segunda-feira, 10 de junho de 2019

Transtornos Mentais I

Boa tarde pessoal,
para fechar o curso de Psicobiologia e Psiconeurologia, precisamos falar sobre os Transtornos Mentais.

Primeiro de tudo, transtorno mental é um termo utilizado para uma grande variedade de condições que afetam o humor, o raciocínio e o comportamento.


Outro ponto a ser relembrado antes de entrarmos no assunto da aula é que o comportamento humano, qualquer que seja, é um produto da atividade encefálica. Além disso, o encéfalo é produto de dois fatores, a hereditariedade (base genética) e o ambiente em que vive.

Ou seja, cada encéfalo é único, tanto fisicamente quanto devido às experiência pessoais. Cada um de nós vemos o mundo de uma forma, com mais ou menos cor, com mais ou menos dor!

Quando falamos de transtornos mentais, precisamos ter em mente também que um transtorno mental é algo que traz prejuízo para a pessoa, tanto funcional quanto intelectual, traz angustia. É bem diferente do que passar um dia para baixo, estar triste por luto. Existem também causas distintas, como a falta de niacina (vitamina do complexo B), que pode causar agitação e dificuldade de raciocínio.

Seguindo essa linha de pensamento, notamos logo de cara a importância de um diagnóstico correto, que passa pela qualidade de formação dos profissionais que estão indo para o mercado, tanto psicólogos quanto psiquiatras. 


Transtornos de Ansiedade:

Para falarmos de ansiedade, precisamos antes falar sobre o medo. O medo é uma resposta adaptativa, diretamente ligado e um dos grandes responsáveis pela sobrevivência da nossa espécie. E, como vimos lá atrás na disciplina, as resposta derivadas do medo são controladas por uma porção do nosso sistema nervoso conhecida como Sistema Nervoso Simpático.

Mas, apesar de ter nos ajudado muito, o medo não é uma resposta exclusiva da nossa espécie, e, além disso, muitos medos são inatos. Como exemplo, podemos citar o medo de um rato pelos gatos. Enquanto outros medos são aprendidos, como um cavalo após tocar em uma cerca eletrificada, nunca mais o faz novamente.

Mas Bruno, se o medo é tão valioso para nossa adaptação, para nossa sobrevivência, qual o problema atual de sentirmos medo? A resposta é muito simples, hoje, construímos em nossas mentes medos imaginários, medos irreais, ou então, transformamos coisas pequenas em um medo exacerbado. Essas respostas desproporcionais caracterizam os transtornos de ansiedade.

Observem a tabela abaixo, retirada do livro de Neurociências do Beer:


- Transtorno do Pânico:

Os ataques de pânico, característicos da síndrome do pânico, são sentimentos de intenso terror que ocorrem sem qualquer aviso. Apesar de durarem pouco tempo, esses episódios geram grande aflição nas pessoas atingidas e podem ser recorrentes.

Os sintomas mais comuns são: palpitação, sudorese, tremor, dores no peito, náuseas, tonturas, sensação de formigamento e calafrios. Tudo isso acompanha um apavorante medo da morte.

Apesar de sintomas variarem de pessoa para a pessoa, uma característica é lembrada pela grande maioria das pessoas atingidas: o medo de não saber quando será a nova crise, que gera uma ansiedade esmagadora nas pessoas que sofrem deste transtorno.

Essa doença é mais comum em mulheres do que em homens e está diretamente relacionada ao abuso de álcool e outras drogas (Por favor, diretamente relacionada não significa que essas são as únicas causas!).



- Agorafobia

Agorafobia é uma palavra que vem do grego e significa medo de praças abertas, de locais públicos.


O nome é a característica do transtorno, uma ansiedade desproporcional a eventos que envolvem muitas pessoas, aglomerados de gente, ou seja, aqueles locais, como uma praça, onde não temos controle da situação e dos possíveis acontecimentos.

Muitas vezes a agorafobia é um efeito adverso do transtorno do pânico. Por que? Porque, como falamos ali em cima, um dos grandes medos de uma pessoa com síndrome do pânico é não saber quando vai acontecer o próximo ataque, e gera mais medo ainda pensar que ele pode acontecer em público. Notem que isso trás mais ansiedade e a pessoa passa a se impor uma reclusão, evitando contato com outras pessoas.

