sábado, 11 de setembro de 2021

Homeostase e Alostase - pode o psicológico afetar o funcionamento do nosso corpo?

Boa tarde pessoal,

Sabadão é dia de neuro sim. Bora fazer novas sinapses.

A matéria de hoje tem como base uma discussão apresentada no artigo "Resposta ao Estresse: Homeostase e teoria da Alostase.


Sempre que falo de estresse, as pessoas já pensam em passar raiva. Não que as raivas que passamos não sejam por si só uma fonte de estresse, mas quando cito estresse aqui é no sentido de qualquer coisa (mudança de temperatura, por exemplo) que tiram o nosso organismo do seu equilíbrio.

Esse equilíbrio interno do nosso organismo é chamado de Homeostase. Pensem: nosso corpo tem uma temperatura correta para funcionar (37 graus), e ele se mantém nessa temperatura independente da temperatura do ambiente em que nos encontramos. Olha um exemplo bacana para entender um agente estressor: um ambiente a 20 graus exige que a fisiologia do nosso corpo se adapte para conseguir manter os 37 graus que precisa. 

Isso acontece com diversos parâmetros e mecanismos fisiológicos, e o conceito de homeostase fica mais interessante quando utilizamos a expressão equilíbrio dinâmico, porque a todo momento, mudanças externas (meio ambiente) e internas (nossos próprios órgãos e sistemas) exigem que algum parâmetro se adeque à situação para que o corpo continue funcionando de uma maneira saudável.

Assim, podemos dizer que nosso corpo possui mecanismos de enfrentamento às condições adversas originadas tanto no ambiente externo como no ambiente social. Esses fatores estressantes geram em nosso organismo a resposta ao estresse, que engloba nosso Sistema nervoso, principalmente o Simpático, o sistema endócrino e também o sistema imune. Essa resposta visa duas coisas: sobrevivência e Reprodução.

Mas vamos de uma definição dos criadores do termo, para deixar nossa matéria mais científica. Homeostase (Walter Canon) e Princípio do Meio interno (C. Bernard):

"Sangue e demais fluidos que circundam as células constituem o meio interno com o qual ocorrem as trocas diretas de cada célula e, por isto, deve ser mantido sempre com parâmetros adequados à função celular, independente das mudanças que possam estar ocorrendo no ambiente externo"

Meu corpo se adapta às condições impostas a ele para não morrer, o que é fantástico se vocês pensarem. Nossa fisiologia é maravilhosa.

Mas deixa eu fazer uma observação aqui antes de entrar na discussão Homeostase X Alostase.

Acabei de comentar ali em cima que a resposta ao estresse envolve o SN, o sistema endócrino e também o sistema imune. Já repararam que um período de grande estresse (uma semana de provas, de carnaval, de grandes mudanças, de uma entrevista de emprego) normalmente é seguido de um resfriado ou algo do tipo?

Faz mais sentido agora né? Os fatores estressores, independente de quais sejam, geram mudanças em nossa fisiologia visando à adaptação. Mas se o estresse persiste, persiste e persiste mais um pouco, o corpo entra em um estado de exaustão, desregulando principalmente o sistema imune, o que nos deixa mais susceptíveis às doenças.

E sim, passar raiva demais também pode causar tudo isso, rs.


Mas depois de muitas décadas de uso, o termo Homeostase encontrou uma barreira interessante. O termo, como descrito acima, nos conta como o nosso corpo reage ao estresse (agudo), se organizando, a nível fisiológico, para manter tudo funcionando certinho. Ok, mas e quando falamos de estresse crônico, tipo o que enfrentamos com nossas rotinas extenuantes de trabalho, muitas vezes de trabalho e estudo. E os fatores psicológicos? Também não entra nessa conta? Sejam os estresses mentais, seja as expectativas que criamos acerca das nossas coisas.

Ai nasce o termo, ou melhor, a teoria da Alostase. Além da resposta tradicional ao estresse, ela inclui os mecanismos preditivos e reativos de regulação, assim como os diferentes níveis de impacto dos estressores crônicos. Esses fatores, quando crônicos, podem levar a uma sobrecarga alostérica, que pode ou não se seguir de uma falha alostérica.

Algo como: estresse contínuo, vou me adaptando, adaptando, mas o estresse continua, uma hora isso sobrecarrega meus sistemas fisiológicos e algo acaba dando errado. Lembra do exemplo do carnaval ali em cima? Então, a primeira noite de folia beleza, acordamos razoavelmente bem no outro dia. Depois da segunda noite, com tudo que tem no carnaval e as poucas horas de sono, o corpo já senti um pouco mais. Ao final de quatro ou cinco dias nesse ritmo, seu corpo encontra-se totalmente cansado, sistema imune desregulado, aumenta drasticamente as chances de um resfriado ou doença.

Mas ok, estresse crônico parece mais fácil de enxergar, e os fatores psicológicos? Onde entram nessa conta? Observem a figura que criei para discutir o artigo em sala de aula:


Claro que eu vou explicar ela, calma, rs.

