão do cérebro trino) e tomando suas próprias decisões. Típico dele.
Ok, mas não é, na verdade, o córtex pré-frontal quem nos faz sentir fome ou saciedade. A parte do nosso cérebro que toma conta dessas sensações fisiológicas é o Hipotálamo, que vocês podem observar no meu slide:
Reparem: Hipotálamo Lateral é o centro da fome, então quando você realmente sente fome, aquela fome fisiológica, quem está gerando essa sensação é ele. Enquanto o Hipotálamo Ventromedial, é quem controla sua saciedade, sua sensação de estar satisfeito (lembra da distensão do estômago? Parte daquelas informações chegam aqui!).
Uma pesquisa muito interessante com ratinhos, inclusive é a pesquisa que originou o slide acima, demonstrou que nem esse controle é o decisivo para nossa alimentação. Visto que o hipotálamo lateral é o centro da fome, se ele for lesado, o animal para de sentir fome e consequentemente de se alimentar, emagrecendo. O contrário também é verdade, se a lesão for no ventromedial, o animal não sente mais saciedade e passa a comer sem limite, sem parar, e engordar.
Após lesionarem a região ventromedial dos ratinhos, os cientistas observaram que por cerca de 20 dias eles comeram desesperadamente, ficando obesos. Mas depois desse tempo, voltaram a sua alimentação habitual. Isso mostra que, mesmo com a região da saciedade lesada, outros controles foram tomando conta no lugar e o rato voltou a um comportamento alimentar normal.
Fantástico né?
Para finalizar nossa discussão de hoje, os fatores emoções e sentimentos influenciam drasticamente no nosso comportamento alimentar.
Uma pergunta que sempre faço em sala de aula, independente da disciplina: A ansiedade aumenta ou diminui sua fome? E fome não é a melhor palavra para definir, talvez comportamento alimentar ou compulsão alimentar. O mais comum são as pessoas que comem mais, mas muitas comem menos durante as crises de ansiedade.
Para as que comem mais, assim como eu, o alimento entra como uma válvula de escape para a ansiedade, uma recompensa talvez. Não que justifique, mas cerebralmente funciona muitas vezes.
Voltando para o hipotálamo, ele é a via final de muitas informações do nosso sistema límbico, o conjunto de regiões cerebrais e encefálicas que tomam conta das nossas emoções e comportamentos relacionados às mesmas.
Opa, ta ai o caminho direto pelo qual suas emoções afetam seu apetite. Fora o simples fato de elas trabalharem direto com nosso córtex pré-frontal, nosso tomador de decisões, e ai a bagunça pode ser imensa.
Lembrem-se, a base da maioria dos transtornos alimentares, como a bulimia e a anorexia, são distúrbios de ansiedade (o contexto geral é infinitamente mais complexo que isso, mas a ansiedade está sempre por trás, principalmente no processo de construção do transtorno).
Era isso pessoal, espero que tenham entendido que o comportamento alimentar tem a ver com fisiologia, com neurociência, com experiências e memórias, por isso é tão íntimo e deve ser tratado como, pois não existem fórmulas e receitas que irão se encaixar e servir para todas as pessoas.
Sempre tenha acompanhamento de um profissional qualificado, nutricionista e psicólogo, na minha opinião, deveriam ser obrigatórios para todas as pessoas, rs.
Mas, antes de tudo, aproveite seus alimentos. Saboreie os alimentos, aproveite cada mordida. Lembrem-se que nossos cinco sentidos são as formas que temos para interagir com esse lindo mundão à nossa volta, e o paladar é um dos mais maravilhosos para explorarmos.
Ótima semana!
Olá ! Amei o texto, a reflexão foi ótima ! Bem, enquanto eu saboreava meu café da manhã “lentamente” rs, lendo esse texto, pensei o quanto a sobremesa é empurrada mesmo, ainda mais naquele rodízio japonês! Mas gosto muito dos exemplos de Pareto 80/20, não somos apenas esse momento, tendo a consciência que minha semana será saudável com atividades físicas, esse final de semana com essa deliciosa sobremesa será incrível! 😉👏🏼
ResponderExcluirMas amo desenvolver essa máquina pensante, sair do sistema reptiliano, pensar fora da caixa, e buscar novos caminhos por uma vida mais leve, saudável e feliz! Gratidão Professor!!