A incidência em mulheres é duas vezes maior que em homens.

Até agora falamos de dois transtornos, ambos acometendo mais mulheres do que homens. Isso mostra que as mulheres são mais frágeis? Óbvio que não, isso mostra que elas são mais dispostas a revelar seus medos e buscar ajuda!

- Estresse Pós-Traumático:

Um trauma é um ferimento psicológico resultante de viver ou testemunhar um evento chocante.


Quando a dor deste trauma se torna crônica, temos o estresse pós-traumático, que é caracterizado por um grande nível de ansiedade, por memórias intrusivas (que aparecem do nada, relembrando o trauma), sonhos e lampejos da memória traumática e grande irritabilidade. É uma doença com vários gatilhos, ou seja, muitos gatilhos podem trazer à tona a memória traumática e a dor a ela associada.

Um exemplo comum é observado nos EUA, onde muitos homens sofrem desse mal após voltarem da guerra. Qualquer barulho mais alto, como uma bomba, ou um pesadelo com o campo de batalha desencadeia respostas ansiosas e agressivas, prejudicando e muito a qualidade de vida destas pessoas e das pessoas próximas (amigos e parentes).


Mas não é só a guerra que provoca o transtorno, acidentes de carro, de moto, assaltos, ou seja, qualquer trauma psicológico marcante, chocante.

- Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC):

O TOC é um transtorno de intensa ansiedade, que tem como característica crises recorrentes de obsessões e compulsões.

Antes de continuar falando sobre o transtorno, fica uma dica de filme, disponível no Netflix. Ao assistir, o que já vale a pena pela comédia, analisem e observem como é difícil a vida das pessoas com este transtorno, como é difícil conviver com compulsões e obsessões constantes:


As pessoas que sofrem com o TOC possuem pensamentos intrusivos recorrentes, que elas mesmas reconhecem como pensamentos estranhos, mas que geram grande ansiedade nelas.

E como elas lidam com esses pensamentos e com essa ansiedade gerada? Através das compulsões. As compulsões se desenvolvem em busca da diminuição da ansiedade.

Um exemplo clássico são os pensamentos constantes sobre contaminação de germes, e a compulsão que nasce destes pensamentos é lavar a mão ou outras partes do corpo constantemente, obsessivamente.

Esse transtorno aparece, normalmente, no início da vida adulta e afeta o mesmo número de homens e mulheres. Normalmente, a constância das compulsões está relacionada ao nível de estresse da pessoa.


- Bases Biológicas dos Transtornos de Ansiedade:

A característica dos transtornos de ansiedade é a resposta inadequada ao estresse/medo: respondemos fisiologicamente mesmo que o estressor não esteja presente ou mesmo que ele não seja real.

Então, para entendermos um pouco sobre a biologia ou neurobiologia dos transtornos de ansiedade, precisamos entender como o estresse age em nosso organismo e como esta resposta é controlada pelo encéfalo.

Observem a imagem abaixo, também retirada do livro de Neurociências do Beer:


Sobre os itens acima, notem duas coisas importantes: primeiro, a ativação do simpático causa diversas alterações no nosso organismo. Sua resposta é mediada pela adrenalina e noradrenalina, que resulta em aumento dos batimentos cardíacos, da frequência respiratória, do estado de alerta (pensem, cronicamente, leva a problemas de pressão arterial, cardíacos...). Além disso, mais cortisol é liberado, este, conhecido como hormônio do estresse, é a única pista palpável de um transtorno de ansiedade ou de um estresse crônico, pois pode ser medido em exames de sangue.

Hoje, a neurociência já sabe que a resposta ao estresse é realizada pela amígdala. Esta pequena porção do nosso encéfalo é responsável por receber estímulos sensoriais (vindos do tálamo) e estímulos do neocórtex (córtex cerebral), juntar as duas e desencadear as devidas respostas. Observem as respostas desencadeadas pela amígdala na figura abaixo:


A primeira resposta mostrada na figura acima, é a ativação do eixo HPA (Hipotálamo-Pituitária ou Hipófise - Adrenal ou Suprarrenal). Essa é a resposta mais comum ao estresse ou a estressores, que culmina na liberação de cortisol pelas glândulas suprarrenais, como podemos observar abaixo:


Por isso, falei ali em cima para vocês, que os transtornos de ansiedade e o estresse crônico resultam em uma grande quantidade de cortisol no sangue, afetando todo o nosso organismo.

