Bom dia pessoal,
Continuando nosso curso sobre Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de Ciências, hoje vamos falar um pouco sobre o conceito de um ensino de Ciências voltado para a formação do cidadão.
É responsabilidade do professor formar cidadãos? As escolas estão preparadas para isso? Qual seria o real objetivo de educar para a cidadania?
Acho que, vale começar a discussão observando a imagem abaixo:
Completando a figura, temos que ter a ideia de que ensinar/educar visando a formação do cidadão, nada mais é do que formar cidadãos conscientes e críticos, aptos a interagir e buscar soluções para os problemas que os cercam em suas próprias comunidades.
Nas últimas décadas, as alterações realizadas no ensino de Ciências tentaram situar a ciência no tempo e espaço, enfatizando em cada momento um aspecto considerado mais relevante na forma de o homem entender e agir cientificamente no mundo.
Para dimensionarmos essas mudanças em âmbito nacional, é necessário observarmos os grandes acontecimentos nas últimas décadas:
- Até os anos 60: Ciência ensinada como neutra (ainda acontece em escolas até hoje, veremos mais adianta);
- Anos 70: movimento pedagógico conhecido como CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), vertente importante até os dias atuais, pois considera a estreita relação entra as três esferas que originam o nome. Indispensável para um ensino que visa formar cidadãos.
- Anos 80: atenção passa a ser dada ao processo de construção do conhecimento científico pelo aluno, uma corrente mais construtivista.
De acordo com os Parâmetros curriculares nacionais, essa última vertente construtivista é hoje alvo de críticas, uma vez que necessita de reorientação nas investigações para além das pré-concepções dos alunos. O argumento é que as metodologias até então utilizadas não levariam em conta que a construção do conhecimento científico tem exigências relativas a valores humanos, além da visão de ciências diretamente integrada à visão de sociedade e sua relação com a tecnologia.
Santos diz em seu texto que as atenções da educação estão voltadas, hoje, basicamente para a ideia de cidadania e para a formação de professores com novos perfis profissionais, mestres em condições de trabalhar com uma visão interdisciplinar da ciência, própria das múltiplas formas de se conhecer e intervir na sociedade hoje.
Será mesmo?
Reflitam sobre as grades escolares, sobre a divisão em blocos das disciplinas, na dificuldade do aluno enxergar conexão entre os saberes. Reflitam sobre a formação de vocês quanto professores, onde podemos melhorar para contribuir mais na construção de cidadãos via ensino básico?
Alguns autores consideram que educar para formar um cidadão trata-se de orientar o ensino de Ciências para uma reflexão mais crítica acerca dos processos de produção do conhecimento científico-tecnológico e de suas implicações na sociedade e na qualidade de vida de cada cidadão. Que é preciso preparar os cidadãos para que sejam capazes de participar, de alguma maneira, das decisões que se tomam nesse campo, já que, mais cedo ou mais tarde, essas disposições terminam por afetar a vida de todos.
Na teoria parece simples, mas existem obstáculos e precisamos pensar formas de tirá-los do nosso caminho. Três merecem destaque:
- Organização de currículos escolares: rígida divisão de áreas de conhecimento (Física, Química, Matemática, Biologia...) Essas divisões impedem que os estudantes reconheçam como esses conhecimentos se relacionam. Aqui, podemos refletir sobre se realmente o problema é a divisão dos currículos ou a incapacidade que temos, como professores, de fazer o aluno entender que tudo está conectado? Que os conhecimentos são, em sua maioria, indissociáveis?
- Receio e limitações dos professores e de algumas instituições de ensino em discutir temas relacionados a valores (políticos, religiosos, preconceitos). Esse receio/limitação contribui para um ensino de Ciências como neutra, o que já vimos ser devastador quanto sociedade.
- Habitual distanciamento entre os conceitos científicos aprendidos em sala de aula e as questões científicas verdadeiramente relevantes para a vida das pessoas. Novamente, erro nosso, como professores, na metodologia do ensino? Na minha opinião, por mais que o modelo seja engessado, ainda conseguimos nos diferenciar, inovar sem deixar de cumprir metas institucionais.
Para Nilson Machado (1993): " A Ciência escolar torna-se algo muito distante de suas ocorrências jornalísticas, e os alunos parecem incapazes de compreender minimamente não a solução, mas até a própria formulação dos problemas de que se ocupam os cientistas, de vislumbrar o significado dos resultados que alcançam.