Na parte superior dela, vemos a resposta clássica ao estresse. Mudou alguma coisa no ambiente, acontece uma resposta fisiológica integrada em meu organismo, para conseguir manter o meio interno adequada para minhas células, tecidos e órgãos funcionarem bem. Biologia puríssima essa resposta, encontrada em diversas espécies, visando sempre a sobrevivência do organismo.

Notem que acrescentei dois fatores que podem levar a essas respostas fisiológicas de adaptação: os fatores Psicológicos, onde acrescentei o estresse mental, e o estresse crônico. Hoje, já sabemos claramente que ambos afetam a nossa fisiologia corporal, e a teoria da Alostase tenta englobar tudo isso.

Vamos citar um exemplo de cada um desses fatores novos. Psicológico é bem fácil, nessa altura da vida, você percebeu que quanto mais expectativa criamos em relação à alguma coisa ou à alguém, maior o estresse e os problemas gerados quando algo sai diferente do que tínhamos imaginado, certo? Um puta fator de estresse pro nosso corpo e mente.

E sobre o estresse crônico, gosto muito do efeito das comidas ultraprocessadas para explicar. Por que? Porque são carregadas de substâncias que agridem nosso estômago e intestino. Mas eles se recuperam. Ai comemos novamente, e assim seguimos, agressão atrás de agressão, muitas vezes por décadas. Qual o resultado? Problemas do trato gastrointestinal cada vez mais comuns e os cânceres nessa região crescendo assustadoramente todos os anos.

Ok, mas e as setas roxas da figura? Elas indicam que cada um desses fatores podem afetar o outro, inclusive somando forças para tirar nosso corpo do equilíbrio, 

Gente, quantas vezes vocês já ouviram falar de alguém que desenvolve gastrite (eu passei por isso), ou até uma úlcera "de nervoso"? Não é bem o nervoso que faz isso, mas é um exemplo claríssimo de como nossa mente acaba influenciando nosso corpo. 

As setas roxas servem para lembrarmos sempre da expressão: Mente sã em um corpo são. Não existe meio equilíbrio, se seu psicológico não está legal hoje, tudo bem. Mas se ele continua assim por dias, semanas e meses, vai causar alterações significativas no seu organismo, é inevitável. 

E o contrário também, ou alguma vez você ficou mais disposto mentalmente quando estava doente? Com mais vontade de estudar, de ler? Não, não ficou.

Precisa existir equilíbrio, físico, emocional, espiritual. Somos seres complexos, com diversas necessidades a serem atendidas para que tudo fique bem.

Por isso é tão importante, em meio a dias caóticos, encaixarmos um exercício físico, sair com os amigos e familiares, meditar, comer alimentos que ajudem e não atrapalhem nosso organismo, boas noites de sono. Não tem outro jeito, para render mais, para dar o meu máximo nas coisas que faço, corpo e mente precisam estar bem cuidados.

Imagina para dar aula, o tanto de ideias que preciso organizar para conseguir explicar alguns conceitos. Já notei diversas vezes que se exagero na comida ou como muita "bobeira" ao longo do dia, meu rendimento e minha capacidade de elaborar exemplos em sala de aula caem muito. Fantástico né?

Observem a definição de Alostase, feita por Sterling em 1988, sobre o papel do encéfalo:

"Encéfalo é o órgão central regulador da alostase, tanto na regulação de mecanismos periféricos, como naqueles que comandam os comportamentos nos níveis superiores e que aumentam a capacidade do organismo em responder de maneira eficiente às suas necessidades".

Ele complementa destacando a importância do processo de aprendizado nisso tudo, onde nosso cérebro forma memórias dos episódios, formando assim um arsenal de informações úteis para caso aquela situação se repita ou mesmo para enfrentar novas situações. Nossa memória está intimamente relacionada à nossa capacidade de sobreviver.

Para finalizar nossa discussão, um termo que achei fantástico, Plasticidade fenotípica. Resumidamente, é como nossas experiências e vivências nos moldam, de maneira que hoje, respondemos à mesma situação de maneira completamente diferente. 

Seria algo como a capacidade de enfrentamento diante das dificuldades, o que utilizamos muito hoje, a tal da Resiliência. 

Já perceberam que algumas pessoas levam pancada atrás de pancada da vida, mas continuam sorrindo e seguindo em frente, sobrevivendo muitas vezes? Enquanto outras pessoas sucumbem a estresses menores ou a episódios não tão dolorosos.

Pera, não tão dolorosos? Quem sou eu para definir isso? Pois é, o que sinto hoje, em determinada situação, é fruto da minha história, que me moldou como sou hoje. Por isso, não podemos julgar nada na vida de ninguém, porque de acordo com as lentes que a vida foi colocando em nossa visão, é a maneira única que enxergo e sinto o mundo a minha volta.

Bons estudos meu povo!

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