Sabe-se hoje, também, que além da amígdala, estimulando a resposta ao estresse, temos contrabalanceando, a ação do Hipocampo, que diminui essa resposta. Como podemos observar na figura que se segue:


Notem que, a amígdala estimula, em última instância, a liberação de cortisol. Este, por sua vez, penetra em nosso encéfalo e se liga a receptores no hipocampo, que por sua vez age diminuindo a resposta ao estresse.

Isso, normalmente, é o suficiente para controlar os episódios de estresse corriqueiros. Porém, no estresse crônico gerado pelos transtornos de ansiedade, o excesso de cortisol começa a matar os neurônios do hipocampo (hipocampais), o que resulta em um menor controle e consequentemente em mais estresses. Complementando, um dos grandes papéis do hipocampo é a formação de memórias de longo prazo, e, por isso, após afetado por estresse crônico, as pessoas apresentam diminuição na capacidade de formar novas memórias e consequentemente um deficit cognitivo. Ou você nunca percebeu que quanto mais estressado, mais esquecido você fica?

Para validar o parágrafo acima, experimentos com pacientes que sofrem com estresse pós-traumático revelou que os mesmos possuem um hipocampo menor do que as pessoas que não sofriam com este ou outros transtorno de ansiedade.

Resumindo:


  • A Amígdala e o Hipocampo regulam o eixo HPA e a resposta ao estresse de modo coordenado;
  • Os transtornos de ansiedade tem sido relacionados tanto à hiperatividade da amígdala quanto à diminuição da resposta do hipocampo. Isso são causas orgânicas, plausíveis do uso de medicamentos!

Mas, será que apenas o uso de medicamento é suficiente? NÃO!

- Tratamentos:

O tratamento mais indicado, e em inúmeros casos o mais eficiente, é o tratamento psicoterapêutico, o tratamento com psicólogos. Em um nível neurobiológico, o tratamento psicológico influencia nas conexões cerebrais, de modo que os estímulos, sejam imaginários, sejam reais, não evoquem mais a resposta de estresse. Outra grande função do tratamento psicológico é o processo que estudamos lá atrás na disciplina, a reconsolidação de memórias. Ou seja, o psicólogo tem a capacidade de explorar e alterar nossas memórias, conseguindo, muitas vezes, separar a memória da dor, o que alivia imensamente os problemas do paciente.



Mas então, o psicólogo é capaz de tratar todos os casos de transtorno de ansiedade? Infelizmente não, alguns casos, principalmente os mais severos, necessitam de medicamentos juntos à psicoterapia para surtir efeito.

E aqui entram os famosos medicamentos ansiolíticos. Estes agem alterando a química cerebral e diminuindo a ansiedade. Hoje, duas principais classes de medicamentos são utilizados nos transtornos de ansiedade: os benzodiazepínicos (mais utilizados) e os inibidores da recaptação de serotonina (mais comuns no tratamento de transtornos de humor).

Um dos benzodiazepínicos mais famosos é o diazepam ou valium, que age nos receptores GABA, conhecidos como receptores gabaérgicos. Todas as substâncias que atuam nos receptores GABA são ansiolíticas, inclusive o álcool. E até por isso, existe grande relação entre o excesso de ansiedade ou os transtornos de ansiedade e o consumo exagerado de álcool (uma possível válvula de escape).

Como mostrado na figura abaixo:

 Para finalizarmos, a figura abaixo mostra o resultado de uma pesquisa de imagem, com benzodiazepínicos marcados (radioativos), que demonstrou o seguinte: pessoas com transtorno do pânico apresentam menos receptores GABA na região pré-frontal do córtex, diretamente relacionada com a tomada de decisões, manutenção de comportamentos:


Obrigado pela atenção, espero que tenham aprendido um pouco mais.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e pelo blog. Muito orgulho de ter sido sua professora!

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    1. Muito obrigado pelo comentário Marisa.
      Você foi uma das minhas melhores professoras, plantou conhecimento e vontade de aprender mais em muitas pessoas da minha sala. Obrigado por isto.

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  2. As vezes também, tem pessoas que não se alimentar bem, é acontece do seu espírito tá vazio...

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