- O Ensino de Ciências e a Ideia de Cidadania:
Duas perguntas para começar esse tópico de reflexão:
- O que significa educar para a cidadania?
- Como formar cidadãos autônomos, críticos e participativos a partir de uma sala de aula de Biologia, por exemplo?
É importante ressaltar que faz parte da educação para a cidadania que o aluno deve adquirir a capacidade de entender e de participar social e politicamente dos problemas de sua comunidade. Aqui, mais uma vez, relembramos a importância do ensino, independente da área, dentro de uma escola, necessariamente ter que levar em conta o ambiente social onde a escola está inserida, a comunidade, o estilo e condições sociais de vida das pessoas. Não existe receita de bolo em nada quando tratamos de educação, ela precisa ser moldada, repensada. Precisa ser útil para quem a recebe!
Educar para a cidadania exige um professor questionador, capaz de fomentar posturas críticas, contestadoras e construtivas dos alunos. Observa na atualidade a necessidade de se abordar temas como Alimentos Transgênicos, Clonagem, Uso excessivo de celulares e tablets, Seleção de Embriões. São muitos os tópicos e é óbvia a relação entre Ciência, tecnologia e sociedade nessas discussões. Lembrem-se, o objetivo é preparar pessoas aptas a viverem e intervirem das melhoras formas no ambiente a nossa volta.
Duas perguntas importantes para a reflexão:
- Como o professor pode ensinar o aluno a ser crítico? Isso é possível?
- Que tipo de atividade pode contribuir realmente para a formação da cidadania?
Para Oakeshott:
"O professor é responsável por iniciar o aluno no conhecimento de si e do mundo. Conhecimento este que consiste em um conjunto de capacidades pessoais desenvolvidas como resultado de uma síntese entre as "informações" que se recebe e o "discernimento" que somos capaz de estabelecer sobre as informações recebidas. Esse discernimento consiste na capacidade de interpretar, de avaliar, de julgar e de decidir sobre a importância da informação recebida"
Pessoa, resumindo, é a capacidade de utilizarmos as informações recebidas, em sala de aula ou fora dela, para contribuir com nosso crescimento e melhorar nossa tomada de decisões e, consequentemente, nossas vidas!
Discernimento está relacionado com o próprio conhecimento e não apenas com o espírito crítico. Só pode haver conhecimento de fato quando, junto com cada informação, o aluno adquire "discernimento", uma capacidade pessoal de pensar, não de qualquer maneira, mas levando em conta aquela e outras informações como parte de um contexto mais amplo de informações.
Ainda para Oakeshott:
"O discernimento pode ser ensinado e é responsabilidade do professor. Mas, embora não se possa ensinar o aluno a maneira de pensar, o "discernimento" só pode ser ensinado em conjunção com a transmissão de informações. Isto é, não se pode ser ensinado em uma sala de aula separada, numa aula que não seja, por exemplo, de Biologia. Assim, do ponto de vista do aluno, a capacidade de pensar é algo aprendido como subproduto da aquisição de informação, e, do ponto de vista do professor, é algo que se é ensinado, deve ser captado indiretamente durante o curso de transmissão. A maneira de fazê-lo só pode ser compreendida considerando-se o caráter do que será transmitido."
Para Pasmorre (1980), a pergunta sobre o ensino do criticismo seria:
"O que é ensinar uma criança a ser crítica e como podemos afirmar que o fizemos com êxito? Seria uma questão de transmitir fatos, inculcar hábitos, treinar em habilidades, desenvolver capacidades, formar o caráter, ou algo diferente de tudo isso?"
O espírito crítico tampouco é um simples hábito que o aluno pode adquirir por adestramento, até porque a passividade de receber conhecimento contradiz o ser crítico, ser questionador, entender para agir.
Mas deixo uma pergunta para irmos finalizando a discussão:
- Até que ponto a sociedade, a comunidade escolar e os professores estão realmente dispostos a lidar com críticas, com o aluno questionando valores?
Para finalizarmos:
"A integração de elementos do ensino das Ciências com outros elementos do currículo, além de levar à análise de suas implicações sociais, da significado aos conceitos apresentados, aos valores discutidos e às habilidades necessárias para um trabalho rigoroso e produtivo!
Referências utilizadas e que recomendo a leitura:
Bons estudos e reflexões!
Reflitam sobre nosso papel como professores! Onde podemos melhorar? Como trazer de volta o interesse na escola, no que pode acontecer se aprendermos melhor os conteúdos.
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